Saiba porque o mercado de cosméticos veganos vem crescendo em Belém
Empreendedores e consumidores optam por produtos mais sustentáveis e naturais, com menos impacto no meio ambiente e na vida animal
A crescente preocupação com a sustentabilidade do planeta e a vida dos animais tem criado mudanças dentro do mercado. Muitos consumidores abandonaram os cosméticos tradicionais e aderiram aos veganos, ou seja, os que não possuem ingredientes de origem animal e que também não são testados neles. De acordo com a consultoria Reds, a procura por esse tipo de produto cresceu 50% no último ano.
Uma pesquisa da Grand View Research indica que o mercado global de cosméticos veganos deve atingir US$ 20,8 bilhões até 2025 - para os produtos cruelty free (livre de crueldade animal), a previsão é de alta de 6% entre 2017 e 2023. No total, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) diz que o mercado de cosméticos possui 189 produtos em sua lista, com selo vegano, tendo aumentado essa quantidade em 16% entre 2019 e 2020 no país.
Tanto empreendedores locais como consumidores veem neste mercado um enorme potencial. A administradora e empresária Cecília Rascovschi é uma delas. Comandando uma empresa de perfumes que existe há pouco mais de um ano, ela aplica no trabalho sua paixão pelo universo da perfumaria e mercado da beleza como um todo, e adotou uma linha vegana para seus produtos. No total, a empresa já fornece 18 fragrâncias, divididas em seis famílias olfativas: frutais, florais, orientais, frescas, aromáticas e amadeiradas, elaboradas por perfumistas internacionais premiados mundialmente.
O foco do negócio são produtos de alta qualidade com preço justo, e a linha Nizuc é a “queridinha” dos consumidores, segundo Cecília. “Foi com ela que nasceu a vontade de incorporar produtos veganos ao nosso portfólio. Sou muito ligada nas tendências de mercado e nos desejos dos consumidores. Há algum tempo, o movimento vegano vem crescendo, as pessoas estão cada vez mais dispostas a minimizar o impacto de suas ações no meio ambiente, buscando rotinas de beleza em que possam exercitar o autocuidado com a consciência limpa. Sou apaixonada por este universo e gosto de conhecer e consumir marcas de qualidade e com propósito”, declara.
Foi por isso que a empresária resolveu criar uma linha livre de substâncias como parabenos, petrolatos, parafina, óleo mineral e silicone, rotuladas pelos consumidores como “proibidões”. Composta por brumas perfumadas e hidratantes, a nova linha foi desenvolvida levando em consideração os pedidos dos clientes da marca, inclusive veganos, pois não contém ingredientes de origem animal. Lançada no fim do ano passado, a Nizuc já virou sucesso e se tornou carro-chefe nas vendas de Natal – inclusive, agora a intenção é aumentar a linha.
O mercado de beleza vegano exige sustentabilidade, faz parte da cadeia. Para além do produto, existe a preocupação com os recipientes usados, com o descarte das embalagens, com os processos de reciclagem. Para essa nova geração de consumidores, produtos cosméticos e um planeta saudável devem andar de mãos dadas. O que se espera é que os produtos sejam eficazes e atraentes, mas também sustentáveis e livres de crueldade”, avalia Cecília.
Outra empreendedora é a acadêmica de ciências sociais Laura Fernandes, que possui, desde 2017, uma marca um pouco menor, mas cheia de opções de cosméticos veganos, entre eles shampoo, condicionador, sabonete de argila verde, rosa e branca, sabonete de babosa e de camomila, desodorante, vela para massagem, sérum e tônico faciais, e outros. Segundo a jovem, que gosta de produtos naturais e artesanais, a ideia surgiu de uma vontade dela de usar cosméticos que não tenham impactos negativos no planeta.
“Eu já era vegetariana, mas não conseguia consumir produtos veganos porque eram muito caros e eu não tinha dinheiro. Então decidi fazer minhas próprias coisas. Tinha um quintal da minha avó que era bem grande e comecei a fazer lá. As pessoas começaram a se interessar, era algo pequeno entre amigos, depois fiz o Instagram e comecei a participar de feiras, foi crescendo. Uso todos os produtos que vendo”, diz.
