Mulheres conquistam cada vez mais espaço no mundo gamer
De acordo com a Pesquisa Game Brasil de 2022, o público consumidor é 51% feminino
De acordo com a Pesquisa Game Brasil de 2022, o público consumidor é 51% feminino
Seja para se divertir, competir ou seguir uma carreira profissional, o mundo gamer e suas diversas modalidades crescem ano após ano. Embora esse cenário seja frequentemente associado ao universo masculino, as mulheres já representam a maioria do público consumidor de jogos digitais, constituindo 51%, segundo a Pesquisa Game Brasil de 2022. Em Belém, Paula Nunes, de 27 anos, aproveitou o período em casa durante a pandemia para transformar seu hobby de jogar online em profissão. Hoje, ela trabalha como streamer e influencer de games, criando conteúdo digital e realizando transmissões ao vivo na internet.
A streamer entrou no mundo dos jogos em 2014 quando ganhou seu primeiro notebook. Inicialmente, ela se divertia apenas com jogos de navegadores. Mas com o incentivo dos amigos, Paula passou a baixar jogos e testá-los, entre eles, League of Legends (LoL). "O que me atraiu foi a parte competitiva dele, de subir de ranking e melhorar cada vez mais, além da otimização dos bonecos. Foi uma grande parte da minha vida, meu primeiro e principal jogo durante quase seis anos", relembra.
Ela destaca que a paixão por competir impulsionou sua trajetória no mundo gamer. "Eu sempre amei competição, fui atleta de futsal na adolescência. Depois de 2018, comecei a participar dos campeonatos de LoL que rolavam em Belém. Recebi o convite de um amigo e foi uma experiência muito legal, a gente perdeu todas as partidas mas eu gostei muito, então continuei tentando. Desde então, mudei algumas vezes de time e ganhei alguns campeonatos, até mesmo um que foi no Maranhão", relata.
Atualmente, o jogo preferido da influencer de games é The Last of Us, no qual a protagonista Ellie enfrenta um um mundo pós-apocalíptico de forma forte e corajosa. "Ela tem uma história muito bonita de companheirismo e de luta contra alguns esteriótipos femininos", diz. Ainda, ela compartilha quais elementos não poderiam faltar, se algum dia, tiver a oportunidade de criar um jogo do zero: estilo plataforma e pixel art com puzzles, uma personagem principal feminina inspiradora e características da região norte.
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Com mais tempo livre em casa durante a pandemia e o incentivo dos amigos, Paula viu a oportunidade de ganhar dinheiro com lives de jogos online, pela plataforma Twitch. No entanto, ela não foi a única com essa ideia e enfrenta um meio cada vez mais competitivo.
"É uma área muito difícil de crescer, bem saturada, principalmente pós-pandemia onde muitos tiveram o mesmo pensamento que eu, é um tiro no escuro. Exige muita dedicação, pois tudo é muito volátil, além de talento, carisma e até mesmo sorte. Eu faço lives há quase quatro anos e com muito esforço tô conseguindo conquistar as coisas devagar, mas tenho muito orgulho de onde consegui chegar, principalmente sendo daqui do norte. Esse mundo ainda é muito centrado no sudeste, tanto que a grande maioria se muda para lá", compartilha.
Ela conta que o preconceito com mulheres no ramo de jogos de competição ainda é comum. "Se souberem que você é mulher é frequente receber xingamentos ou colocarem a culpa em você se algo der errado. Já aconteceu em um campeonato presencial de um menino gritar diretamente para mim, dizendo que era para eu jogar outra coisa e que eu era ruim. No final eu ganhei dele, mas ele quase me desestabilizou, porque nessa mesma época tentavam muito me desmerecer de estar ali".
A influencer enfatiza que apesar dos obstáculos, a comunidade também oferece união e inclusão, principalmente entre mulheres. "Em jogos interativos com públicos diversos sempre me divirto, consigo trocar ideia. Na maioria das vezes, a experiência tem sido muito positiva. Tenho várias amigas streamers e a gente sempre se apoia. Marcamos de jogar juntas ao vivo, sempre estamos enaltecendo o trabalho de cada uma. É muito bom esse sentimento, pois só nós mulheres sabemos exatamente como é ser mulher nesse meio", avalia.
O público feminino tem impactado fortemente o cenário gamer, desde consumidoras até streamers, é o que diz Paula. "Eu acho que as mulheres só têm a agregar, já é passado isso de que games é coisa de homem. Desempenhamos um papel muito importante nessa cultura de jogos mais inclusiva e respeitosa e isso vai moldando o jeito com que as empresas entregam os produtos, o marketing, as inovações e quebra de esteriótipos machistas", pondera.
No mundo da competição de jogos digitais, ela afirma que "hoje temos vários campeonatos femininos muito bons e representativos. As meninas jogam em alto nível, inspiram várias outras e é um ambiente seguro para nós. Eu acompanhava uns campeonatos femininos de Valorant, é um jogo FPS, e é muito incrível assistir mulheres boas competindo com sangue nos olhos, com paixão pela camisa".
Ela finaliza destacando a importância dos games em sua vida, no âmbito pessoal e profissional. "Começar a trabalhar com stream ajudou muito na minha timidez, apesar de ainda ser uma pessoa tímida, eu trabalho muito meu lado da comunicação. Os jogos me ajudaram a passar por momentos difíceis na minha vida, é uma paixão que é saudável para mim e um lado da minha personalidade que está mudando a minha vida".
A Arena Gamer Mangueirão, projeto do Governo do Estado, vai funcionar nas instalações do Estádio Olímpico do Pará - Jornalista Edgar Proença, de forma totalmente gratuita, atendendo diariamente jovens e adultos que buscam se tornar cyberatletas profissionais ou se especializar em áreas como livestreaming, e-sports caster e design multimídia.
"No Brasil, o universo de esportes eletrônicos já movimentou, só no ano de 2023, mais de R$ 12 bilhões. Isso destaca o nosso país como o maior mercado gamer da América Latina, e o Pará não podia ficar de fora. Temos a primeira Arena Gamer pública da região Norte, um espaço totalmente equipado e profissional, inserindo o Estado na rota dos eventos gamers", destaca Ana Paula Alves, secretária de Esporte e Lazer.
Ela finaliza ressaltando a importância do público feminino para compor o cena gamer local. "A ideia também é proporcionar programações especiais apresentadas por mulheres presentes no cenário gamer paraense, no intuito de incentivar cada vez mais a participação das jogadoras no âmbito competitivo".
O funcionamento será dividido em duas etapas, sendo a primeira voltada para a capacitação de novos instrutores e a segunda para agendamentos do espaço, que iniciarão a partir do dia 15 de julho, por meio do e-mail arenagamermangueirao@seel.pa.gov.br. Equipes poderão agendar o espaço para utilização por três horas e competidores que desejam utilizar de forma individual, será disponibilizado o tempo de uso de duas horas.
Eva Pires (estagiária sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)