Curso de capacitação promove desenvolvimento na Ilha do Combu
18 mulheres aprenderam a produzir diversos doces utilizando recursos encontrados na região para aumentar as alternativas de renda
Promover o desenvolvimento econômico e social da Ilha do Combu é um dos objetivos que uniu 18 mulheres da região no curso de Processamento de Frutas e Produção de Doces. Geléias, compotas, conservas, licores e balas foram alguns dos produtos ensinados ao longo da formação, que procurou utilizar utensílios e materiais presentes na rotina da comunidade para, também, aumentar a conscientização sobre a preservação da floresta e os recursos que ela pode oferecer. Ao todo, a turma teve cinco dias de aulas e o espaço cedido foi a fábrica de chocolate Filha do Combu.
O curso foi realizado por meio do programa de qualificação profissional Donas de Si, iniciativa da Prefeitura de Belém e do Banco do Povo, que envolve áreas como gastronomia, estética, informática, gestão e moda. Grande parte das mulheres que estiveram presentes são da comunidade de Piriquitaquara e participaram dos encontros como uma forma de buscar alternativas de renda, uma vez que muitas dependem do movimento nos restaurantes da ilha aos finais de semana. Uxi, cupuaçu, maracujá, goiaba, abacaxi, côco, batata e pimenta foram alguns dos materiais utilizados durante o aprendizado.
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Curso propicia o desenvolvimento de pequenas empresas
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) foi o responsável por ministrar as aulas. A professora Francília Siqueira, química industrial e doutora em ciência e tecnologia de alimentos, conta que o conhecimento repassado às mulheres não utilizou conservantes, mas buscou priorizar a realidade de cada uma. “O curso é voltado para a comunidade, com a realidade delas, usando os utensílios que elas possuem. Os produtos são todos artesanais e propicia que elas venham a desenvolver, dentro do estabelecimento de cada uma, uma pequena empresa, a geração de renda e ter a oportunidade de melhorar de vida”, relata.
Francília explica, ainda, que uma conversa prévia é feita com as alunas para saber os tipos de frutas que fazem parte do dia a dia delas. Foi, então, que surgiu a ideia de produzir o licor de uxi, fruta disponível na ilha e com grande potencial econômico. “O curso é de processamento de frutas e vegetais em conservas. Foi visto tanto a parte de fruta, como doces, geléias, licores, compotas e picles em conserva. Ensinamos a fazer doce de cupuaçu, goiaba, geléias, licores, ketchup e cocada. A gente pede que a comunidade fale quais as frutas que tem por lá para que possamos trabalhar”, frisa a professora.
Objetivo principal foi fixar as pessoas no Combu
Uma das participantes do curso foi Izete Costa, mais conhecida como dona Nena, de 57 anos. Ela já possui um estabelecimento voltado para a produção de doces, em especial, chocolates, na Ilha do Combu, mas afirma haver necessidade de profissionalização. Esse foi um dos motivos que a levou a mobilizar a comunidade para as aulas, tendo em vista, também, o quanto é importante reconhecer a floresta como parte essencial. “A região do Combu se tornou bem turística, com isso, eu já faço essa verticalização de algumas frutas, como doces, bombons, licores, mas todo meu conhecimento é empírico”, afirma.
“A ideia foi eu me profissionalizar dentro desse ramo, eu queria ter mais experiência sobre isso. Nós já tínhamos feito aqui cursos de hortas, criação de abelhas, montagem de negócio, e eu queria muito fazer o de doce, compotas e vegetais. Nós moramos em uma região onde a natureza oferece muita coisa e também a gente planta muita coisa, mas não sabe como transformar. Então, a ideia foi chamar as mulheres para fazermos esse curso juntas, com o objetivo principal de fixar as pessoas no local, precificar o que a floresta tem e mostrar às pessoas que vale a pena manter a floresta de pé e dali tirar a própria renda”, completa Nena.
Empreendedora sonha com mais capacitação
Os conhecimentos adquiridos no curso de produção de doces fazem parte de ideias amplas da comunidade. Dona Nena diz que, atualmente, eles estão tentando criar o Instituto Saudoso Combu, espaço para fomentar a capacitação dos moradores da ilha. “Não só na produção, mas na qualidade do atendimento para quem trabalha com restaurante, a manipulação do alimento e vários cursos. Muitos já vieram, temos novas pessoas entrando e precisamos delas capacitadas para que possamos saber que são capazes de trabalhar com a gente. Eu acredito que quando a gente ganha e todo mundo ganha”.
Aprendizados já geraram resultados
A família da Nilza Carneiro, de 50 anos, possui um restaurante no Combu. Ela, que é mãe de dois filhos, já trabalhava com gastronomia voltada a comidas típicas e decidiu fazer o curso para aumentar os conhecimentos sobre a produção de doces e geléias. “Eu já comecei a vender cocada. Antes, eu tinha dificuldade de fazer. Tenho o côco, mas quando tentava fazer a cocada, fazia de uma maneira errada. Eu fiz a cocada direitinho, tive algumas dúvidas, mas foi um sucesso total. Conseguir fazer. Agora, eu vou fazer as balas de cupuaçu, estou pensando em começar a vender outros produtos também”, comemora.
“Quero aprender e me qualificar mais”, comenta aluna
Elenita Santos, de 49 anos, trabalha como diarista nos restaurantes da ilha do Combu e ressalta que sempre gostou de trabalhar com bombons caseiros e trufas, o que a motivou a participar do curso. “Queria aprender e me qualificar, cheguei aqui e foi tão bom… Encontramos tantas mulheres que também querem aprender e querem ter o seu próprio negócio. Nos ensinaram a fazer compotas, doces, geléias e cocadas. Isso é muito bom para aprendermos e repassarmos para outras pessoas. Estou muito feliz de ter aprendido tudo isso”.
Parte do modo de produção já era do conhecimento de Elenita, mas a técnica ainda era pouca. Agora, ela sonha em colocar em prática as aulas no dia a dia. “Sabemos um pouquinho, mas não sabíamos a técnica, é bom aprender para saber um pouco de cada coisa. O que eu vou levar para mim é que vou querer produzir as coisas que aprendi aqui, vai ser muito bom pra mim e para o meu dia a dia. Eu gostei de tudo, de todas as partes, de tudo mesmo”, finaliza.
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