Pra quem respira o futebol feminino, a desclassificação na Copa do Mundo escancara falta de apoio

Países com tradição muito menor avançaram no torneio global, enquanto o Brasil sai na primeira fase; no Pará são poucos os clubes que recebem apoio para fomentar o esporte

Luiz Guilherme Ramos

A participação da Seleção Brasileira feminina na Copa do Mundo de 2023 não foi das melhores. Mas apesar da desclassificação amarga, ainda na primeira fase, as lições do maior torneio de seleções do mundo são valiosas e refletem diretamente na forma como o futebol feminino é pensado, ao menos na opinião de quem respira diariamente a modalidade.

E hoje em dia não são poucas as mulheres que almejam uma carreira futebolística. De um estado sem tradição e sem torneios, o Pará viu o futebol feminino crescer nos últimos anos, graças ao empenho de alguns clubes e a dedicação de profissionais como a preparadora física Cássia Gouvêa.

image Depois de uma passagem bem sucedida pela Esmac, a preparadora física Cássia Gouvêa foi para o Remo. (Carmem Helena / O Liberal)

Aos 25 anos, ela acumula grandes trabalhos na Esmac e agora no Clube do Remo. Só de títulos paraenses foram quatro (2018, 2019, 2020 com a Esmac e 2022 com o Remo). Iniciou sua jornada no futebol ainda nas categorias de base da Tuna, até transferir-se para o clube de Ananindeua, que, em 2022, esteve na elite do futebol feminino. Para ela, o esporte vive uma crescente e a Copa do Mundo mostrou a necessidade de seguir investindo.

"Desde a Copa do Mundo de 2019, com aumento da mídia em cima da modalidade, pudemos ver uma mudança no olhar das pessoas pro futebol feminino. Muitas meninas viram o futebol como uma possibilidade, coisa que antes não viam. As federações começaram a dar um olhar maior, vimos um aumento de times disputando o campeonato nos últimos tempos e creio que isso vai aumentar ainda mais depois dessa copa, que quebrou vários recordes de público e audiência", avalia.

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E embora o time tenha perdido precocemente, a preparadora prefere enxergar a saída pela forma positiva, se comparado a outras seleções com maior investimento e incentivo. "Isso reflete muita coisa, mas não é uma sentença. O investimento que o Brasil tem feito vai refletir muito mais nas gerações futuras, não conseguimos ver o tamanho do reflexo do investimento recente porque é algo a longo prazo. O mundo investe há mais tempo, então é natural que já colha frutos", explica, sobretudo em relação à Espanha e Inglaterra, que decidem o título neste sábado.

"A Espanha vem investindo na base há muito tempo, vem chegando em finais de mundial Sub-17 e Sub-20, isso é reflexo. A Inglaterra é a atual campeã europeia, um continente que investe muito na modalidade. O futebol sul-americano, tanto a nível de clubes, quanto de seleções, ainda caminha a passos de formiga, isso conta muito. Temos talentos, mas nem tanta oportunidade de crescer aqui. Por isso, vemos até os EUA buscando atletas aqui... Algumas podem ceder e acabar se naturalizando", adverte.

"Investir em base é primordial, bem como aumentar a quantidade de jogos no campeonato adulto" - Cássia Gouvêa, preparadora física. 

Por outro lado, ela avalia que o crescimento do futebol feminino não pode ser alcançado somente com investimento nos clubes, faltando também a contribuição do poder público. "Este ano tivemos o Campeonato Sub-17 e Sub-20, com poucos clubes, mas tivemos. Consolidando este tipo de competição, podemos começar a atingir mais clubes. Investir em base é primordial, bem como aumentar a quantidade de jogos no campeonato adulto", acredita.

E talentos não faltam. Com a exposição diária dos jogos da Copa do Mundo, tem sido possível assistir belas partidas, que exercem uma influência e tanto na própria sociedade. "Nunca vi tanta menina jogando bola na rua e nunca vi tanta procura pra fazer teste em clube. A mentalidade está mudando e elas veem agora o futebol como uma opção. O mercado ainda precisa de mais força. Acabamos tendo uma média alta de idade na maioria dos clubes", diz.

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Enquanto a Copa do Mundo encerra neste domingo, às 7 da manhã, na final entre Espanha e Inglaterra, a preparadora tem muito trabalho com o time feminino do Clube do Remo, que já foi campeão paraense deste ano e garantiu vaga no Campeonato Brasileiro A2, equivalente à segunda divisão masculina.

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