Endividamento das famílias paraenses sobe antes do Natal, mas inadimplência cai, diz Fecomércio-PA

Principal tipo de dívida é o cartão de crédito; ele representa 82,6% do total de famílias paraenses endividadas de todas as faixas de renda.

Jéssica Nascimento
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No Pará, 68,6% das famílias do Pará que recebem até 10 salários mínimos estão endividadas. O número também é alto para as famílias com mais de 10 salários mínimos: 51,2%. Os dados, referentes ao mês de novembro e divulgados nesta quinta-feira (05.12), são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e analisada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Pará (Fecomércio/Pa). Segundo a pesquisa, houve um aumento no endividamento de famílias paraenses em novembro em relação a outubro deste ano - de 66% para 66,9%. O crescimento na taxa de famílias endividadas foi ainda maior na comparação com o mesmo período (novembro), do ano passado, quando o percentual era de 60,9%. 

Por outro lado, o percentual do total de famílias do estado inadimplentes reduziu. Em outubro, eram 23,2%; em novembro, o número foi de 21,8%. Os índices são os menores de 2024. Nas famílias do Pará que recebem até 10 salários mínimos, a inadimplência atingiu 23,3% no mês passado. Já as que recebem mais de 10 salários mínimos por mês representaram 10,5% das inadimplentes em novembro. Os números também são os menores de todos os meses deste ano. 

Endividamento e inadimplência são diferentes. A pessoa endividada é a que tem dívidas, como empréstimos ou financiamentos, mas está pagando as parcelas regularmente. Quem está inadimplente deixa de pagar as dívidas dentro do prazo estipulado. 

Segundo a pesquisa, o aumento no endividamento pode ser atribuído à sazonalidade da época, "momento em que os consumidores realizam muitas compras e quando estas ocorrem de forma parcelada", aponta a análise feita pela Fecomércio. Já a queda na inadimplência, em parte, pode ser explicada pelos pagamentos das principais contas em atraso, em função da entrada de parcelas do 13º salário e/ou melhorias nas campanhas de renegociação de dívidas. 

Os principais tipos de dívidas das famílias paraenses em novembro deste ano, de acordo com a pesquisa, são o cartão de crédito (82,6%), o cheque especial (22,9%), o cheque pré-datado/boleto (10%), o crédito consignado (9,6%) e o crédito pessoal (5,2%). Há ainda outras dívidas com menor percentual entre o total de famílias do Pará. São elas: carnês (4,5%), financiamento de carro (2,3%) e financiamento de casa (2,1%).

Contexto de endividamento 

Conforme Eduardo Costa, economista e professor da UFPA, o principal fator que explica o número de famílias endividadas no estado é a inflação. “A alta dos preços tem tido um impacto muito negativo nos orçamentos familiares. Então, muitas famílias estão tendo que fazer uma recomposição de gastos para ajustar o seu orçamento”, analisa. 

A inflação impacta, segundo o economista, o aumento do preço do combustível, o aumento de energia elétrica e o aumento do gasto com alimentação, como compras no supermercado. “Muitas famílias estão em função da inflação tendo que recompor os seus gastos e inclusive a sua carteira de consumo. Aquelas que não estão conseguindo fazer isso estão realmente entrando num processo de endividamento exatamente pela defasagem salarial”, explica. 

Eduardo Costa acredita, além disso, que os gastos das famílias com jogos de apostas online - as famosas “bets” - têm relação com o endividamento. O economista admite não ter dados específicos para uma análise mais completa, mas afirma que o novo fenômeno social do país contribui para as famílias adquirirem dívidas, especialmente as das classes C e D. 

“Muitas famílias que recebem auxílios sociais, como Bolsa Família, estão também entrando numa ciranda de endividamento por causa de jogos, né? Então isso também precisa ser mais bem investigado, mas eu creio que isso também contribuiu para esse aumento do endividamento das famílias”, avaliou.

Para o economista, o hábito de usar cartão de crédito e cheque especial, este último como renda extra, impactam o orçamento das famílias e criam dívidas. “Isso gera uma ciranda de endividamento com muitos prejuízos. Prejuízos de ordem financeira, econômica e prejuízo de ordem emocional, porque a partir daí há uma série de consequências como ansiedade e depressão”, alerta o economista. 

Possíveis soluções para as dívidas

Eduardo Costa aconselha as famílias a procurarem um orientador financeiro para elaborar um planejamento de recomposição do orçamento. “Que as famílias tenham consciência daquilo que elas podem gastar dentro das suas possibilidades. E o planejamento financeiro aparece como sendo uma ferramenta fundamental para isso”, indicou.

Ele também defende o uso do 13º salário do final do ano para as famílias quitarem as dívidas de cartão de crédito e cheque especial. Além dessa possível saída, o economista acredita que a troca de dívidas por outra com juros menores pode ser uma solução. 

“De repente trocar essa dívida do cheque especial e do cartão de crédito por um uma dívida, por um empréstimo com uma taxa de juros menor no banco”, analisa.

 

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