Armas, economia e fronteiras: a vida em Indiana, um estado majoritariamente republicano

Pesquisas momentâneas apontam para Donald Trump como provável vencedor da corrida

Gustavo Freitas, direto de Indiana
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A eleição presidencial nos Estados Unidos está marcada para o próximo dia 5 de novembro, e todas as pesquisas momentâneas apontam para Donald Trump como provável vencedor da corrida. O seu eleitor médio está distante das grandes cidades e profundamente engajado nas pautas do candidato republicano.

Na pacata cidade de Muncie, no estado de Indiana, o visual nas ruas e estradas é dominado por plantações de milho, feijão e placas de apoio a Donald Trump nas casas. O estado é abertamente conservador e poucas vezes elegeu presidentes democratas.

O histórico é ainda mais republicano que estados mais conhecidos, como o Texas. Desde 1912, Indiana votou apenas em quatro presidenciáveis do partido Democrata, o último foi Barack Obama em 2008. Em comparação, no mesmo período, o Texas optou por treze candidatos democratas.

Nas ruas espaçadas, típicas de cidades pequenas nos Estados Unidos, a McGalliard Guns&More é uma espécie de oásis conservador. A loja de armas tem clientes com boné do ex-presidente e venda de alvos com o rosto de Kim Jong Un. 

O dono da loja, John Evans, é um veterano de guerra do Iraque e fiel eleitor de Donald Trump. A sua principal queixa é sobre os rumos da economia e a incerteza sobre dias melhores. “Você já viu o preço da gasolina? Tudo está caro, eles dizem que a inflação está controlada mas parece que não vão aos supermercados.”, disse o veterano.

Entre críticas ferrenhas ao governo atual, o veterano destila teorias conspiratórias para dar ênfase à rejeição ao presidente: “eu acredito que existe um governo global governando nosso país e Joe Biden é apenas uma marionete. Ele nunca foi um político confiável, você sabia que a ex-esposa dele cometeu suicidio e ele culpou o caminhoneiro por isso? É um mentiroso”.

Em 1972, o recém eleito senador por Delaware, Joe Biden, perdeu a esposa Neilia e a filha caçula, Naomi, de 13 meses, em um trágico acidente de carro. Neilia dirigia seu Chevrolet branco numa estrada chamada Valley Road, voltando de uma viagem curta para pegar a árvore de Natal da família. Ao passar por um cruzamento, ela bateu com a lateral do carro na frente do caminhão dirigido por Curtis C. Dunn, de 43 anos, que estava voltando para casa, na Pensilvânia.

Sempre que possível, John Evans relembra o tempo de serviço no Iraque, fazendo paralelos com a política externa do governo Biden. “Nosso país precisa começar a cuidar da nossa própria grama e parar de se intrometer na vida dos outros. Nunca devíamos ter invadido o Iraque, não fazíamos ideia do que fazer lá. Assim como temos que parar de se meter nos problemas da Ucrânia ou vamos nos afogar mais uma vez”, completou.

image Rich Lee é morador de Indiana e membro do partido Republicano há décadas (Gustavo Freitas / Especial para O Liberal)

Rich Lee é um corretor de imóveis e membro do partido Republicano de Indiana há décadas, e também critica a política externa adotada pelo país: “nossos governantes se preocupam mais com a segurança dos outros do que a nossa. Você já viu a nossa fronteira? É uma bagunça, precisamos mudar a política de fronteiras abertas. Não sou contra imigrantes, nosso país foi fundado por imigrantes, mas é preciso encontrar um meio termo. Não podemos ser extremos de banir a entrada de todos, mas não podemos deixar qualquer um entrar aqui”.

Em Indiana, o partido Republicano domina todas as instâncias políticas regionais. Em 2020, mesmo derrotado nacionalmente, Donald Trump venceu no estado por 16% de diferença. Eric Halcomb, governador do Estado, venceu por 20% de diferença e tem maioria absoluta no legislativo.

No estado, a disputa momentânea não é mais sobre republicanos e democratas, e sim sobre o nível de conservadorismo entre os republicanos. O nome da vez é o pastor ultraconservador Micah Beckwith, que venceu as primárias para ser candidato a vice-governador pelo partido republicano.

Beckwith era mais conhecido por liderar uma campanha para limpar as prateleiras de livros para jovens na Biblioteca Pública de Hamilton East, onde foi membro do conselho até janeiro. Entre diversos autores removidos estava John Green, autor de “A culpa é das estrelas”, que segundo Beckwith, é impróprio para adolescentes.
 
A ascensão de Beckwith é o mais recente indicativo de um conflito que fragmenta o partido republicano nacionalmente, à medida que os ativistas republicanos exigem maior pureza e beligerância de seus líderes. Apoiadores fervorosos, inspirados por Trump e pelo movimento religioso que o considera divinamente escolhido, estão tomando o controle do partido de baixo para cima, causando preocupação entre os republicanos mais tradicionais que acreditavam poder aplacar o movimento Make America Great Again(MAGA) sem serem dominados por ele.

Em certos momentos, o movimento criado por Trump é mais forte do que ele mesmo. De última hora, o ex-presidente apoiou o deputado McGuire para o cargo, mas os delegados da convenção não aceitaram e apoiaram Beckwith. Muitos apoiadores entenderam que o endosso de Trump não era verdadeiro porque ele não conhece a corrida eleitoral para o cargo de vice-governador em Indiana.

O crescimento de Donald Trump fez com que seus seguidores passassem a acreditar que sabem mais do que ele, e acabam escolhendo candidatos de estilo similar, ainda que sem apoio oficial do ex-presidente.

image Melanie Wright é ex-deputada pelo partido Democrata e considera Trump um risco à democracia (Gustavo Freitas / Especial para O Liberal)

Melanie Wright foi deputada pelo partido Democrata em Indiana e conta que, muitas vezes, precisava convencer republicanos a conversar apenas de política local com ela para evitar conflitos ideológicos. 

Ao falar sobre a imigração, Melanie alega que “é preciso fazer uma reforma no sistema, mas não do jeito que muitos querem. As pessoas acreditam muito no que leem nas redes sociais e nem sempre é verdade. Eu acredito que se alguém está disposto a colocar a vida dos próprios filhos em risco para viver melhor no nosso país, então o governo precisa pensar no fator humanitário”, disse.

 A ex-deputada está fora da política, mas não deixa de se preocupar com o cenário nacional. Ela considera Donald Trump um risco à democracia por tudo o que fez no 6 de janeiro: “muitas pessoas perderam benefícios, perderam esposas, pararam de falar com seus filhos, foram presas e pagaram o preço por acreditar em mentiras. Enquanto isso, ele continua livre”, afirmou Melanie.

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