Na opinião de Laura, os cosméticos veganos são muito importantes porque o mercado tradicional de produtos de beleza utilizam produtos químicos que prejudicam a saúde e a qualidade de vida das pessoas, segundo ela. “Vários desodorantes têm alumínio, petróleo, já vi sabonete íntimo com petróleo. Não faz mal agora, mas ao longo do tempo prejudica a saúde. Além do mais, os produtos veganos duram bem mais que os industriais, então todo mundo sai ganhando”. Outra vantagem, para ela, é fomentar o uso da matéria-prima e o trabalho de pessoas locais, dando sustento e gerando renda para diversas comunidades.
Um dos diferenciais do negócio da estudante é o impacto positivo na sustentabilidade, já que a maioria dos produtos não leva plástico e a empreendedora utiliza vidros retornáveis em troca de descontos. Dessa forma, há menos lixo gerado e produtos descartados no meio ambiente. Para o futuro, ela espera que a Amazônia consiga produzir seus próprios insumos, porque, para fazer os cosméticos, a empreendedora precisa pedir uma série de materiais do Sudeste. As metas de Laura são ter uma loja física para os cosméticos prontos e a matéria-prima, e realizar workshops para ensinar as pessoas a fazerem seus próprios itens.
Consumidora aderiu aos produtos veganos
Fonoaudióloga, saboeira e cosmetóloga natural, Dany Neves, começou a fazer a transição dos seus cosméticos para os naturais e veganos entre 2017 e 2018, quando iniciou estudos sobre saboaria natural e biocosmética e começou a ter mais consciência sobre consumo. Até então, ela diz que era extremamente consumista em relação aos cosméticos. Como estava entrando também em um processo de adaptação à alimentação vegetariana, não fazia sentido para ela não repensar o consumo em relação a tantos outros produtos que usava diariamente.
Hoje, fazem parte do seu dia a dia produtos veganos relacionados a sabonetes, shampoos e condicionadores sólidos, desodorantes, manteigas corporais, cremes faciais, cremes dentais e outros. A consumidora reduziu drasticamente o uso de maquiagem nos últimos anos, mas até as básicas passam por essa análise antes da compra.
“Passei a questionar mais de onde vêm as coisas que consumo, qual o impacto do meu consumo, o que coloco no meu corpo e a me preocupar com o que eu apoio enquanto consumidora. Os cosméticos veganos poupam vidas e acho que essa vantagem já deveria ser suficiente para começarmos a optar por eles, né? Mas eles trazem muitos outros benefícios, também. Precisamos lembrar que temos disponível, em todos os biomas, uma infinidade de ativos vegetais extremamente poderosos. Ingredientes riquíssimos podem ser retirados da natureza de forma sustentável, sem desmatamento, sem crueldade animal e com muito mais benefícios para a pele. A gente precisa se atentar ao fato de que um cosmético nunca precisou de ingredientes de origem animal para ser eficaz”, aponta a consumidora.
Hoje, Dany já acha muito mais fácil encontrar os produtos nas lojas, até mesmo nos supermercados e farmácias de Belém e outras cidades. Ela, no entanto, prefere priorizar as pequenas marcas locais, movimentando a economia da região. O mercado, na opinião de Dany, está em ascensão. Ela mesma tem uma saboaria natural, a Koa, onde são produzidos sabões e cosméticos veganos, naturais, biodegradáveis e livres de substâncias tóxicas. Seu público se divide entre veganos e não veganos. “Acho isso bem interessante, porque tem gente que procura o produto por ser vegano, e tem quem esteja focado em outras questões: ambientais, transição das químicas tóxicas da grande indústria para produtos naturais ou simplesmente buscando cosméticos mais saudáveis e eficazes”. Dany espera que o mercado seja cada vez mais ético, com mais espaço para o veganismo, bioeconomia e valorização da transparência nos processos de produção.
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