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Número de motoentregadores continua crescendo em Belém, desde o início da pandemia

Com jornadas de trabalho de 10 a 12 horas por dia, homens de 18 a 39 anos formam a maioria dos trabalhadores

Abílio Dantas
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Mais de dois anos após o início da pandemia, continua crescendo o número de motoentregadores, em Belém, como consequência da permanência do desemprego e da maior diversificação do mercado. De acordo com uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA), nos bairros do Marco, Nazaré, Pedreira e Umarizal, entre os meses de outubro a dezembro de 2021, 57,7% das pessoas ouvidas possuem no máximo três anos de trabalho no ramo, sendo que 10,3% delas haviam começado há menos de um ano.

A pesquisadora Paula Beltrão, autora da dissertação intitulada ‘Terceirização ou Autonomia: a condição laboral do motoentregador por plataforma digital em Belém-PA’, afirma que o setor segue crescendo. “Acredito, quanto aos motoentregadores, que há a tendência de crescimento na Região Metropolitana de Belém, pautada, sobretudo, no mito do empresariamento de si mesmo, pautado nos três pilares da uberização: liberdade, flexibilidade e autonomia. Autonomia do trabalhador para desenvolver a sua atividade; liberdade para o trabalhador fixar o seu horário de trabalho e jornada; e a permissão para prestar serviços para diversas plataformas ou aplicativos”, explica.

O estudo, orientado pela professora Andréa Bittencourt Pires Chaves, foi desenvolvido a partir de questionários, que coletaram informações quantitativas e qualitativas sobre os motoentregadores. Em seguida, foi feita pesquisa de levantamento para mapear o perfil do trabalhador por meio de uma plataforma digital.

Dentre os 91 motoentregadores escutados, a maioria dos participantes se reconhece como pessoa parda (53.8%), do sexo masculino (97.5%) e está na faixa etária entre 18 e 39 anos (61.3%). A pesquisa destaca que 2.5% dos entrevistados são do gênero feminino. Sobre a idade dos trabalhadores, confirmou-se a hipótese da autora, de que grande parcela dos entregadores estaria na primeira faixa de idade, por estarem mais propícios a um ambiente de oportunidades e incertezas.

A pesquisadora frisa também que o aumento da categoria e da ausência de garantias trabalhistas faz de um cenário não apenas identificado com o advento da covid-19. “É plausível pontuar que a precarização social do trabalho uberizado, além de ter sido potencializada pelo contexto biopolítico pandêmico, encontra, ainda, entraves outros, como a concretização dos direitos sociais, que demonstra suas falhas na distribuição de renda. Na prática, as relações contemporâneas, plurilaterais, complexas, incertas, voláteis, ambíguas e dinâmicas, carecem da construção de pilares que melhor delineiem as estratégias patronais apoiadas pelos Estado”, diz ainda Paula Beltrão, sobre o contexto registrado pela pesquisa.

Jornada de trabalho e dificuldades

Com 23 anos de idade e um ano e meio de trabalho exclusivo no ramo de entrega de alimentos por aplicativo, Higor Castro acredita que o número de motoentregadores em Belém cresceu ainda mais do que a marca identificada pela pesquisa. “A expansão do comércio delivery tem sido intensa. Antes o foco maior era na área alimentar, mas hoje em dia é um serviço por empresas que trabalham com joias, por exemplo, e diversas outras. Por isso, a gente observa a presença muito forte de pessoas trabalhando com entregas nas ruas”.

Para Higor Castro, a categoria precisa ser mais respeitada, tanto pelos clientes quanto em relação a garantias de direitos. “Ultimamente, tem causado muito transtorno para nós o fato de aplicativos colocarem restrição para a nossa entrada em condomínios. Isso faz com que muitos clientes, que achem que é obrigação nossa levar o alimento até a porta deles, sem conhecer a realidade”, reclama.

Com uma jornada de trabalho que varia de 10 a 12 horas por dia, Higor afirma que é possível ganhar, por mês, de R$ 3 mil a R$ 4 mil. “Mas o valor pode aumentar, dependendo de como a pessoa trabalha. Se, por exemplo, trabalhar também com transporte de passageiros, se roda mais em horários de pico ou em dias mais movimentados, o valor aumenta”, conclui.

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