Mães encaram desafio do custo de alimentos para crianças com alergia em Belém

Preço elevado e falta de conscientização pressionam o orçamento de famílias, enquanto alternativas caseiras e apoio profissional surgem como soluções viáveis.

Jéssica Nascimento

O aumento no custo de produtos alimentícios sem glúten e sem lactose tem gerado um grande desafio para as famílias de crianças com alergias alimentares. Embora esses produtos sejam essenciais para garantir a saúde e bem-estar de muitos pequenos, o preço elevado tem impactado diretamente o orçamento familiar. Enquanto nutricionistas buscam alternativas mais acessíveis, mães relatam a luta diária para garantir uma alimentação segura e equilibrada para os filhos. A falta de apoio institucional e a conscientização pública sobre o problema também complicam ainda mais a situação.

Em um cenário onde a alimentação é crucial para crianças com intolerâncias e alergias alimentares, as famílias se veem obrigadas a fazer escolhas difíceis entre manter a dieta adequada e respeitar as restrições orçamentárias.

A realidade das crianças com alergia alimentar: um desafio crescente

De acordo com a ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), cerca de 8% das crianças de até 2 anos no mundo sofrem de alguma alergia alimentar. Esse número, embora alarmante, reflete apenas uma parte do problema, pois no Brasil não existem estatísticas oficiais que indiquem com precisão a quantidade de crianças afetadas

Segundo a entidade, o leite e o ovo são os principais alimentos que causam reações alérgicas na infância, seguidos do trigo e, mais recentemente, de amendoim, castanhas e até mesmo frutas como a banana.

Essa realidade, no entanto, tem se refletido em uma outra questão importante: o custo de alimentos adequados para essas crianças. Alimentos sem lactose e sem glúten, essenciais para garantir a saúde das crianças com alergias, são significativamente mais caros que os convencionais, o que tem colocado as famílias em uma situação financeira delicada.

O aumento no preço dos alimentos sem glúten e sem lactose: impacto no orçamento familiar

Mães como Laura Vieira, nutricionista e mãe de um menino de 3 anos com alergia a glúten, têm enfrentado um aumento de até 200 reais mensais apenas com a compra de produtos sem glúten. 

image Laura Vieira com o filho. (Foto: Cristino Martins)

"Nos últimos meses, os preços aumentaram cerca de 20%. Por exemplo, a aveia sem glúten custa pelo menos 9 reais, enquanto a versão com glúten custa 3 reais", conta. 

Esse aumento, somado à necessidade de substituir outros itens alimentícios, tem pressionado ainda mais o orçamento das famílias.

Além disso, muitos produtos com restrição a glúten ou lactose são mais difíceis de encontrar, e a variedade entre supermercados pode variar bastante, o que obriga as famílias a se adaptarem constantemente.

Tainá Danin, mãe de um menino com intolerância a glúten, relata: "Percebemos a diferença de preço entre os produtos e, para reduzir o impacto financeiro, migraremos de supermercado sempre que possível, buscando opções mais acessíveis. Mas, sem dúvida, houve um aumento significativo nas despesas."

As causas do preço elevado: processos industriais e demanda limitada

Os nutricionistas consultados apontam que o custo elevado desses produtos se deve a vários fatores. Para Giulia Priante, nutricionista especializada, o processo de produção é um dos principais responsáveis. 

"Produtos sem glúten ou sem lactose exigem uma produção separada para evitar contaminação cruzada, o que torna o processo mais caro. Além disso, as matérias-primas, como farinhas alternativas e enzimas, são naturalmente mais caras", explica.

O nutricionista Lucas Ximenes também reforça essa ideia.

"O preço de produtos sem lactose e sem glúten é aumentado devido à oferta e procura. Como esses produtos são fabricados em menor escala, o custo é naturalmente mais alto. Além disso, a presença de enzimas e farinhas mais caras, como farinha de amêndoas e arroz, contribui para o valor elevado", afirma.

