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Coletor traz mais sustentabilidade, liberdade e autoconhecimento para mulheres no período menstrual

Especialista explica sobre a maneira correta e segura de usar o dispositivo que tem revolucionado a saúde íntima feminina

Eva Pires*

A menstruação ainda é um tabu na sociedade, inclusive entre mulheres. Quando se trata de métodos menos convencionais, como o coletor menstrual, as dúvidas e receios podem ser ainda maiores. A ginecologista Sanmari Ferreira, de Belém, orienta sobre o uso correto desse dispositivo, que tem revolucionado a saúde íntima feminina e conquistado cada vez mais adeptas por ser uma opção mais sustentável em comparação aos absorventes descartáveis. Além disso, ele proporciona maior liberdade nas atividades diárias e permite às mulheres conhecer mais sobre o próprio corpo e ciclo menstrual.

O que é o coletor menstrual e como deve ser usado?

O coletor menstrual é um dispositivo de silicone hipoalergênico e antibacteriano, que funciona como um recipiente onde a menstruação fica retida, conforme explica a médica. Para realizar a coleta, ele deve ser inserido na vagina, onde se ajusta por meio de pressão. Ao criar um vácuo contra as paredes vaginais, o dispositivo impede que o sangue escape.

Uma preocupação frequente entre as mulheres é como inserir o coletor menstrual de maneira correta e garantir que ele fique bem posicionado. A ginecologista explica que existem várias técnicas de inserção, todas envolvendo algum tipo de dobradura que permita posicioná-lo próximo ao colo do útero, para que funcione de forma eficaz. Durante a retirada, é importante que o vácuo seja retirado antes do coletor ser puxado para evitar desconfortos. Ela também destaca que a melhor maneira de manuseá-lo pode ser discutida em consulta médica, garantindo que a paciente se sinta mais segura e confortável.

"Os maiores desconfortos que ocorrem pelo uso de dispositivos no canal vaginal estão relacionados principalmente ao tabu da manipulação da região da vulva e da vagina, além do tabu com o contato do sangue menstrual. É algo cultural que estamos mudando gradativamente. É importante que a mulher conheça o próprio corpo para que o uso seja confortável", avalia Sanmari Ferreira.

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Como higienizar o coletor?

Com uma capacidade quase quatro vezes maior que a dos absorventes descartáveis, o coletor menstrual pode ser utilizado por até 12 horas. Para a limpeza e manutenção, é recomendado lavar com sabão neutro e esterilizar em água fervente ou no micro-ondas, usando acessórios próprios, como panelas ou cápsulas esterilizadoras, antes e após cada ciclo. Durante o ciclo, não é necessário esterilizar o coletor entre os usos, basta lavá-lo com água.

Devido à sua alta capacidade, é improvável que o coletor precise ser esvaziado em banheiros públicos. Mas caso seja necessário, basta lavar bem as mãos, remover o coletor como de costume, lavá-lo com uma garrafa de água ou limpá-lo com papel higiênico, e em seguida, recolocá-lo. Lenços umedecidos também podem ser utilizados, desde que sejam neutros, pois aqueles com perfume podem alterar o pH vaginal. Após o período menstrual, ele deve ser armazenado em uma bolsinha respirável, de preferência de algodão.

A especialista alerta para os riscos de usar o coletor menstrual por mais de 12 horas sem esvaziá-lo, o que pode acontecer quando a usuária esquece que está utilizando o dispositivo. Isso pode aumentar o risco de infecções bacterianas, semelhante ao perigo apresentado pelo uso prolongado de absorventes internos.

Como escolher a melhor opção?

Uma dúvida comum é sobre como escolher o tipo e o tamanho ideal do dispositivo e se ele é recomendado para todas as idades e tipos de corpos. A médica explica que há variações de tamanho e a escolha deve ser baseada no fluxo menstrual e nas características do canal vaginal. Por exemplo, uma jovem pode preferir um coletor menor, enquanto alguém que já teve filhos pode precisar de um tamanho maior. Pacientes que nunca tiveram relações sexuais podem encontrar mais dificuldades na manipulação e inserção no canal vaginal, sendo essencial uma avaliação médica para garantir um uso seguro e evitar o rompimento do hímen.

Outro método reutilizável e sustentável, menos conhecido que o coletor, é o disco menstrual. Embora tenham semelhanças, a principal diferença é que o coletor se posiciona na entrada do canal vaginal, enquanto o disco se encaixa ao redor do colo do útero. O coletor é mais alongado e possui uma ponta para facilitar a remoção, enquanto o disco tem fundo arredondado. Em termos de capacidade, discos menstruais podem suportar até o dobro do volume de sangue em comparação com coletores grandes, que comportam cerca de 15 ml. Além disso, o disco permite que a usuária tenha relações sexuais durante a menstruação sem que haja contato do sangue com o parceiro.

Coletor oferece maior sustentabilidade e liberdade à mulheres

O uso de coletores menstruais tem um impacto ambiental significativamente menor em comparação aos produtos descartáveis, pois reduz a quantidade de resíduos que demoram mais para se decompor na natureza. O plástico, 90% da matéria-prima do absorvente, demora cerca de 400 anos para se decompor, sendo que, durante um ciclo menstrual, uma mulher pode descartar de 8 a 16 absorventes. Em contrapartida, um coletor menstrual pode ser utilizado por até 10 anos, precisando ser substituído apenas se começar a causar desconforto durante a inserção.

Quando se trata de atividades que costumam ser evitadas durante o ciclo menstrual, como exercícios físicos e nadar em piscinas ou no mar, o coletor menstrual oferece uma maior liberdade para as mulheres. Muitas usuárias relatam nem perceber que estão usando o dispositivo.

"Acho que liberdade é a palavra-chave. Ter acesso a um método seguro e confortável durante o ciclo que permita fazer as mesmas atividades que você faz quando não está menstruada. No caso do disco, até mesmo as relações sexuais são permitidas. A mulher hoje não quer e nem deve ser limitada a realizar suas atividades habituais por algo tão corriqueiro como o ciclo menstrual", reflete a ginecologista.

Advogada de Belém diz que coletor proporcionou autoconhecimento

image Sophia Jares, 36 anos, usuária do coletor menstrual (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

A advogada Sophia Jares, 36 anos, de Belém, usa o coletor menstrual desde 2018. Motivada inicialmente por ser uma opção mais sustentável, ela relata que com o passar do tempo, a experiência transformou a forma que ela encara o período menstrual, além de ter proporcionado autoconhecimento.

"Com o uso contínuo acabamos conhecendo nosso período menstrual, a quantidade de sangue e o tempo adequado para que sejam feitos os esvaziamentos e manutenções. Isso me ajuda muito a ajustar minha rotina, principalmente no que faço fora de casa. Também me sinto mais livre no meu ciclo e posso, por exemplo, praticar esportes tranquilamente, por ele não incomodar ou abafar, deixando com que a gente 'respire', e ainda evita infecções", enfatiza.

Ela menciona que teve dificuldade no início para encontrar a maneira correta de inserir o coletor no canal vaginal, mas com o uso contínuo e a prática, esse desafio foi superado. Entre as vantagens, a advogada destaca que o dispositivo não exala um cheiro forte, nem desagradável, o que acontece com absorventes descartáveis pelo contato do sangue com os componentes químicos.

Sophia finaliza encorajando outras mulheres a testarem o método: "O uso do coletor, além de ser benéfico para a saúde da mulher, ainda é uma super forma de autoconhecimento. Testem! Pode parecer difícil e estranho no começo, mas não desistam que melhora! Para mim, coletor é liberdade!".

*(estagiária sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)

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