‘O primeiro evento que fiz depois que liberaram eu chorei’, afirma dona de buffet de Belém
Segunda onda neste ano também pegou muita gente de surpresa
“É o que eu sei fazer, né?”, afirma Adriana Nascimento, sobre o ofício que dá sentido à sua vida desde os 19 anos: cozinhar. Após cerca de um ano com o serviço de buffet parado, por conta da pandemia, ela descreve como inexplicável a sensação após o primeiro evento que pode realizar. “Eu chorei de emoção, cozinhei feliz, com vontade de voltar a fazer tudo aquilo que a gente faz, que para mim é tão prazeroso”.
Um levantamento feito pelo Sebrae, em abril, mostra que o coronavírus afetou 98% do setor, não considerado pelo Ministério da Economia como um dos afetados pela pandemia. O segmento era responsável por movimentar, anualmente, R$ 250 bilhões em eventos corporativos e R$ 17 bilhões em eventos sociais. Além de shows, festas, congressos e eventos esportivos, pessoas que trabalham com cerimonial e decoração foram fortemente prejudicadas.
“As pessoas ainda não estão podendo fazer eventos e para não perder clientes eu estou sendo bem flexível. Ter retorno financeiro é muito melhor, mesmo ganhando um pouco menos, o que é melhor do que não ganhar nada. O que vivi durante a pandemia foi um choque. Vi meus amigos decoradores sem trabalho, fornecedores também, foi muito difícil”, revela Adriana.
A cozinheira de mão cheia oferece serviço de buffet completo para várias ocasiões e públicos: café da manhã, brunch, coffee break, festa de 15 anos, casamento e formatura. “Hoje faço evento de 10 a 200 pessoas. Mas antes da pandemia cheguei a fazer eventos de grandes corporações de 700, 900 pessoas. Eram cinco trabalhos por final de semana, mas já voltei a fazer em média três. Cheguei a ter que devolver dinheiro de eventos grandes, de festas canceladas, mas graças a Deus comecei a recuperar”, lembra.
Quentinhas
Para sobreviver, Adriana começou a fazer quentinhas para vender, de casa mesmo. Após sair do local que havia reformado e transformado a cozinha para melhor trabalhar com os buffets, ela precisou ir para outro local, com menor estrutura, mas foi onde encontrou um caminho para a sobrevivência financeira. “Eu trabalhava de manhã, de tarde e de noite. Fazia quentinha, fazia café da manhã, pizza. Foi bom porque hoje tenho clientes fixos de café e de marmita”.
A cozinheira narra o início da paixão por esse segmento. Aos 52 anos, ela conta que ajudava uma tia a fazer comidas regionais e, quando ela decidiu parar, Adriana pediu para continuar com o serviço e manteve os clientes. Com o decorrer do tempo, decidiu montar uma pizzaria com o ex-marido, e preparava, para além do prato tipicamente italiano, várias outras iguarias com massa e filés, peixes e crustáceos. Se encantando a cada dia mais com a lida, decidiu fazer cursos com chefs de cozinha pelo Brasil e investir na área de eventos.
A experiência veio com o tempo e com um emprego, mais especificamente. “Fui trabalhar em uma mineradora e, diariamente, cozinhava para 900 pessoas, então fui aprendendo com os cozinheiros de lá a fazer comida em grande quantidade. Isso era em Macapá, mas aí voltei em 2004 e trabalhei em dois restaurantes e abri a DiSapori em 2008. E hoje é o que eu gosto de fazer, de onde tiro meu sustento”, conclui.
Protocolos
A cerimonialista Adriana Lobato também comemorou quando, oficialmente, foi iniciado o período de flexibilização das medidas de segurança preventivas do coronavírus. Desde maio deste ano, ela observou um crescimento gradual da demanda pelos eventos, que iniciaram com 50 pessoas, depois passaram para 100 e, atualmente, podem ser realizados com até 300 pessoas.
“Agora está a todo vapor, temos muitos eventos acontecendo, sejam remarcados, sejam eventos novos. Os clientes deram uma segurada e resguardaram o financeiro para poder fazer as suas festas, e agora estão conseguindo se preparar para em dois, três meses, realizarem seus eventos”, conta. “Senti a melhora e uma procura maior a partir do mês de julho, agosto. Temos vários eventos novos fechados para dezembro, janeiro, e continua sendo bom, graças a Deus”, declara.
Desafios de 2020
A autônoma diz ainda que 2020 foi um ano consideravelmente pior no âmbito financeiro, e que conseguiu, por meio de um planejamento das finanças, honrar os compromissos com a equipe que costuma trabalhar. Pelo que já foi vivenciado pelo setor, mesmo com o avanço da vacinação, Adriana lembra a importância de manter o cumprimento de todos os protocolos de segurança exigidos em grandes eventos, especialmente pela credibilidade da classe, para que todos possam continuar atuando e garantindo os rendimentos.
“Consegui voltar a realizar os eventos com muito carinho, mas também segurança, porque não deixamos de usar máscara em momento algum. Nossa equipe está sempre de luvas, usando álcool em gel, temos a obrigatoriedade de entrar e sair de máscara dos locais, seja na igreja ou no buffet. Por mais que estejam relaxando algumas medidas, nós não podemos ter essa irresponsabilidade com os protocolos. Até porque acredito que tenhamos que seguir normas até 2021. Nós trabalhamos com aglomeração, com a diversão das pessoas, então todo cuidado é importante”, conclui.
Casamento
E é em busca desse momento perfeito que muitas pessoas procuram a ajuda de um cerimonial. A advogada Juliane Lustosa marcou na agenda: 24 de abril de 2021 seria o dia para a realização de um sonho: o casamento. O que ela não esperava é que teria que segurar a expectativa e adiar a data devido ao período ser justamente o auge da segunda onda da pandemia da Covid-19. Além do receio de perder dinheiro, visto que o evento demanda uma série de fornecedores, vinha o medo de não conseguir uma nova data.
“Adiar foi muito doloroso, porque criamos muitas expectativas, tínhamos organizado tudo com os fornecedores e tentamos ao máximo segurar essa data, porém, os casos de Covid estavam muito altos, quando vimos que não teríamos como realizar mesmo o casamento bateu um desespero incontrolável. Graças a Deus e a nossa cerimonial, que é a Adriana, conseguimos uma nova data, e nos acalmamos. Aí remarcamos para o dia 6 de setembro, há poucos dias”, conta.
Na nova data, todos os fornecedores estavam disponíveis e, por isso, não houve prejuízo financeiro para o novo casal. Com cerimonia na Basílica de Nazaré e a festa em uma casa de recepções, o evento já ocorreu durante o bandeiramento verde, o que permitiu que Juliane convidasse 150 pessoas e estendesse a festa até às 3h do dia 7 de setembro, última terça-feira. Apesar da preocupação com os protocolos de segurança, a jovem conta que se sentiu segura em meio a familiares e amigos.
“A sensação de realizar um sonho em plena a pandemia é uma mix de felicidade com preocupação, mas foi tudo lindo e inesquecível. Não me senti insegura, porque nossos familiares em sua maioria estavam com as duas doses da vacina e nossos amigos com a primeira dose e garantidos de que estavam com os protocolos respeitados. Alguns familiares optaram por não irem e ficarem assistindo pelas redes sociais e super entendemos. Mas foi lindo e esperamos muito por esse dia, vivemos com muita felicidade e intensidade. Afinal, tínhamos que fazer valer a pena todo o tempo esperado”, finalizou.
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