Mais da metade dos consumidores do Norte prefere usar cartão de crédito, diz pesquisa
Consultor financeiro afirma que a modalidade tem vários benefícios, mas é preciso estar atento ao risco de endividamento
Mais da metade da população consumidora da região Norte prefere fazer compras no cartão de crédito, chegando ao percentual de 56%, de acordo com o estudo Mapa Serasa Crédito de maio. O levantamento mensal aponta que a modalidade assumiu a liderança entre as mais desejadas pelos consumidores. No Brasil, a taxa passou de 45% em março para 55% em maio.
Consultor financeiro, Rafael Carvalho afirma que a preferência tem crescido, primeiramente, pelo aumento da oferta, já que nos últimos anos tem ficado mais fácil ter um cartão de crédito, até por causa das fintechs, bancos digitais e lojas que oferecem cartão de crédito sem uma análise de crédito muito rigorosa.
“Melhorar o acesso ao crédito, em teoria, é bom, porém, no caso do cartão de crédito devemos ter bastante cuidado. Se usado de forma controlada e consciente, ele pode ser um grande aliado para organizar certos gastos e ainda trazer benefícios como programa de pontos, mas é muito importante entender que o cartão de crédito é uma das maiores causas do endividamento do brasileiro atualmente. Como tudo em nossa vida, devemos buscar uma relação saudável com essa ferramenta”, pontua.
Responsabilidade
Para utilizar o crédito de maneira favorável, Rafael indica, em primeiro lugar, evitar compras parceladas. A melhor forma para isso é criar uma regra que se encaixe na realidade. Por exemplo, só parcelar compras acima de R$ 300. “Isso faz com que a sua fatura reflita de maneira mais realista o seu custo de vida real e sempre vai lhe confrontar com uma decisão de ‘eu realmente preciso disso?’, já que você terá de pagar um valor relevante de uma vez”.
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Quantificar os gastos para que eles “caibam” no orçamento é mais importante do que ter um tipo certo ou errado de despesa para o cartão de crédito. O especialista detalha: se uma pessoa decidir pagar nessa modalidade a conta de energia elétrica, o transporte de aplicativo, a conta do celular, o mercado e os gastos variáveis (comer fora, ifood, lazer) e isso custa R$ 3 mil por mês, é preciso balancear para que esse valor permaneça o mesmo no fim do mês. Ou seja, se a uma semana do fechamento da fatura o custo está em R$ 2.500, o consumidor precisa ter ciência de que tem apenas R$ 500 para os últimos dias do mês.
Vantagens do crédito
Não é à toa que o cartão de crédito é tão popular: há inúmeros benefícios em sua utilização, sendo os mais populares os pontos em programas de fidelidade e o cashback. No entanto, Rafael diz que essas vantagens não vêm de graça, mas são pagas pela anuidade do cartão. “É importante refletir se os benefícios realmente serão úteis.
“É muito comum eu tentar me convencer de que em algum momento vou precisar de uma sala VIP, mas se eu viajo uma vez por ano, na prática, esse benefício não vai ser útil para mim. Mas é um argumento que eu uso para convencer a mim mesmo de que eu preciso desse cartão. Ou então acumular pontos para milhas e usar esses pontos para comprar uma cafeteira que custa o dobro do preço no site do programa de pontos”, alerta.
O cenário ideal, segundo o consultor financeiro, é ter um único cartão em que a pessoa consiga pontuar sem lhe custar anuidade, sem "obrigar" a gastar mais do que precisa ou pode para ter a isenção de anuidade, e onde seja possível organizar e controlar as despesas. “Existem cartões que dão cashback e esse dinheiro que volta vai para uma poupança que fica acumulando e rendendo, eu acho bastante interessante essa modalidade pois a gente consegue saber o quanto temos e ainda nos estimula a poupar”.
Riscos e perigos
Rafael lembra que o cartão de crédito tem hoje os juros mais caros do mercado, podendo chegar a 900% ao ano, segundo o Banco Central. O maior risco, portanto, é usar a modalidade de forma desordenada e isso se transformar em uma dívida inadimplente, pois essa dívida vira uma "bola de neve" muito rapidamente, na opinião do especialista. Confira algumas dicas no infográfico.
A advogada Arcília Oliveira conta que já usou muito a modalidade de crédito, ao ponto de a fatura fechar em valores superiores ao seu salário na época. “Eu usava ele para pagar despesas como alimentação, transporte, energia e consumos. Eu tinha dois cartões de crédito e um deles usava somente para o transporte por aplicativo”, lembra.
O que mais “prendeu” a consumidora a essa prática foi o descontrole. Ela utilizava todo o salário para quitar o cartão, ficava sem recursos para passar o mês, tornando-se dependente do cartão. “Sabemos que a renda mensal do trabalhador brasileiro não é suficiente para se ter uma boa qualidade de vida, e por não ter o dinheiro na hora para suprir as necessidades, acabamos recorrendo ao cartão de crédito”.
Ela decidiu abandonar o cartão quando se deparou com uma situação crítica: precisou fazer o parcelamento de uma fatura e não conseguiu gerenciar os meses seguintes. A dívida foi se acumulando e, para se manter, não podia utilizar o dinheiro para quitar o cartão, de modo que os juros se transformaram em uma bola de neve durante quatro meses. Arcília usou o dinheiro de uma rescisão de contrato de trabalho para finalmente quitar o cartão, se livrando da dívida. Nesse meio tempo, perdeu o limite de crédito no banco.
“Hoje em dia não uso mais o cartão de crédito, somente se houver algo específico a ser comprado em parcelas que se encaixem ao meu orçamento mensal. A transição foi dura, mas libertadora. Atualmente, meu nome está limpo há mais de um ano e sem restrições, e depois dessa lição, somente recomendo o uso do cartão de crédito de forma consciente e em situações de necessidade ou urgência”, orienta a advogada.
Uso do crédito na região Norte
- Cartão de crédito é preferência de 56% das pessoas
- 6 em cada 10 consumidores afirmam que devem solicitar crédito extra nos próximos dois meses
- Cartão de crédito assume a liderança na busca por dinheiro extra.
- Empréstimo pessoal e consignado perdem espaço entre as modalidades mais desejadas
Fonte: Serasa
Melhores práticas no uso do cartão
- Ter apenas um cartão de crédito, pois muitos cartões atrapalham o controle do orçamento
- Evitar compras parceladas, principalmente em despesas menores, como presentes, roupas, consumo em geral
- Não consumir para ganhar milhas; os pontos devem ser consequência do consumo saudável
- Evitar pagar boletos no cartão para não pagar juros; existem serviços em que é possível cadastrar o cartão para pagar sem a incidência de juros
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