Redução do preço do diesel pela Petrobras tem expectativas e incertezas para economia do Pará
Economistas avaliam os possíveis efeitos da queda de 4,6% no diesel para os consumidores, setores produtivos e inflação no estado; sindicato e supermercados, porém, têm incertezas sobre o repasse aos postos de combustíveis e o efeito imediato da queda.

A recente redução de 4,6% no preço do diesel, anunciada pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, pode ter diversos reflexos na economia do Pará, embora economistas e representantes de setores tenham opiniões divergentes sobre os impactos reais da medida. A partir desta segunda-feira (31/03), o preço do diesel nas refinarias da estatal caiu de R$ 3,72 para R$ 3,55 por litro, o que representa uma redução de R$ 0,17 por litro. No entanto, uma pergunta persiste: qual será o efeito dessa queda nos preços praticados nos postos de combustíveis e em diversos setores da economia do estado?
Impacto nos supermercados e no preço dos combustíveis
Pietro Gasparetto, assessor jurídico do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Pará (SindiCombustíveis), destacou que não há uma data específica para que a redução chegue aos postos de combustíveis.
"É leviana afirmar que o preço vai cair 'X' centavos nas bombas, pois existem muitos fatores envolvidos na precificação, como a diversidade de refinarias e a influência do preço do biodiesel", afirmou Gasparetto.
Além disso, ele ressaltou que a redução nos preços do diesel não deve afetar diretamente outros combustíveis, como a gasolina ou o etanol.
Para ele, “a alteração no diesel não influencia outros combustíveis, em especial o etanol que não provém do petróleo. Para ocorrer na gasolina, medida semelhante precisaria ser adotada. Como a Petrobras em 2023 alterou sua política de preços, que não segue mais o preço do petróleo no mercado internacional, é difícil fazer previsões.”
Jorge Portugal, presidente da Associação Paraense de Supermercados (ASPAS), também expressou ceticismo sobre os efeitos imediatos dessa queda.
Segundo ele, "o valor da redução é tão pequeno que não se sabe exatamente qual será o impacto nos preços finais".
Portugal acrescentou que, enquanto o anúncio é importante, ainda não se sabe quando a diminuição chegará efetivamente aos consumidores e em que proporção.
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Potenciais benefícios para a economia local
Por outro lado, economistas paraenses, como Genardo Oliveira, enxergam com otimismo os possíveis reflexos dessa redução no diesel.
Oliveira acredita que a medida pode aliviar os custos logísticos, o que, por consequência, poderia resultar em preços mais baixos para os consumidores, especialmente no setor de alimentos, que depende fortemente do transporte rodoviário.
Ele destaca que a redução do diesel pode ter um efeito significativo na inflação local, já que o custo do frete afeta diretamente o preço de mercadorias essenciais.
“No setor de alimentos, essa queda pode ser mais perceptível, pois o transporte de produtos agrícolas e perecíveis depende fortemente. Já em relação a produtos como linha branca e computadores, o impacto pode ser menor, pois esses itens têm uma cadeia de produção mais complexa e envolvem outros fatores de custo”, afirmou.
Da mesma forma, Nélio Bordalo, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (CORECON-PA/AP), reforçou que a queda no preço do diesel pode reduzir a pressão sobre os preços de diversos produtos no estado, como alimentos e bens de consumo, além de aliviar o custo do transporte público e de cargas.
"O diesel mais barato reduz os custos logísticos, o que pode resultar em menores preços para o consumidor final", explicou Bordalo, lembrando, no entanto, que o impacto pode ser temporário, dependendo da volatilidade do mercado internacional de petróleo e das decisões da Petrobras.
Setores que podem ser beneficiados
Diversos setores da economia paraense podem ser beneficiados pela redução do diesel.
Genardo Oliveira destacou que a medida pode estimular o crescimento da economia, uma vez que os custos reduzidos de transporte poderiam permitir que empresas repassassem parte dessa economia para os consumidores ou aumentassem suas margens de lucro.
Segundo o economista, setores como o agronegócio, a indústria e o comércio, que dependem de uma logística eficiente, têm muito a ganhar com a diminuição do preço do diesel. Além disso, o setor de construção civil e a mineração, que utilizam máquinas movidas a diesel, também poderiam ver uma redução nos custos operacionais.
Nélio Bordalo, por sua vez, acrescentou que o setor pesqueiro e a agricultura também se beneficiariam diretamente, dado o uso intensivo de diesel nas operações, seja para o transporte de mercadorias, seja para o funcionamento de máquinas agrícolas.
Desafios e riscos
Apesar dos benefícios potenciais, tanto Pietro Gasparetto do Sindicombustíveis Pará quanto os economistas alertam para o risco de que a redução possa ser temporária.
O preço do diesel é influenciado por uma série de fatores, como a cotação internacional do petróleo e a variação do câmbio, o que pode levar a um aumento nos preços a qualquer momento. Bordalo sugeriu que políticas governamentais, como a redução de impostos sobre combustíveis e o incentivo ao uso de biocombustíveis, poderiam ajudar a estabilizar os preços a longo prazo, reduzindo a dependência de fontes fósseis e amortecendo as flutuações do mercado internacional.
Embora a redução no preço do diesel tenha sido recebida com cautela por muitos setores, há um consenso de que ela pode gerar benefícios substanciais para a economia do Pará, especialmente para os consumidores e empresas que dependem do transporte rodoviário.
No entanto, a incerteza sobre o impacto real nos preços dos combustíveis nas bombas e a possibilidade de uma elevação futura dos preços do diesel mantém os prognósticos de representantes de setores em um tom de cautela.
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