O dia em que Ageu Sabiá botou na 'roda de carimbó' a Seleção da Bulgária de Stoichkov em Belém
Em um amistoso improvável, o Mangueirão recebeu a Seleção da Bulgária, em um jogo de afronta à CBF
Com 42 anos de fundação, o estádio Mangueirão, em Belém, possui muitas histórias. O futebol paraense viveu grandes momentos no Colosso do Bengui, porém, antes da Seleção Brasileira atuar no estádio, outras duas Seleções, já haviam jogado no “Bandolão”. O Uruguai em 1978 e a da Bugária, em 1990, com o craque Stoichkov, que foi a primeira e única seleção europeia a jogar no Mangueirão, segundo o historiador do futebol paraense Jorge Neves.
Os europeus estiveram em Belém, após o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, ter preterido a capital paraense, após dizer que a Seleção Brasileira jogaria amistosamente no Mangueirão contra a Romênia. Jornais da época colocavam Belém como favorita a receber jogo do escrete canarinho, já que era mais lucrativo do que atuar nos centros como Rio de Janeiro e São Paulo, além de ser um compromisso de campanha do próprio Ricardo Teixeira.
O jogo seria contra a Romênia e acabou sendo disputado na cidade de Londrina (PR). Isso não caiu muito bem na FPF, que decidiu, com então presidente Euclides Freitas Filho, trazer a Seleção da Bulgária ao Pará, já que ela estava no país para encarar o Brasil. Então o jogo foi marcado para o dia 7 de maio, no Mangueirão.
Foram disponibilizados 40 mil bilhetes para a partida entre Bulgária x Seleção Paraense, mas pouco mais de 7 mil pessoas pagaram ingresso. A federação esperava mais de 3 milhões em arrecadação, porém a FPF ficou no prejuízo de quase Cr$ 1 milhão de cruzeiros, que posteriormente foi arcado pelo governo do estado, que participou na logística do evento.
TORCIDA NA BRONCA
O torcedor paraense que compareceu ao estádio não gostou nada do que ocorreu no cerimonial, com ausência da bandeira do Estado do Pará, além da equipe jogar com a camisa da Seleção Brasileira.
Dentro de campo os búlgaros tiveram pela frente craques paraenses como os jogadores Belterra, Chico Monte Alegre, Rogerinho Gameleira, Mazinho, Edil e Ageu. A partida terminou empatada em 1 a 1, com os gols saindo no segundo tempo. O jogador Kostadinov marcou para a Bulgária e Mazinho empatou para o selecionado paraense.
BOAS LEMBRANÇAS
A equipe de OLiberal conversou com o ex-jogador Ageu Sabiá, que esteve em campo contra os búlgaros e relembrou um fato curioso. Acima do peso, mas rápido, Ageu tinha como característica dribles e arrancadas e ele “colocou na roda” os europeus.
“Foi um jogo muito esperado por se tratar de uma seleção da Europa. Tínhamos um time muito bom e lembro que eu arranquei e driblei uns cinco jogadores deles, cheguei na frente do gol, voltei e driblei mais uns três e não fiz o gol, coloquei eles na roda de carimbo. Muitos me perguntam os motivos de não ter chutado, mas respondi e respondo até hoje que o drible é mais bonito que o gol”, disse.
PAYSANDU, REMO E TUNA
Hoje com 52 anos, Ageu Sabiá é assessor parlamentar e mora na Cidade Nova, em Ananindeua e possui orgulho de ter vestido a camisa dos três maiores clubes do Pará.
“Eu fui convocado para jogar pela Seleção Paraense quando atuava pela Tuna. O ex-presidente do Paysandu, Miguel Pinho, reclamou em uma rádio do gol que eu deixei de fazer contra a Bulgária e disse com essas palavras: ‘Se esse jogador fosse do meu clube, eu iria demitir ele depois do jogo. Ele preferiu driblar que ganhar a partida’. Depois de alguns mês Seu Miguel foi e me contratou para jogar no Papão. São lembranças marcantes, de uma época em que o futebol era gostoso, defendíamos as cores dos clubes por amor. Fiz história na Tuna, no Paysandu e no Remo e isso ninguém apaga”, falou.
SOBERBA
O fato de atuar na Europa, fez com que os atletas da Bulgária fossem soberbos com a Seleção Paraense, mas dentro de campo as coisas foram diferentes, conta Ageu, que se divertiu com as dificuldades dos estrangeiros.
“Eles chegaram a cidade como astros, muitos torcedores comentavam. No campo eles batiam demais, mas equilibramos a partida jogando futebol. Eles imaginavam que iriam nos golear, mas no final quase vencemos, pois criamos boas chances. O que a Seleção da Bulgária mais queria era o fim do jogo, mesmo eles sendo uma equipe jovem, cansaram com o calor de Belém”, contou
QUATRO ANOS DEPOIS...
A Seleção da Bulgária, na Copa de 1994, venceu a Argentina, Grécia, México e Alemanha. A equipe acabou perdendo para Itália na semifinal. Na decisão do terceiro lugar, derrota para Suécia. A 4ª colocação é a melhor campanha da Bulgária na história das Copas. Neste mesmo Mundial, o atacante Stoichkov, que esteve em Belém, foi o artilheiro da competição com seis gols.
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