Alemanha prepara rearmamento histórico após distanciamento dos EUA

Rearmamento planejado é o maior desde a Segunda Guerra Mundial

Jastinder KHERA / AFP
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A Alemanha está se preparando para um rearmamento sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial com o provável futuro governo de Friedrich Merz, que planeja um forte aumento nos gastos com defesa para compensar o incipiente afastamento dos Estados Unidos da Europa.

Em meio às negociações para formar um governo após sua vitória nas eleições parlamentares há dez dias, o líder conservador da maior economia da Europa apresentou, na noite de terça-feira, o seu plano para aumentar os gastos militares em face do previsível enfraquecimento da segurança por parte de Washington.

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A aliança conservadora CDU/CSU conquistou de 28,5% a 29% dos votos, segundo as pesquisas divulgadas pelas televisões públicas ARD e ZDF.

Negociada com seus supostos parceiros social-democratas, a proposta contornaria o "freio da dívida" consagrado na Constituição e permitiria que a Alemanha gastasse pelo menos 100 bilhões de euros (quase US$ 107 bilhões ou R$ 608 bilhões na cotação atual) por ano. 

"Há momentos em que a história de um país dá uma virada inesperada", disse o jornal Zeit nesta quarta-feira (5). Os planos de Merz "podem ser um desses momentos", acrescentou. 

As negociações entre a aliança conservadora CDU/CSU e os social-democratas do SPD do chefe de governo em fim de mandato, Olaf Scholz, foram aceleradas diante dos rápidos acontecimentos sobre a questão ucraniana.

Os parceiros europeus da Alemanha, que se reunirão em uma cúpula sobre a Ucrânia e a defesa do bloco na quinta-feira, esperam há muito por um gesto firme de Berlim, peça fundamental da UE que, no entanto, estava ausente desde o colapso da coalizão de Scholz em novembro. 

Um atlantista convicto e anteriormente contrário ao financiamento de gastos públicos com dívidas, Merz mudou seu tom desde a noite da eleição, na qual pediu "capacidades de defesa europeias independentes" como uma possível alternativa à "Otan em seu estado atual". 

"Merz está expandindo a economia da Alemanha e assumindo a responsabilidade pela segurança da região", disse Kathleen Brooks, diretora de pesquisa da XTB. 

Se seu plano funcionar, poderá ser um "verdadeiro divisor de águas" e também "abandonar rapidamente o impasse político da Alemanha”, segundo Sebastian Dullien, diretor do instituto de pesquisa econômica IMK.

Além do forte aumento nos gastos militares, Merz anunciou a sua proposta de um fundo especial de 500 bilhões de euros (R$ 3 trilhões) para modernizar a infraestrutura alemã e ajudar a encerrar os dois anos de recessão.

O "dever" da Alemanha

O atual ministro da Defesa, Boris Pistorius, classificou os planos como "um dia histórico para o exército e para a Alemanha", um país que tem tido o cuidado de projetar uma imagem de poderio militar desde a capitulação do regime nazista.

O jornal Spiegel observou que o anúncio também se afasta da ortodoxia fiscal associada à CDU. "É bom que Merz esteja quebrando suas promessas de campanha", disse a publicação. 

Diante da possibilidade de os EUA se tornarem "abertamente hostis" em relação à Europa, a Alemanha "tem o dever, como país com a maior população e a economia mais forte do continente (...) de unir os europeus, liderá-los e incentivá-los a garantir sua própria segurança", acrescentou o veículo. 

Jacob Ross, do Conselho Alemão de Relações Exteriores, afirmou que a importância do anúncio de terça-feira "tem muito a ver com a psicologia e os sinais que tais anúncios enviam". 

Quanto aos valores que poderão ser gastos na prática, Ross disse à AFP que há muitas perguntas a serem respondidas. 

"Quem vai fabricar as armas necessárias? A Europa terá acesso às matérias-primas necessárias? O que acontecerá com a inflação quando quantias tão grandes forem injetadas na economia?", questiona.

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