Tudo por R$ 20 é o novo R$ 1,99; Belém vive a febre das lojas de preço único

Valor atual reflete “a necessidade de adaptação aos preços mais elevados e à complexidade do mercado”, explica economista

Maycon Marte
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Em diferentes pontos da capital paraense, lojas com produtos a um preço único de R$ 20 estão chamando a atenção dos consumidores. Esses estabelecimentos são a versão atual das antigas lojas de R$ 1,99. Esse movimento não se restringe à capital, expandindo-se também por outras cidades do estado, como Marabá e Parauapebas, no sudeste paraense. O sócio-proprietário de algumas das lojas pioneiras nessa modalidade em Belém, Lucas Suassuna, de 43 anos, explica que esses estabelecimentos já eram comuns na sua terra natal, a Paraíba, e, por isso, trouxe a ideia com ele quando veio para o Pará.

Duas das lojas mais antigas do empreendedor acumulam quatro anos comercializando diferentes produtos na modalidade do valor fixo. O pioneiro já conta com quatro unidades, e, agora, vê o crescimento das lojas nesse nicho com certa preocupação, já que, embora seja uma competição justa, o excesso pode levar ao declínio da novidade. “O problema é que estão abrindo muitas lojas, e uma hora o mercado vai saturar”, projeta.

Suassuna não consegue prever ainda se esse será o futuro do segmento em Belém, mas destaca que “já tem cidade com muita loja fechando porque abriram muitas lojas e ninguém mais está conseguindo ter lucro”. De toda forma, caso essa previsão se concretize, ele explica que a estratégia para driblar os obstáculos vai depender da demanda do mercado.

Essa demanda também dita atualmente o que é comercializado nas suas lojas, isso porque existe uma variedade grande de produtos disponíveis que vão desde artigos de vestuário até cama, mesa e banho. Os produtos são trazidos de vários estados e escolhidos a partir da necessidade dos consumidores. O representante da loja reforça que o negócio tem sido lucrativo, mas explica que um bom desempenho está diretamente ligado à frequência de venda.

O faturamento nesta época de fim de ano, segundo o proprietário, supera os demais meses em até 20%. Além de dezembro, o mês de julho também apresenta aumento nas vendas, principalmente devido às férias escolares. “É lucrativo, mas como o nosso valor é bem baixo, a gente vai vendendo devagarinho para ganhar na quantidade… Então compensa mas só se for em uma rotativa alta, se vender pouquinho não compensa, porque as despesas são muito altas aqui”, ressalta.

Além da boa recepção do público com essa modalidade de loja, o empreendedor também comenta sobre uma parcela de clientes que compra para revenda. “Como vende barato, às vezes quem compra para revender, não compensa viajar para fora, ter despesa e aqui está facinho, às vezes compra até no cartão, enquanto lá fora tem que comprar à vista”, afirma.

Negócio atrativo, mas com cautela

Para o economista e consultor de empresas Nélio Bordalo, diferentemente das lojas de R$ 1,99, que fizeram sucesso nas décadas de 1990 e 2000, o “Tudo por R$ 20” está mais “adequado ao contexto econômico atual”. Mas, apesar disso, enfrenta desafios diante da inflação e da perda de poder de compra da população. “Enquanto o modelo de R$ 1,99 prosperou em um período de inflação controlada e custos operacionais mais baixos, o formato atual reflete a necessidade de adaptação aos preços mais elevados e à complexidade do mercado”, avalia.

Na sua avaliação, o crescimento atual dessas lojas se justifica pelo público consumidor paraense possuir uma renda média limitada como característica e pela ausência de grandes redes varejistas em algumas cidades do Pará. No entanto, embora reconheça as vantagens operacionais significativas desses negócios, como a simplificação na precificação e o maior controle sobre o fluxo de caixa, ainda existem riscos financeiros envolvidos. “Se os custos operacionais aumentarem — devido à inflação, variação cambial ou despesas com transporte (frete) e logística —, as lojas podem enfrentar dificuldades para manter a lucratividade sem reajustar preços”, ressalta.

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Oportunidade de economizar

Operadora de caixa em um dos estabelecimentos, Regiane Moreira fala sobre o retorno dos consumidores com a nova onda do “tudo por R$ 20”. Segundo ela, as pessoas gostam da possibilidade de acessar produtos mais baratos que os disponíveis em lojas mais caras e em shoppings, por exemplo. “Eles falam: ah, ainda bem que tem a loja do 20, porque é barato e a gente compra roupa legal, roupas que em outra loja é mais cara, aqui a gente encontra mais em conta”, pontua.

A consumidora Graciene Vieira aproveitou a tarde de quinta-feira (12) para sair às compras na área do comércio de Belém, e garantiu alguns presentes de Natal em uma das lojas de 20. “Eu estava passando aqui no comércio, acabei entrando e estou gostando”, explica. Ela também pontuou que chegou à loja acreditando ter apenas roupas à venda, mas ficou positivamente surpresa com a variedade.

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