Janeiro Branco: treinador e atleta falam da importância da saúde mental nas artes marciais

Esportes de combate também são grandes aliados para o equilíbrio emocional

Aila Beatriz Inete
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Há 26 anos, o carateca Paulo Igor, faixa preta e 4º Dan, se dedica ao esporte de combate. Hoje, com 29 anos, o atleta e treinador da arte marcial reconhece a importância de trabalhar a saúde mental na modalidade, não só para competições, mas também para o bem-estar no dia a dia.

Desde 2024, no Brasil, é celebrado o Janeiro Branco, mês de conscientização sobre a saúde mental e emocional. No universo das artes marciais, o tema tem ganhado mais espaço e está cada vez mais presente na rotina dos atletas. 

"As artes marciais são grandes aliadas na saúde mental e no seu desenvolvimento porque trabalham a disciplina, o controle emocional, a autoconfiança, não só para atletas, mas também para pessoas comuns. Funcionam como um alívio para o estresse, para o bem-estar e fortalecem a mentalidade", destacou o 4º Dan.

Paulo tem uma longa história com o caratê. Além de ser treinador, o paraense é atleta ativo da modalidade. Nas competições, o faixa preta começou com apenas cinco anos. Na carreira, o carateca acumula inúmeros títulos, como o hepta no Campeonato Paraense, tetra no Brasileiro e Pernambucano, além de campeão mundial.

A longa experiência e estudo sobre o esporte permitiram que o Sensei conseguisse entender os pontos de equilíbrio entre a excelência na técnica e o emocional, que, segundo ele, é um dos maiores desafios, já que os atletas estão sempre se levando ao limite, o que pode gerar ansiedade.

"A saúde mental é essencial nos esportes de combate. Hoje nós temos falado mais sobre isso, antigamente não se falava tanto. Mas um atleta emocionalmente equilibrado consegue ter maior foco, ter mais resiliência, controle durante as lutas e também, quando está com problemas emocionais, pode comprometer muito o desempenho dele, podendo até aumentar o risco de lesões", apontou.

Nesse sentido, o treinador tem um papel fundamental, pois, especialmente em artes marciais, eles são espelhos para os atletas. "Eu acho que é um dos papéis fundamentais do Sensei, porque ele cria um vínculo com seus alunos e eu sempre tento ajudar os meus atletas a desenvolver a resiliência, que é muito importante, por meio de conversas, exercícios que estimulam a concentração e também simulações da competição, porque a gente cria um ambiente em que eles sentem que podem crescer sem aquele medo de errar", disse. 

image Paulo Igor, sensei e atleta. (Arquivo pessoal)

Paulo já tem mais de duas décadas de experiência e contato com a modalidade, o que lhe permitiu entender todos os aspectos das artes marciais. Porém, do outro lado, como treinador, ele também lida com jovens atletas, aspirantes no esporte. Uma delas é a jovem Valentina Medeiros, de apenas 14 anos, que começou a treinar com apenas cinco anos e se apaixonou pela modalidade.

Na rotina diária, Valentina tem que conciliar os treinamentos com os estudos e outros desafios individuais e nem sempre é fácil. Mas, segundo ela, os treinos acabam sendo um momento de relaxamento, em que ela consegue tirar a pressão da mente.

"Tem muitos momentos em que eu preciso focar no meu estudo, então, quando eu vou para o treino, mesmo estando cansada do meu dia, eu volto [para casa] totalmente descansada. Mesmo sendo um esporte de combate, eu volto melhor, um pouco mais leve. Isso ajuda a me distrair", destacou.

A jovem carateca se identificou com o esporte e, além de praticar, Valentina também foi para as competições. Em cerca de 10 anos, a atleta é octacampeã paraense, hexacampeã brasileira, bicampeã Pan-americana e bicampeã mundial. Em 2024 participou, como convidada, do Campeonato Intercontinental Wratislavia World Cup, na Polônia, e sagrou-se campeã no Kumite individual e foi medalhista de prata na modalidade Kata.  Em novembro, foi vice no Campeonato Mundial de Karatê-do Tradicional, em Lima, no Peru. 

Mesmo ainda muito jovem, Valentina já tem ciência da importância da saúde mental. Com a modalidade, a carateca aprendeu a ter resiliência, o que a ajuda a lidar com derrotas e nas questões do dia a dia, bem como a se concentrar e focar em outras atividades.

"Desde que comecei a praticar o caratê, eu passei a ter mais confiança em mim, no meu potencial, porque eu acho que sem essa confiança eu não conseguiria ser quem sou hoje dentro do esporte. Então, de fato, eu percebi uma diferença na minha autoestima. O caratê me ajudou a socializar com as pessoas, porque quando eu era menor, era muito tímida, e o caratê me ajudou nisso. Hoje eu tenho contato com pessoas de outros estados e países. Então, os esportes de combate em geral possibilitam o desenvolvimento social, autoconfiança e outros aspectos", ressaltou Valentina.

Paula Medeiros, mãe da carateca, comentou o quanto considera importante falar sobre a saúde mental no esporte e nos benefícios dele. Grande apoiadora da filha, a mãe contou que Valentina desenvolveu uma grande paixão pela modalidade e relembrou que, mesmo durante a pandemia, Valentina não parou de treinar, e a prática do caratê fez toda a diferença para ela naquele momento.

"Isso foi fundamental, fez muito bem para ela e para ele [treinador], porque, enquanto a gente via as crianças reclamando de tédio e desânimo, a Valentina já estava pensando no mundial que viria quando a pandemia acabasse. Então, isso me deu um suporte muito grande, porque ficamos todos presos, e ela continuou", contou a mãe, que manifestou o desejo de a filha seguir no esporte, que só traz benefícios para sua vida.

Mesmo que as modalidades de combate ainda carreguem a ideia de força e resistência a falar sobre o lado emocional, Paulo Igor acredita que essa é uma nova geração, e esse estigma está mudando.

"Com certeza, tem diminuído o estigma em relação à saúde mental nas artes marciais, porque hoje a gente percebe que os atletas já falam mais sobre as emoções com o sensei, pais, amigos, e isso é um grande avanço. Antes, falar sobre as emoções era demonstrar vulnerabilidade, mas hoje a gente percebe que quem não fala sobre isso acaba sendo prejudicado no seu próprio desempenho", concluiu.

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