Tabernas em Belém: tradição, desafios e o dia a dia dos pequenos negócios
Vendedores relatam vivências e desafios em manter comércios de bairro
Belém, capital rica em cultura e história, mantém viva uma tradição que atravessa gerações: os mercadinhos de bairro ou, como muitos chamam, "tabernas". Esses pequenos estabelecimentos são mais do que pontos de venda, oferecendo conveniência e uma dose de acolhimento comunitário.
Entretanto, administrar uma taberna nos dias de hoje não é uma tarefa simples. A inflação, o aumento dos custos operacionais e a concorrência com grandes redes de supermercados são desafios que exigem criatividade e perseverança por parte dos proprietários.
Espaços de praticidade, convivência e solidariedade
As tabernas se destacam pela proximidade e pela variedade de produtos, desde alimentos e itens de limpeza até bebidas e petiscos. Além disso, elas são um ponto de encontro da comunidade.
Josiel Lima ajuda o pai a administrar uma taberna no bairro do Paar há sete anos e afirma que o principal atrativo do seu negócio são as bebidas e cigarros. "A cerveja e os cigarros são os que mais saem aqui, principalmente nos finais de semana. As pessoas buscam um lugar próximo e com preço acessível para não precisar ir até o supermercado".
Os consumidores também destacam que a principal característica desses estabelecimentos é a praticidade. Osvaldo Ferreira, idoso de 80 anos, é cliente habitual de uma taberna em Ananindeua e explica que ela faz com que ele poupe tempo no seu dia a dia. "Eu costumo ir até a taberna andando, às vezes de bicicleta. Consigo comprar as coisas que faltam para o almoço, pro jantar. É muito mais conveniente do que ir mais longe e enfrentar fila em supermercado".
Além desses pontos, as tabernas também ganham espaço nas comunidades através da solidariedade. Kleber Lucas, responsável por uma taberna localizada no bairro do Marco que existe há 17 anos, afirma que a convivência com os clientes o tornou mais sensível às necessidades humanas.
“A gente pensa no que a taberna traz para os nossos vizinhos, porque aqui tratamos eles como parte da família. Então, com o passar do tempo, fomos descobrindo as necessidades do outro. Às vezes, um cliente chegava e dizia que estava sem dinheiro, mas precisava muito de um produto, então vendíamos fiado porque sabíamos da necessidade", afirma.
Inflação e impacto nos preços
A alta nos preços afeta diretamente a dinâmica desse tipo de negócio. Segundo dados recentes do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), produtos como café, leite, óleo e manteiga registraram aumentos significativos em 2024, com alta de 43,04%, 16,19%, 38,96% e 8,41%, respectivamente. Esse cenário complica a vida dos pequenos comerciantes, que precisam equilibrar o repasse de custos aos clientes sem perder a competitividade e a freguesia.
Maria de Nazaré é dona de uma taberna no bairro do Paar há cinco anos e afirma que sente o impacto da inflação no dia a dia. "O café foi o produto que mais aumentou. Nem sempre nosso lucro acompanha o valor que desembolsamos para comprar os itens".
Já Kleber, comenta que os preços alteram rápido demais, ao ponto dos clientes notarem a mudança e reagirem de forma negativa. “Tinha momento que eu comprava o produto em uma semana, na outra já tava mais caro. Então eu não conseguia cobrir o valor do custo com a venda dele e, os clientes, que antes vinham com o valor certo, se surpreendiam com o aumento, pensando que eu aumentava o preço toda semana".
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Os desafios de manter um pequeno negócio
Além dos custos crescentes, os comerciantes enfrentam outros desafios, como a burocracia para manter a legalidade do negócio, o elevado consumo de energia elétrica e a concorrência com grandes redes varejistas.
Maria de Nazaré ressalta que a organização da taberna foi um grande desafio no início do empreendimento. "A organização do negócio, especialmente a precificação dos produtos, a pesquisa pelos itens e a margem de lucro foram os maiores desafios para mim”.
Perspectivas para o futuro
Manter uma taberna aberta exige mais do que conhecimento comercial, demanda persistência e um olhar atento às mudanças do mercado. Ainda assim, esses pequenos negócios permanecem como símbolos da adaptabilidade dos comerciantes locais, sendo fundamentais para a economia e para a vida cotidiana de Belém e da Região Metropolitana.
Para Josiel, Maria e Kleber, a esperança é de que os clientes sigam valorizando as tabernas de bairro e que os preços dos produtos baixem. Afinal, mais do que comércio, as tabernas representam tradição e proximidade.