Preço médio da cesta básica em Belém compromete mais de 50% do valor atual do salário mínimo
Cidade está entre as capitais com maiores custos de alimentação do Brasil, aponta Dieese
Pelo terceiro mês consecutivo, a cesta básica consumida em Belém está com preços acima da inflação. Arroz, feijão, leite e carne bovina aparecem com destaque na pesquisa lançada nesta segunda-feira (10), pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Pará, entre os produtos que mais tiveram aumento em março deste ano. Em média, o morador da cidade gasta R$ 666,54 com os itens necessários para o dia a dia, comprometendo cerca de 55% do valor do atual salário mínimo.
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Com isso, os alimentos essenciais fecharam o primeiro trimestre de 2023 - período que vai de janeiro a março - com alta acumulada em quase 4%, enquanto a inflação está em 2%. O resultado coloca Belém como a 10ª capital do Brasil com a cesta básica mais cara, estando atrás de Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Brasília (DF), por exemplo, conforme dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos Custo, também realizada pelo Dieese. O cenário é justificado, conforme explicam especialistas, pelos valores aplicados na produção dos produtos.
Consumidor passou a pesquisar mais
Arnaldo Henriques, funcionário público de 56 anos, afirma que a realidade de altas nos preços dos alimentos é preocupante e não acompanha o salário que os consumidores ganham. Ele sentiu a diferença nos valores do arroz, feijão, carne e frango, o que tem sido motivo para aumentar a pesquisa em diferentes estabelecimentos em busca das melhores condições e ofertas. “Os preços estão muito elevados, não estão acompanhando o que a gente ganha, estão fora da realidade”, lamenta.
“Os alimentos que a gente mais consome estão em alta. Alguns produtos estão um pouco estáveis, mas são aqueles que não são de consumo diário e nem necessário. Arroz, carne e frango estão bem acima do normal, com exceção de quando você compra em promoção, quando não, fico nessa ciranda de um supermercado para outro, para ver o que está mais em conta e dentro do meu orçamento. Mas, até isso está difícil, porque nem vale tanto a pena se deslocar de um local a outro”, completa.
Arnaldo conta que evita certos produtos que não são tão necessários para conseguir dar conta de comprar o que a família realmente precisa. “A única coisa que está mais barata é a mão de obra do trabalhador. Você não pode chegar no supermercado e encher o carrinho a vontade, como fazíamos há cinco anos. Antes, eu nem verificava o preço. Hoje em dia, vou pelo que está mais barato e abro mão de algumas coisas que tenho vontade de comprar, como um queijo, uma goiabada, enfim, um doce diferente. Isso fica fora de questão”.
Contas do mês não acompanham salário, diz professora aposentada
Com o aumento no preço dos alimentos, a professora aposentada de 71 anos Ana Maria Marques, relata que, muitas vezes, equilibrar as contas do mês é um desafio e nem todos os boletos conseguem ser pagos. “Quando eu chego no caixa e vejo o valor das compras, penso logo nas pessoas que ganham só um salário mínimo. Isso dói. A gente só tem aumento desde o início do ano, em tudo. A cenoura, que antes comprava barato, agora disparou. O jerimum, eu comprava de até R$ 3,50. Agora, está mais de R$ 5”, comenta.
Além de pesquisar em supermercados e feiras diferentes, Ana também substitui alguns alimentos por equivalentes. “Como eu gosto e sei cozinhar, eu vou substituindo. O que está caro, eu substituo pelo mais barato. Por exemplo, tem vísceras que são mais em conta que a carne. A gente pode comer, então, eu levo. Eu adoro bacalhau, mas faço sempre duas perguntas: eu preciso? Mas eu posso? Tenho que abrir mão do que acho mais gostoso, porque, se não, não é possível”, desabafa a aposentada.
Especialista lista série de fatores que contribuem para alta nos preços
O economista Nélio Bordalo explica que o cenário pode ser justificado por fatores que têm a ver com a produção dos alimentos, entre eles, o preço dos fertilizantes e da logística para trazer os itens para a cidade. “Frutas, legumes, hortaliças e verduras possuem preços estabelecidos pelos produtores de acordo com as suas safras e entressafras. Podemos usar como exemplo o nosso açaí, base da alimentação do paraense, que no período de safra, de julho a dezembro, existe uma oferta maior do fruto”.
“Com isso os preços ficam mais baixos. No período de entressafra, de janeiro a junho, existe uma redução na oferta do fruto e como consequência o preço fica mais elevado para o consumidor. Essa lógica é a mesma para os produtos que compõem a cesta básica, quando nas regiões produtoras existe uma redução na produção do feijão, os preços disparam, e a pesquisa identificou uma variação no preço de 26,02% no 1º trimestre de 2023”, acrescenta Nélio.
O segundo fator é que o Pará importa cerca de 85% dos produtos, com isso, o custo do frete é um adicional a mais no valor repassado. “E esse valor entra na planilha de cálculo de quem vende nas feiras e supermercados, encarecendo mais o produto para o consumidor final. Junto a isso, com os custos de produtos agrícolas, que apesar de ter tudo redução nos preços dos fertilizantes, continuam impactando nas despesas de quem produz no campo, portanto, quem produz os alimentos repassa os aumentos de custos de produção”.
Famílias de baixa renda têm maior impacto
Nélio destaca que o orçamento de todas as famílias da cidade é afetado, porém, as de baixa renda têm ainda mais dificuldades. “Elas já estão com os seus orçamentos comprometidos com outras contas mensais, água, energia, aluguel, etc. A estratégia é pesquisar nos locais de vendas com preços mais baixos, as promoções de produtos em dias determinados, compras os produtos que estejam no período de safra e buscar alternativas para substituir marcas e hortifrúti com preços mais adequados para o orçamento da família”, finaliza.
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