Eleições argentinas: entenda a ascensão de Massa e os desafios de Milei no segundo turno
Peronista aparecia atrás do libertário nas pesquisas, mas chegou à frente no primeiro turno
As eleições argentinas surpreenderam com a ascensão de Sergio Massa, um líder peronista que, apesar dos desafios econômicos do país, conquistou uma votação expressiva no primeiro turno. Ao mesmo tempo, o libertário Javier Milei, que liderava as pesquisas de intenção de voto, acabou em segundo lugar.
Ascensão de Massa e a surpresa nas pesquisas
Sergio Massa, candidato da coalizão União pela Pátria, conseguiu uma votação significativa, surpreendendo muitos analistas. Isso ocorreu mesmo com indicadores econômicos alarmantes, como uma inflação de quase 140% ao ano e uma taxa de pobreza superior a 40%. A campanha de Massa se destacou por uma série de fatores, incluindo alívios fiscais e bônus para melhorar a renda dos trabalhadores na reta final do processo eleitoral.
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"O que aconteceu na Argentina não foi uma recuperação importantíssima da situação, mas também um freio a uma onda da direita radicalizada, que parecia incontrolável", avaliou o acadêmico Sergio Morresi, da Universidade de Buenos Aires, à AFP.
Segundo Morresi, talvez o mais importante na virada de Massa se deu porque "na conversa pública foi deixada de lado a discussão econômica para se concentrar nas questões culturais, políticas e institucionais ou de capacidade de liderança".
Segundo o cientista político da Universidade Torcuato di Tella Juan Negri, "Massa fez uma excelente campanha e o partido o ajudou, os governadores se colocaram todos com ele".
Para o acadêmico, o peronista teve o voto do medo. "Houve um temor de um salto no vazio".
Milei e as novas alianças
Javier Milei, conhecido por seu estilo provocativo e suas críticas ao establishment, começou sua carreira política apenas dois anos antes das eleições. Mesmo liderando as pesquisas, ele não conseguiu conquistar o primeiro lugar. Vários erros de campanha, como ofensas ao Papa Francisco e propostas polêmicas, como a privatização dos oceanos, contribuíram para essa reviravolta.
Se Milei, que, no primeiro turno, acusou a conservadora Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar como candidata da coalizão Juntos pela Mudança, com 24% dos votos, de "pôr bombas em jardins da infância", agora ele acenou que pode mudar um pouco o tom. "Minha escolha é clara: tenho que abrir espaço a outras forças", confirmando a aproximação com o ex-presidente Mauricio Macri (2015-19), líder do Juntos pela Mudança.
No entanto, resta a incógnita se Milei já atingiu seu teto de apoio e se pode construir uma coalizão vitoriosa.
Peso da economia nas eleições
A economia é um fator crítico nas eleições argentinas. O país tem desafios econômicos significativos, incluindo um acordo de crédito de 44 bilhões de dólares (R$ 220 bilhões, na cotação atual) com o FMI. Sergio Massa enfrenta a pressão de reduzir o déficit fiscal. Se a situação econômica se deteriorar ainda mais nas próximas semanas, isso pode influenciar a corrida eleitoral.
Por outro lado, as propostas de Milei, que incluem cortes de gastos substanciais, também geram preocupações entre parte do eleitorado. Muitos argentinos dependem dos benefícios do governo para sua subsistência, e o desmantelamento do estado de bem-estar pode impactar negativamente essas pessoas. Dados oficiais apontam que mais de 4 milhões de pessoas, quase 10% da população, dependem da ajuda do governo para se alimentar.
"O que está em disputa é qual será o marco da próxima votação: se, como propõe Milei, 'continuidade versus mudança'; ou como propõe Massa, 'governo de unidade nacional versus salto no vazio'", disse Sergio Morresi
O segundo turno das eleições na Argentina será no dia 19 de novembro.
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