Parceria entre UFRA e governo chinês aposta na ciência para restaurar solos e proteger a Amazônia
Iniciativa firmada com a Universidade de Hohai e o LAC HUB prevê recuperação de áreas degradadas, proteção da floresta e valorização das cadeias produtivas locais, com investimento superior a R$ 10 milhões
Uma aliança internacional envolvendo a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade de Hohai, na China, e o LAC HUB quer transformar a maneira como a Amazônia enfrenta os desafios da degradação ambiental. Com apoio dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o projeto foi oficialmente firmado em 2023, após articulações iniciadas em 2019, e já movimenta mais de R$ 10 milhões em pesquisa e inovação voltada à restauração ecológica da região.
Ciência como ponte entre Brasil e China
Reconhecida como uma das cinco melhores universidades do mundo em recursos hídricos, a Universidade de Hohai agrega ao projeto sua expertise em manejo de água, irrigação e drenagem. A parceria resultou na criação do Parque de Inovação Agrotecnológica Brasil-China, sediado na UFRA, que será um polo de desenvolvimento de tecnologias aplicadas à recuperação de áreas degradadas e à valorização das cadeias produtivas locais, como a farinha de Bragança, o açaí e o cacau.
“O objetivo é restaurar 20 milhões de hectares de solos até 2030 e proteger 200 milhões de hectares de floresta, com o uso de tecnologias de ponta, como fertilizantes orgânicos adaptados aos solos amazônicos, sistemas inteligentes de irrigação e monitoramento com drones”, explica Marcius Nei Santos, CEO da Sino-LAC Amazônia e representante da Zhuhai Sino-LAC no Brasil.
Critérios e áreas prioritárias
O projeto tem como foco regiões com alto grau de degradação do solo e queda na produtividade agrícola, priorizando áreas com relevância estratégica para frear o desmatamento e com potencial de impacto social e econômico. Um dos destaques é a atuação em Paragominas, por meio da Coopernorte, e em Bragança, em parceria com a prefeitura local.
Segundo ele, a meta é recuperar não apenas o solo, mas também a economia dessas regiões, com o uso de tecnologias agrícolas avançadas vindas da China e adaptadas ao contexto amazônico. "A intenção é empoderar os moradores das regiões atendidas com conhecimento e ferramentas para que eles próprios conduzam o processo de restauração e gestão ambiental", destaca Marcius.
Tecnologia e inovação a serviço da recuperação ambiental
A UFRA contará com um novo Laboratório de Monitoramento da Qualidade dos Solos, que permitirá análises precisas e em tempo real sobre a evolução das áreas restauradas. A universidade chinesa também participa da transferência de tecnologia de irrigação e drenagem, contribuindo para o uso mais eficiente da água — recurso fundamental para a agricultura sustentável.
Outro destaque é o uso de drones e sensores remotos para o mapeamento e monitoramento contínuo das áreas impactadas, além da produção de fertilizantes orgânicos em escala, com apoio da empresa chinesa SINOLAC.
Impacto nas comunidades locais
Segundo Marcius Nei, o projeto tem um forte componente social, com foco na capacitação de agricultores, extrativistas e moradores das comunidades envolvidas. Serão ofertados treinamentos sobre práticas regenerativas, uso de tecnologias sustentáveis e manejo eficiente da água e do solo.
“Estamos promovendo geração de emprego e renda nas cadeias da produção agrícola sustentável, envolvendo diretamente as comunidades na recuperação e gestão das áreas restauradas. É uma ação que une ciência, tradição e sustentabilidade”, destaca.
Amazônia como protagonista da transição ecológica
Em um momento em que o mundo discute a transição ecológica e se prepara para a COP-30, que acontece em Belém, projetos como este ganham relevância global. A parceria Brasil-China reforça o papel da ciência e da cooperação internacional na construção de soluções para os desafios ambientais da Amazônia.
Marcius ainda diz que a expectativa é que a visita do presidente chinês Xi Jinping à UFRA fortaleça ainda mais os laços institucionais e dê visibilidade à importância estratégica da floresta para o mundo.
“Estamos mostrando que a Amazônia não é só uma preocupação ambiental global, mas também um celeiro de soluções sustentáveis. Essa é uma oportunidade única de transformar conhecimento em impacto real”, conclui Marcius Nei.
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