Racismo no futebol: Ex-zagueiro da dupla Re-Pa foi vítima e diz: 'Me chamaram de macaco' Mestre em antropologia comenta manifestações de clube e diz que combate passa por uma verdadeira ação conjunta Nilson Cortinhas 06.04.25 8h50 Zagueiro Yan já passou por Remo e Paysandu (Arquivo pessoal) Os frequentes casos de racismo no futebol levam a uma reflexão quase que imediata, após a perplexidade: em que momento os infratores acreditam que há uma espécie de proteção, no mundo do esporte, para o cometimento de crimes? Não é factível imaginar outra razão. Se não, vejamos os episódios mais recentes. A coincidência entre eles está amparada no cenário: campeonatos que geram menor repercussão e que, por essa razão, tornam-se espécies de anteparos para episódios de retrocesso civilizatório. No Paraguai, pela Taça Conmebol Libertadores sub-20, um jogador do Palmeiras chorou em entrevista. Antes, Luighi, de 18 anos, observou um torcedor fazendo gestos imitando macaco na arquibancada. Apenas um mês depois, durante uma partida entre Internacional e Sport, em Porto Alegre, pelo Campeonato Brasileiro Feminino, mais um triste caso. Uma banana foi arremessada em direção ao banco de reservas do clube nordestino. O Inter informou que uma jogadora das categorias de base foi responsável pelo ato criminoso e teve o contrato rescindido. Em Belém, o Parazão da pelada reúne jogadores e ex-jogadores profissionais. Yan é um deles. Zagueiro, de 30 anos, já teve passagens por Remo e Paysandu. Hoje, usa os jogos de futebol amador para complementar a renda. A disposição e o amor pelo esporte sofreram, porém, um golpe baixo. “Um torcedor chegou primeiro e gritou assim: vai cortar esse teu cabelo”. Como Luighi, Yan resolveu confrontar os criminosos que seguiram infringido regras diante da certeza da impunidade. “Fui lá e tirei satisfação. Ele chamou meu cabelo de duro e feio, não sei o que mais, que eu tinha que cortar. Falei com o árbitro, ele chamou os organizadores do campeonato e falou que, se continuasse ele ia terminar com o jogo”, relatou. Zagueiro Yan surgiu na base do Remo e também atuou pelo Paysandu (Marcelo Seabra / Arquivo OLiberal) Mas, a ação da autoridade do jogo de nada serviu. “Quando fui cobrar um pênalti, os torcedores do Flamenguinho do Jurunas começaram a imitar macaco e gritaram: “seu macaco, você vai perder o gol” Quando eu fiz o gol, fiz o símbolo contra o racismo”, disse Yan. Mestre em antropologia A reportagem conversou com Thales Vieira, mestre em antropologia e codiretor do Observatório da Branquitude, para tentar explicar a razão da certeza da impunidade e porquê os casos se somam numa velocidade impressionante, apesar das campanhas e das ações de instituições contra o racismo. Para ele, há várias certezas que dificultam o combate ao crime no esporte. Entre elas, a ausência de uma ação coletiva, com clubes e jogadores de sucesso mundial. Além disso, a politicagem atrapalha, assim como a negligência de uma elite branca que não coloca o assunto em pauta. Na conversa, a declaração racista de Alejandro Domínguez de que Libertadores sem clubes brasileiros é "Tarzan sem Chita” foi tratada como uma ofensa "inadmissível" e que, lamentavelmente, ampara ações criminosas pelo mundo afora do esporte. O Liberal - De que forma o futebol acaba gerando um ambiente propício para a propagação de palavras e atitudes racistas e criminosas? A torcida de futebol sempre quer incentivar seu time e desestabilizar o adversário, o que não significa que esse ambiente propicie manifestações racistas. Somente o que induz manifestações de racismo é a presença de racistas. Portanto, não há nada interno ao ambiente do futebol que facilite que o racismo ocorra. Nem mesmo a diluição do indivíduo perante a multidão é, em si um facilitador, haja vista a quantidade de câmeras e a facilidade de se captar autoria desses atos. O racismo é o modus operandi de racistas, tão simples quanto isso. Para racistas, a raça é um elemento organizador dos gradientes de hierarquia da humanidade. Eles se consideram superiores e precisam do ato racista para desumanizar o negro como forma de afirmação da própria identidade considerada superior. Aqui ainda há um elemento interessante que é a característica do indivíduo branco racista da América latina, uma identidade que já nasceu com graus de degradação, pois ele mora na pretensa