Segundo ele, "isso gera um reajuste financeiro nas famílias. Muitas tentam substituir esses produtos por alternativas mais baratas ou versões caseiras."

A demanda menor também contribui para o aumento do preço, pois a produção em larga escala de produtos convencionais gera economia e diminui os custos. Além disso, muitos desses produtos acabam sendo direcionados para um público com maior poder aquisitivo, o que resulta em um marketing direcionado para esse nicho e, consequentemente, um valor mais alto.

Dificuldades no dia a dia: contaminação cruzada e falta de conscientização

A alimentação adequada para crianças com intolerâncias alimentares não se resume à compra de alimentos especializados. Para muitas famílias, as dificuldades diárias incluem a contaminação cruzada, especialmente no caso de intolerância ao glúten. 

Tainá Danin compartilha que "a maior dificuldade é garantir que meu filho não seja contaminado, pois em casa ainda temos produtos com glúten. Isso exige muito cuidado, como separar utensílios e louças."

Além disso, o cenário em restaurantes e estabelecimentos comerciais também se apresenta desafiador. Muitas vezes, os atendentes não possuem o conhecimento necessário sobre os produtos sem glúten ou sem lactose, o que aumenta o risco de reações alérgicas e torna o processo ainda mais frustrante.

Para Lucas Ximenes, essa falta de conscientização é um problema sério.

"Há uma enorme falta de informação sobre alergias alimentares. Muitas famílias não sabem como adaptar a alimentação, e as próprias instituições de saúde e restaurantes muitas vezes não têm a preparação necessária para atender a essas demandas, o que resulta em maior risco de complicações para as crianças”, declara.

Alternativas caseiras e soluções econômicas: o papel da educação nutricional

Diante da dificuldade de acessar produtos especializados, muitas famílias buscam alternativas caseiras e receitas adaptadas para garantir uma alimentação saudável e acessível. 

Laura Vieira, que além de nutricionista é mãe de um filho com alergia alimentar, destaca a importância do preparo caseiro. "Cozinhar em casa, fazer farinha e leite vegetal, por exemplo, são alternativas mais baratas e saudáveis. Isso requer tempo e paciência, mas é uma solução viável", afirma.

Além disso, a orientação profissional pode ajudar as famílias a fazer escolhas mais inteligentes. A nutricionista Giulia Priante recomenda que as famílias priorizem alimentos naturalmente sem glúten ou lactose, como arroz, legumes, frutas, carnes e ovos. "Esses alimentos são mais acessíveis e nutritivos, e a cozinha caseira pode ser uma solução para quem enfrenta dificuldades financeiras."

Lucas Ximenes também reforça essa ideia, sugerindo substituições inteligentes para reduzir custos.

"Trocar produtos industrializados caros por versões caseiras é uma excelente maneira de economizar. Por exemplo, preparar leite vegetal em casa, ao invés de comprar versões prontas, é muito mais acessível e saudável. Além disso, planejar as refeições de forma estratégica pode ajudar a evitar desperdícios e manter o orçamento sob controle", recomenda.

Falta de apoio institucional e políticas públicas: um grito de socorro

Apesar das dificuldades enfrentadas pelas famílias, a falta de políticas públicas que incentivem a produção de alimentos sem glúten e sem lactose mais acessíveis agrava ainda mais a situação. Para as mães e nutricionistas entrevistadas, o apoio governamental é essencial para tornar esses produtos mais acessíveis e para promover a conscientização sobre alergias alimentares.

"Não há um controle rigoroso sobre os rótulos e muitas vezes os produtos 'sem glúten' podem ter contaminação cruzada. O apoio público é inexistente, e a sociedade ainda não entende a seriedade das alergias alimentares", diz Laura.

Lucas Ximenes conclui: "O governo poderia implementar políticas públicas que incentivassem a produção e distribuição desses produtos de forma mais acessível. Além disso, seria fundamental uma maior conscientização da população sobre as alergias alimentares, para que as famílias não se sentissem isoladas ou incompreendidas."

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA