'Lab leak' deixa de ser 'teoria da conspiração'; investigação deve revelar onde nasceu o coronavírus
Ainda desconhecido de boa parte dos brasileiros, o termo “lab leak” ganha cada vez mais credibilidade na cena internacional
Nesta semana, o presidente americano Joe Biden determinou que a Agência de Inteligência dos Estados Unidos redobre os esforços para identificar as origens da pandemia da Covid-19, dando prazo para resposta de até 90 dias. A medida foi tomada diante do crescimento das cobranças de congressistas, instituições e da mídia internacional pela reabertura e maior aprofundamento das causas dos primeiros casos de Covid-19 no mundo, identificados na China, na cidade de Wuhan. O jornal O Liberal noticiou o assunto ainda em 16 de maio, com base em reportagens de veículos da imprensa internacional.
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Coronavírus pode ter sido criado em laboratório chinês
Esta semana, o Brasil chegou à marca de 456 mil mortos pela Covid-19. No mundo, a pandemia já dizimou 3,5 milhões de pessoas. Quase um ano e meio depois de declarada como pandemia mundial, a origem do coronavírus ainda não foi comprovada e segue cercada de mistério, mas possui duas hipóteses mais divulgadas. Uma aponta que a contaminação tenha sido gerada após contato entre humanos e animais silvestres, como morcegos. Já a segunda aponta que o vírus tenha sido criado em laboratório e, acidentalmente, contaminado pesquisadores. As duas teses têm como origem a cidade de Wuhan, onde foram identificados os primeiros casos e onde está localizado um mercado, que teria sido o foco inicial do vírus. Na mesma cidade, no entanto, existe o Instituto de Virologia de Wuhan, que faz pesquisas com morcegos. É esta segunda hipótese que, segundo defensores, precisa ser mais investigada.
A determinação do presidente Biden por reforço das investigações sobre a origem da pandemia ocorreu apenas dois dias após a publicação de detalhes, pelo WallStreet Journal, de um relatório da inteligência americana que aponta que vários pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan adoeceram e foram hospitalizados em novembro de 2019, com sintomas semelhantes aos do coronavírus, mas com doença não oficialmente identificada.
“A partir de hoje, a Agência de Inteligência dos Estados Unidos 'uniu-se em torno de dois cenários prováveis', mas não chegou a uma conclusão definitiva sobre esta questão. Aqui está sua posição atual: 'enquanto dois elementos tendem para o cenário anterior e um se inclina mais em relação ao último - cada um com confiança baixa ou moderada - a maioria não acredita que haja informações suficientes para avaliar um ser mais provável do que o outro", disse Biden no comunicado.
Com a publicação do relatório – e as medidas oficiais na sequência - ganha credibilidade e força a teoria “Lab Leak”, termo que vem sendo usado pela imprensa internacional para tratar a hipótese de que o coronavírus pode ter sido criado em laboratório na China e, acidentalmente, escapado do ambiente, após contaminar pesquisadores. Por isso, em tradução livre, “lab-leak theory” pode ser entendido como “teoria da fuga do laboratório”. A BBC também produziu conteúdo onde explica a polêmica sobre as hipóteses e que o termo vem ganhando destaque.
O termo leak tem sido frequentemente utilizado para casos de denúncias e vazamento de informações sigilosas, por conta da organização “WikiLeaks”, sediada na Suécia, que publica documentos, fotos e arquivos até então confidenciais de governos ou empresas, sobre temas sensíveis.
Logo após o comunicado de Biden solicitando investigações, o Wall Street Journal publicou um editorial, onde afirma que a medida é uma mudança de rumo da postura que vinha sendo adotada pelo presidente americano. “O Sr. Biden tenta encobrir seu embaraçoso encerramento da investigação porque a medida por ter acabado com as provas de que o vírus pode ter escapado do Instituto de Virologia de Wuhan (WIV). Uma vergonha ter demorado tanto tempo (o pedido de investigações), porque os fatos suspeitos foram aparentes desde o início”, afirma o veículo americano.
Ainda segundo o jornal, em fevereiro de 2020, um pesquisador da Universidade de Tecnologia do Sul da China, Botao Xiao, 6 de Fevereiro de 2020, Botao Xiao publicou um artigo afirmando que o vírus "provavelmente teve origem num laboratório em Wuhan". Porém, de acordo com o Wall Street Journal, “o governo chinês controla estritamente a investigação sobre as origens do Covid-19 e o investigador de biomecânica molecular retirou a sua publicação”, aponta o texto.
O Wall Street Journal destaca ainda que a investigação poderia ter iniciado com seriedade há mais de um ano, mas a “partidarização” sobre o tema prejudicou uma discussão justa. De qualquer forma, o jornal destaca ainda que a origem da pandemia é fundamental para se evitar novas pandemias. “
A história da origem é vital para compreender como evitar a próxima pandemia; como melhor gerir laboratórios perigosos; e como defender a humanidade. O mundo ainda precisa de uma investigação honesta e aberta”, encerra o editorial do Wall Street Journal.
Facebook encerra proibição de posts sobre possível origem em laboratório
Também nesta semana o Facebook encerrou a proibição de publicações que afirmavam que a Covid-19 foi feita ou fabricada pelo homem. "À luz das investigações em curso sobre a origem da COVID-19 e em consulta com peritos de saúde pública, não removeremos mais de nossa plataforma a alegação de que a COVID-19 foi feita pelo homem ou fabricada", disse o Facebook numa declaração no seu website na quarta-feira.
Em fevereiro deste ano, o Facebook iniciou a proibição de alegações de que o vírus foi produzido pelo homem ou fabricado. Postagens com essas informações entraram na lista de notícias classificadas como falsas e, por isso, seriam removidas.
"Continuamos a trabalhar com peritos de saúde para acompanhar a natureza evolutiva da pandemia e atualizar regularmente as nossas políticas à medida que novos fatos e tendências emergem", disse em comunicado o Facebook.
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