superioridade do branco europeu, ao passo que jamais o será. Portanto, ele almeja aquilo que ele nunca será, por isso é uma identidade degradada que julga necessário afirmar a interiorização do outro para se aproximar daquilo que ele jamais será. O Liberal: Como combater essas ações no futebol? Campanhas têm essa força para combater ou precisam estar alinhadas a punições ou um ajuste na própria sociedade? As campanhas são necessárias e eficazes desde que não sejam placebos ou mera publicidade. É o forte compromisso das instituições que pode mudar esse jogo. Um exemplo importante da falta de compromisso das Confederações com o tema, é que a multa pelo atraso de um minuto do retorno para o segundo tempo das partidas é maior que a multa pelos atos racistas. Não é função da CONMEBOL ou da CBF acabar com o racismo em sociedades fortemente enraizadas pela racialidade, entretanto se esse tipo de coisa acontece em suas competições, a responsabilidade passa a ser delas. O Liberal: O que está embutido na fala do presidente da Conmebol? O quanto foi desnecessário? E o quanto a mobilização de jogadores e clubes foram, de fato, relevantes? A fala do Alejandro Dominguez foi racista com baixo espaço para outro tipo de interpretação. A mobilização dos clubes brasileiros é importante, mas muito longe de ser efetiva, pois, esses mesmos clubes têm pouco compromisso com o combate ao racismo. Qual presidente de clube da série A é uma pessoa negra? Só há um técnico negro na Série A do campeonato brasileiro. É muito difícil imaginar que virá qualquer tipo de solução de pessoas brancas ocupando esses espaços de poder. O Liberal: Avalie a ação do Flamengo de não assinar um manifesto antirracista, que surgiu entre os clubes, após esse episódio. Como torcedor do clube fico muito triste, mas não surpreso. O clube mais popular do país que de forma racista é chamado de Urubu - símbolo que a torcida adorou invertendo esse jogo - e de mulambo, deveria ser o primeiro a se posicionar fortemente nessa temática. Quando afirmo que não surpreende esse posicionamento do Flamengo, o faço com lamento, mas com o entendimento de que quem comanda o clube pertence a uma elite branca incapaz de compreender o enraizamento da racialidade na sociedade brasileira pois detentora de todos os privilégios, não suporta a diversidade como um valor positivo. Se a torcida é popular, a diretoria é elitista e prova isso a cada momento. O Liberal: E a postura da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, de bater o pé e exigir ações mais rígidas da Conmebol? Punir os clubes é necessário? É importante não sermos ingênuos com relação a postura da presidenta Leila, no sentido de compreender que há disputas políticas colocadas na mesa que envolvem clubes, federações, confederações e espaços de poder. À despeito disso, o seu posicionamento firme condiz com a posição que ocupa e se destaca no deserto de atitudes dos homens que comandam o futebol no Brasil. O Liberal: Vocês têm dados ou informações sobre o racismo no futebol? Torcedores estão sendo observados com mais frequência. E com relação ao racismo praticado dentro de campo. Há algo que se possa fazer para ser mais efetivo? É importante um pacto de tolerância zero com o racismo no futebol. Dentro de campo é possível estabelecer protocolos rígidos de controle desse tipo de situação. O jogo em si permite que se crie regras para inibir que atos racistas aconteçam dentro das quatro linhas. Um ponto muito importante a ser tratado é sobre o compromisso de atletas brancos com esse tema. Não é mais tolerável que apenas as vítimas que já estão desestabilizadas tenham que tomar atitudes quando acontecem atos racistas. Se o Vinícius Junior sofre racismo em campos europeus, porque jogadores de renome internacional e experientes como Modric, Courtouis e Carvajal não se posicionam no sentido de proteger seu companheiro de equipe? O que Messi e Cristiano Ronaldo enquanto jogadores geracionais pensam sobre o tema? Por que apenas atletas negros precisam estar em dia com esse tema se é um problema de toda sociedade? Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave esportes racismo racismo no futebol zagueiro yan remo remo paysandu paysandu COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Futebol . Desculpe pela interrupção. 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