Setor de produção de energia solar prevê crescimento, com desoneração de componentes industriais
O Pará tem grande potencial para aumentar sua contribuição, mas tecnologia ainda é considerada cara demais para a maioria da população
O setor de produção de energia solar está empolgado com o decreto nº 11.456, do governo federal, que atualizou e expandiu o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS), incluindo o segmento de fotovoltaicos. Para a área, a medida, promulgada no último dia 29 de março, poderá incrementar ainda mais a produção de energia solar fotovoltaica no País e, de maneira especial, na região Norte, onde estão concentrados somente cerca de 6% de toda a potência de energia solar instalada hoje no Brasil (26 Gw), o que equivale a 1 Gw.
“Quando olhamos a região Norte, menos de 6% desse total de 26 Gw do País são produzidos aqui, ou seja, temos um mar de oportunidades na região. O Estado do Pará é o líder do ranking na região Norte, com potência instalada de mais de 500 Mw, ou seja, praticamente metade da potência instalada em toda a região. No ranking nacional, no entanto, o Pará está em 13° lugar, no que se refere à potência instalada, por isso dizemos que há um potencial enorme de crescimento, principalmente devido às condições climáticas favoráveis”, explica Rodrigo Lopes, diretor comercial de uma empresa fornecedora de energia solar no Pará.
Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) apontam que, atualmente, a geração própria solar no Pará abrange mais de 51,2 mil consumidores, com mais de 44,7 mil sistemas instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos, espalhadas por 142 cidades. Segundo a entidade, desde 2012, o setor solar trouxe ao Pará mais de R$ 2,6 bilhões em novos investimentos, gerou mais de 15,1 mil novos empregos e proporcionou uma arrecadação de mais de R$ 690 milhões aos cofres públicos.
Com o novo decreto do governo federal, a expectativa é de que esse cenário seja ainda mais incrementado, sobretudo para que a energia solar possa se tornar uma realidade também para as camadas mais pobres da população, já que a instalação de um sistema como esse ainda é considerada cara para a maioria dos brasileiros.
“Sem dúvida, o decreto chega trazendo grandes possibilidades de investimentos, o que certamente vai reduzir ainda mais os custos para a população. Essa é uma tendência, aliás, que já estamos observando desde 2018, pois os preços dos painéis vêm caindo com a atualização da tecnologia. Para se ter ideia, em meados de 2019, um sistema fotovoltaico para uma residência, com geração de 1.000 Kw por mês, custava em torno de R$ 60 mil. Hoje, nós temos esse mesmo kit por pouco mais de R$ 40 mil”, explica Rodrigo.
Brasil importa quase a totalidade dos painéis solares utilizados no país
Segundo o vice-presidente de Cadeia Produtiva da Absolar, Nelson Falcão, o decreto do governo federal vai desonerar os principais componentes dos painéis solares, como vidros, células, materiais isolantes, entre outros, o que deve tornar mais atrativa a produção local desses painéis, reduzir a dependência brasileira de importação.
“Hoje, o Brasil importa de 95% a 98% dos painéis utilizados no País. Ou seja, embora o setor solar esteja muito bem desenvolvido aqui, com o Brasil sendo o oitavo país do mundo em capacidade instalada de energia solar, a fabricação local de painéis solares não acompanhou este desenvolvimento e ainda tem uma participação muito pequena. O decreto visa, exatamente, incentivar a produção local. Entendemos que, além desta iniciativa, seria interessante termos outros incentivos ao produto fabricado no Brasil, como, por exemplo, condições mais favoráveis de financiamento, preferência do produto brasileiro para instalações em prédios públicos, entre outras”, detalha.
O doutor em Energia e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Wilson Negrão Macêdo, também acredita que o decreto deva estimular a implantação de fábricas de módulos fotovoltaicos no País, mas isso, por si só, não representará um domínio da tecnologia de fabricação das células em escala comercial.
“Não podemos esquecer que essa é uma tecnologia dominada por poucos países do mundo, o que implica dizer que um passo rumo à independência tecnológica passa pela importação desse conhecimento. Ressalto que favorecer o setor não se restringe a um decreto impondo incentivos fiscais e estímulo à pesquisa científica, precisamos valorizar o nosso Programa Brasileiro de Etiqueta, que embora tenha as suas deficiências, funciona como um filtro para entrada de equipamentos de péssima qualidade. Módulos que deveriam atingir 20% de degradação no final de sua vida útil (25-30 anos), hoje, estão atingindo 30-40% em menos de dez anos de operação”, pontuou.
Para o professor, o decreto representa um incentivo a investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias solares no país, mas, outras ações também deveriam ser adotadas, sobretudo para que a oferta de energia solar possa contemplar de maneira mais abrangente as regiões mais carentes do País, como é o caso do Norte. “Na minha opinião, a política de incentivo deveria ser permanente e de longo prazo, identificando os laboratórios já existentes no País e incentivando os mais competentes no desenvolvimento de tecnologias, em parceria com a indústria nacional e internacional. A energia solar tornou-se imprescindível em qualquer processo de transição energética em qualquer lugar do mundo, principalmente no estado do Pará, onde ainda figura boa parte do sistema isolado nacional suprido, basicamente, pela utilização de combustíveis fósseis para a produção de eletricidade”, detalha.
Confira o ranking dos Estados Brasileiros com maior potência de energia solar instalada:
1 - São Paulo - 2.486,1 Mw
2 - Minas Gerais - 2.468,2 Mw
3 - Rio Grande do Sul - 2.006,7 Mw
4 - Paraná - 1.762,1 Mw
5 - Mato Grosso - 1.058,4 Mw
6 - Santa Catarina - 844,7 Mw
7 - Bahia - 763,7 Mw
8 - Goiás - 710,6 Mw
9 - Rio de Janeiro - 702,0 Mw
10 - Mato Grosso do Sul - 659,0 Mw
11 - Ceará - 604,5 Mw
12 - Pernambuco - 532,9 Mw
13 - Pará - 514,4 Mw
Fonte: Absolar
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