Supermercados do Pará não estão vendendo 'café fake', afirma presidente da Aspas
Bebida vem se tornando popular no Brasil, após o aumento no preço do café; Anvisa não autoriza a comercialização
Com o aumento desenfreado no preço do café, um tipo de produto surgiu nas prateleiras, o chamado “café fake”. Esse produto contém misturas de vários ingredientes, como milho, soja e até cascas de madeira, e suas embalagens imitam as de marcas conhecidas de café, fazendo com que consumidores sejam enganados e comprem ele em vez do café verdadeiro. Apesar de não ter sido legalizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a bebida vem sendo comercializada em algumas cidades do país. Jorge Portugal, presidente da Associação Paraense de Supermercados (Aspas), garantiu que as redes do Estado não receberam ofertas desse tipo de mercadoria e conta que as lojas locais priorizam produtos devidamente regularizados.
"Até o momento, as redes do mercado de Belém não estão vendendo. Nós nem tínhamos essa informação da ilegalidade e realmente a gente não trabalha com irregularidade", afirmou Portugal. Ele destacou que os supermercados buscam oferecer apenas produtos que sigam as exigências dos órgãos competentes.
A estratégia por trás dos produtos 'parece, mas não é'
O "café fake" não é o único exemplo de produto que se assemelha a um alimento tradicional. Nos últimos anos, consumidores passaram a encontrar cada vez mais itens que parecem leite condensado, creme de leite ou até mesmo requeijão, mas que na verdade são misturas lácteas. Esses produtos utilizam menos leite em sua formulação e são complementados por outros ingredientes, como gordura vegetal.
Essas alternativas costumam surgir em períodos de alta nos preços dos produtos originais. No último ano, o café teve alta de 39,6%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), contra 4,83% do índice geral de inflação. Ele tem enfrentado aumentos de custo devido a fatores como a safra reduzida e a valorização internacional, e com isso, versões adulteradas ou com menor concentração do grão estão ganhando espaço no mercado.
Em imagens que têm sido compartilhadas na internet, o pacote de meio quilo do ‘café fake’ está saindo por R$ 13,99, menos da metade do preço médio do café no varejo, que, atualmente, é de quase R$ 30, variando de local para local.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) alerta que esses produtos podem não apenas enganar o consumidor, mas também representar riscos à saúde, já que muitos deles não passam pelos processos adequados de fiscalização e controle de qualidade.
O sanitarista Vinicius Alcântara reafirma essa premissa. “O consumo de cafés adulterados pode expor as pessoas a substâncias tóxicas, aditivos não permitidos e até ingredientes contaminados, o que pode causar intoxicações alimentares, reações alérgicas e problemas digestivos. Além disso, a falta de controle sobre a qualidade do produto pode prejudicar o sabor, o aroma e até mesmo trazer efeitos negativos a longo prazo, como o desenvolvimento de doenças metabólicas devido ao consumo contínuo de ingredientes desconhecidos e potencialmente perigosos”.
Alcântara relata que uma das principais razões para a continuidade dessa prática é a dificuldade de fiscalização e o interesse econômico de alguns empresários. “A fiscalização acaba se concentrando mais nos grandes mercados ou redes de distribuição, enquanto pequenos comércios, feiras e vendedores informais ficam mais vulneráveis. Além disso, há uma questão econômica por trás da venda. Vendedores que optam por misturar o café com outros ingredientes mais baratos, como cascas de grãos ou produtos de qualidade inferior, conseguem reduzir custos e, assim, aumentar suas margens de lucro”.
Como identificar e evitar produtos adulterados
Para evitar cair em armadilhas, especialistas orientam que os consumidores fiquem atentos à rotulagem dos produtos. No caso do café, é importante verificar se há o selo de pureza da Abic e conferir a lista de ingredientes. Caso a embalagem contenha termos como "bebida de café" ou "mistura de café", é sinal de que o produto pode conter outros componentes além do grão puro.
A recomendação vale também para outros alimentos, como leite condensado e creme de leite, que são regularizados para a venda, mas que pode induzir os consumidores ao erro. Produtos que apresentam expressões como "mistura láctea condensada" ou "mistura para preparo culinário" indicam que não são versões tradicionais, podendo ter composições diferentes das originais. No entanto, isso não significa que são prejudiciais para a saúde, já que tais alimentos já são legalizados.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA