Economista explica motivos que levam lojas a encerrarem atividades em Belém
Recentemente, O Mandarim anunicou o fim das vendas. Antes dele, diversos outros empreendimentos da capital paraense passaram pelo processo
O caso da loja O Mandarim, que anunciou o encerramento das suas atividades em Belém recentemente, é mais um entre vários que a população da capital já viu ao longo dos anos. A maioria dos empreendimentos declara problemas financeiros como o motivo para interromper o funcionamento, como foi o caso da livraria Fox e da fábrica da Phebo, tradicional perfumaria da cidade da década de 1930.
A lista desses estabelecimentos é ampla e alcança setores variados da economia local. As lojas de departamento Mesbla e Visão, o colégio Cearense, a livraria Jinkings, a casa de shows Lapinha e, também recentemente, a rede de supermercado Nazaré fazem parte da história de Belém. A Yamada chegou a declarar falência em uma época, mas, de forma tímida, tem voltado ao mercado da cidade.
Muitos empreendimentos são familiares, ou seja, passam de geração em geração. Valfredo de Farias, economista e consultor especializado nesse tipo de negócio, explica que parte dos problemas encontrados para a continuidade das empresas estão relacionados à falta de conhecimento de gestão por parte de quem assume as atividades. “Nessas mais antigas, quando o fundador se afasta do negócio, os herdeiros não conseguem tocar”.
“Já vi muito isso acontecer. O filho entra no negócio porque fez um curso de administração e entra como diretor, gerente, chefe, e não conhece a empresa, não respirou a empresa. Quando o dono sai do negócio, por doença, falecimento ou idade, o filho não consegue tocar. Essa pessoa tem que entender de todos os processos, comercial - tem que entender os clientes e fornecedores -, entender a operação, ter autoridade”, completa.
Belém
A realidade econômica de Belém não é um ponto levantado pelo economista como dificuldade para manter negócios. Ao contrário, ele considera que a cidade possui boas oportunidades, reflexo da diversificação empresarial que existe. “Mas tem um detalhe que faz a diferença entre Belém e outras cidades do eixo Sul: as pessoas daqui são muito conservadoras, no sentido de não buscar ajuda por achar que consegue sozinho”, finaliza.
Lojas tradicionais guardam memória afetiva da população paraense
Para além das questões econômicas que envolvem as empresas tradicionais de Belém, há o lado afetivo. Felipe Silva, sociólogo e professor da rede pública e privada, explica que as pessoas constroem memórias nesses espaços, sendo, isso, um atenuante à determinação de hábitos culturais. “As memórias são criadas a partir da vivências das pessoas com os espaços, datas, épocas e locais”.
Não são só os empreendimentos privados capazes desse feito. O sociólogo também destaca que praças e parques públicos fazem parte da memória afetiva da população. “Com o passar do tempo, a dinâmica urbana faz o modelo de cidade se modificar. Muitas pessoas criam afetos e memórias que são vivenciadas dentro desses espaços, que são de convivência”, completa Felipe.
“Então, a memória tem um papel importante na construção dos hábitos culturais de determinado grupo e na forma como estes grupos criam e mantém as tradições. A importância da memória afetiva é resgatar memórias vividas no passado, que fazem o indivíduo se sentir bem e pertencente a uma determinada época e a um determinado grupo ao qual vive”, finaliza.
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