Em protesto, atletas do Irã pedem que a FIFA exclua o país da Copa do Mundo do Qatar
Um grupo de atletas diz que a Federação de Futebol Iraniana apoia a opressão e o afastamento das mulheres do universo esportivo
Atletas iranianos se reuniram e enviaram uma carta à FIFA (Federação Internacional de Futebol) em que pedem a exclusão do Irã da Copa do Mundo de 2022, que será no Qatar. O documento é assinado pelo advogado esportivo Juan Dios Crespo. O pedido alega que a Federação Iraniana de Futebol corrobora com a opressão e o afastamento das mulheres do esporte.
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“A brutalidade e a beligerância do Irã em relação a seu próprio povo chegou a um ponto de inflexão, exigindo uma desassociação inequívoca e firme do mundo do futebol e do esporte. A abstinência histórica da Fifa em relação aos conflitos políticos tem sido muitas vezes tolerada apenas quando essas situações não se encontram na esfera do futebol”, diz um trecho da carta.
O maior ídolo do futebol do Irã, Ali Dael, é um dos atletas que apoia o pedido e tem sofrido com isso. O ex-jogador teve o passaporte apreendido ao voltar de uma viagem da Turquia.
Uma das principais alegações do grupo de atletas é a questão das mulheres no país. Segundo eles, a federação está de acordo e impondo diretrizes governamentais, o que não se alinha com o princípio de ser uma organização livre de qualquer influência.
“A situação das mulheres no Irã é profundamente desagradável no quadro político e socioeconômico mais amplo. Tragicamente, os mesmos males e injustiças são perpetuados dentro da esfera do futebol, significando efetivamente que o futebol, que deveria ser um lugar seguro para todos, não é um espaço seguro para as mulheres ou mesmo para os homens. As mulheres têm sido constantemente negadas a ter acesso a estádios em todo o país e sistematicamente excluídas do ecossistema do futebol no Irã, o que contrasta fortemente com os valores e estatutos da Fifa", escrevem os atletas.
Esta não é a primeira vez que a Fifa recebe um pedido de exclusão do Irã da Copa. Em setembro, o grupo ativista de direitos humanos Open Stadiums pediu que o país não participasse do torneio mundial porque não estavam confiantes de que as mulheres poderiam frequentar estádios após a disputa no Qatar.
Após muita pressão, o Irã havia permitido a entrada de torcedoras nos estádios em 2018. No entanto, no início deste ano, o país voltou a proibir que mulheres assistirem aos jogos nas arenas.
Neste momento, o país está sob forte tensão e protestos. Várias pessoas foram às ruas protestar após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, que foi presa pela polícia local por descumprir o código de vestimenta, que exige cobrir o cabelo com véu. A população acredita que a Amini foi morta pelo estado, mas o governo disse que a morte foi causada por uma doença cerebral.
“A FIFA deve escolher um lado. A neutralidade da FIFA não é uma opção, dado que a FA iraniana não tem sido neutra, mas tem sido mobilizada para fortalecer a opressão e a exclusão sistemática das mulheres no ecossistema esportivo. Além das mulheres, o governo iraniano também abafou as vozes de vários atletas no país e impediu seus direitos de falar diante do mal em exibição. Jogadores da equipe nacional como Hossein Mahini, Aref Gholami e ex-jogadores proeminentes como Ali Karimi e Ali Daei, foram alvo de prisão, assédio ou ameaças do governo. Chegou a hora de a FIFA agir; basta”, termina o comunicado.
(Aila Beatriz Inete, estagiária, sob supervisão de Pedro Cruz, coordenador do Núcleo de Esportes)
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