Saiba o que fazer para aumentar tempo de uso de aparelhos eletrônicos antes que fiquem obsoletos

Obsolescência programada diminui vida útil de aparelhos eletrônicos, afirma doutor em engenharia elétrica Alan Marcel

Daleth Oliveira
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Todo produto possui uma vida útil, o tempo médio que ele resiste ao uso antes de apresentar defeitos. Contudo, quando se trata de eletrônicos, muitas empresas tentam controlar por quanto tempo um smartphone, impressora, TV e outros resistem antes do fim, fazendo com que eles durem menos, no intuito de forçar o consumidor a repor o mesmo dispositivo por um mais novo, explica o doutor em engenharia elétrica, Alan Marcel.

“Em 2021, a Apple foi processada por uma entidade de defesa do consumidor de Portugal, pois mudou a forma como o iOS usava a bateria em 2017, ocasionando, de propósito, perda de performance dos aparelhos da maçã”, exemplifica o pesquisador.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Market Analysis levantou dados dos hábitos dos consumidores brasileiros com relação ao uso de aparelhos eletrodomésticos (forno de micro-ondas, fogão, geladeira ou freezer e lavadora de roupas), eletrônicos (televisão, DVD e blu-ray), aparelhos digitais (câmera fotográfica, computador e impressora) e celulares. O resultado foi que todos dão problema pelo menos uma vez na vida.

Computadores, celulares, lavadoras de roupas e impressoras são os aparelhos que mais apresentam problemas de funcionamento. Já fogões, geladeiras, câmeras e micro-ondas são os aparelhos que menos problemas apresentam.

O estudo apontou ainda que de todos eles, o celular é o aparelho que tem menor duração e possui um ciclo de vida de, em média, menos de 3 anos e dificilmente ultrapassa cinco anos. Um em cada três celulares e eletroeletrônicos são substituídos por falta de funcionamento e três em cada 10 eletrodomésticos são substituídos por apresentarem defeitos, mesmo estando em funcionamento.

Mas isso não foi sempre assim. Antigamente, os eletrônicos - principalmente eletrodomésticos - eram bem mais duráveis do que os da atualidade. “Essa mudança ocorreu, porque as fábricas precisam constantemente vender produtos para se manterem competitivas no mercado. Faz parte da lógica básica do capitalismo: adquirir lucro perenemente. Vender produtos altamente duráveis, faria com que as pessoas não adquirissem novos produtos com mais frequência, reduzindo o lucro da empresa”, aponta Marcel.

“Há relatos que essa prática começou a ser implementada desde a década de 1930, como sendo uma solução ao desemprego e à crise econômica de 1929 que atingiu vários países do mundo. Como exemplo, temos as fábricas de lâmpadas que se reuniram e determinaram a diminuição da vida útil de lâmpadas: antes funcionavam por 3000 mil horas, com a obsolescência programada, deveriam durar apenas 1000 horas”, informa o Alan.

Jogo de sorte ou azar

“Já perdi a conta de quantas vezes levei meu notebook para assistência técnica”, conta a professora Edinalva Lima. Após um ano da garantia, o aparelho começou a dar problema e, desde então, precisa quase que anualmente levá-lo para conserto.

“Quando comprei, nem pensei em adquirir também a garantia estendida, afinal, um notebook é pra durar bastante tempo. Mas depois, percebi que veio com um defeito de fábrica que me obriga a trocar de teclado. Se colocar na ponta do lápis, já comprei um notebook novo, porém não faço a troca porque um novo está muito caro e não tenho como fazer essa troca tão cedo”, relata.

Para o administrador de uma assistência técnica de Belém, Fábio Almeida, não tem como advinhar se o aparelho terá algum problema antes da garantia ou não. “É um jogo de sorte ou azar. Às vezes você compra e dura anos, mas as vezes, dura menos que devia, nunca dá pra saber antes de comprar”, fala o empresário.

Ele acrescenta que o único cuidado que dá pra tomar antes de comprar, é escolher uma marca que tem assistência técnica autorizada na cidade. “Não compre nada se não tiver alguém para consertar seu aparelho por perto. Além da dificuldade que vai ser consertar tendo que mandar para longe pelos Correios, a falta de profissionais já induz que aquela marca não seja muito confiável”, detalha Fábio.

Mas se o eletrônico já deu problema, como saber se vale a pena consertar? Para Fábio, se o conserto custar menos que 60% do valor do produto novo, é negócio. “Mas quando o custo da assistência ultrapassa esse limite, é melhor comprar logo um aparelho novo. Por exemplo, um display de televisão. Quando queima, é tão caro um novo que é melhor o cliente ir em uma loja e comprar outra, pelo menos assim ele consegue algo com mais um ano de garantia”, aconselha.

Impacto

Além de aumentar as dívidas dos trabalhadores brasileiros, o aumento do lixo eletrônico é o maior impacto da obsolescência programada. “ Quando descartados de maneira inapropriada, ele contamina a atmosfera, o solo, os rios e os lençóis freáticos, prejudicando as condições de saúde da população. Portanto, quanto mais breve for o ciclo de vida dos produtos, maior será o índice de poluição ambiental proveniente de lixo eletrônico”, diz o pesquisador Alan Marcel.

Em Belém, o Instituto Alachaster recebe doações de pessoas físicas e jurídicas que consomem ou geram lixo eletrônico. Os pontos de coleta podem ser encontrados no Porto Futuro, Parque do Utinga, na loja Aldeia Verde, no bairro do Marco, e na Marambaia. Nesses locais podem ser deixados CPUs, notebooks, celulares, cabos, baterias, teclados, mouses e entre outros resíduos.

Outra opção para diminuir o impacto, é buscar consumir produtos mais resistentes e de marcas mais conhecidas e bem avaliadas por consumidores, indica Marcel. “Produtos feitos com materiais como alumínio e aço inoxidável tendem a ser mais duráveis que ferro e plástico. Empresas de marcas mais consagradas no mercado, tendem a vender produtos mais duráveis”, pontua.

“De qualquer modo, é sempre recomendável fazer uma ampla pesquisa na internet para saber se vale a pena comprar determinado produto de determinada marca e modelo. Hoje em dia, existem sites que agregam informações interessantes do produto, como por exemplo o Reclame Aqui. Uma outra fonte de pesquisa são as redes sociais, pois, atualmente, uma das primeiras coisas que as pessoas fazem quando não estão satisfeitas com um produto é desabafar nas suas postagens”, conclui o pesquisador.

Após comprar, há também algumas coisas que podem ser feitas pelos usuários a fim de aumentar a vida útil do aparelho, diz Fábio. “Sempre falo para tirar da tomada sempre que não tiver usando. Já vi muita televisão apagar por causa de problemas com descarga elétrica irregular, problema que ocorre bastante na nossa região, em que o fornecimento de energia não é de alta qualidade. Então, tirar sempre da tomada já é um bom começo”, conta.

“Também é importante controlar o uso do aparelho, não usar por muitas horas seguidas. Esquentou? Desligue, deixe esfriar. Outra coisa, diminuir a luz de fundo de televisões ajuda a desgastar menos os leds do display. Para aparelhos de áudio, aconselho a nunca usar no volume de limite. Se ele vai até o volume 50, use até o volume 45. E por último, não se esqueça: nenhum eletrônico foi feito para ficar perto de água, mesmo que o fabricante diga que ele tem resistência para isso. A resistência serve pra uma eventualidade, não é pra ser algo rotineiro”, finaliza Fábio.

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