Desigualdade tem recorde histórico no primeiro trimestre deste ano
Primeiro trimestre de 2021 pode ser considerado "o pior ponto da crise social", segundo a FGV Social
A perda do emprego ao longo da pandemia afetou mais os brasileiros pobres, o que fez a desigualdade de renda proveniente do mercado de trabalho subir a um recorde histórico no primeiro trimestre de 2021, segundo levantamento do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social). A série histórica teve início no quarto trimestre de 2012.
O Índice de Gini - indicador de desigualdade de renda - referente ao rendimento domiciliar per capita obtido do trabalho subiu a 0,674 no primeiro trimestre de 2021, ante 0,669 no quarto trimestre de 2020. No primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia ainda não tinha afetado tão fortemente o mercado de trabalho no País, o resultado era mais baixo: 0,642. O Índice de Gini mede a desigualdade numa escala de 0 a 1. Quanto mais perto de 1, maior é a concentração de renda.
O primeiro trimestre de 2021 pode ser considerado "o pior ponto da crise social", segundo a FGV Social. No período, a renda média per capita despencou para o patamar mais baixo da série histórica, de R$ 995, ficando abaixo de R$ 1 mil mensais pela primeira vez. O resultado significa um tombo de 11,3% ante a renda média recorde de R$ 1.122 alcançada um ano antes, no primeiro trimestre de 2020.
O estudo da FGV Social considera a renda efetivamente recebida do trabalho dividida por todos os integrantes da família, a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento calcula ainda o índice de bem-estar social, que combina as medidas de desigualdade de renda e do nível de renda da população. Após chegar ao primeiro trimestre de 2020 em R$ 402, praticamente no mesmo patamar do início da série histórica, em 2012, houve um tombo ao longo da pandemia, descendo ao piso histórico de R$ 324 no primeiro trimestre de 2021 - queda de 19,4% em relação ao patamar de um ano antes.
Os mais pobres perderam mais renda entre o primeiro trimestre de 2020 e o período equivalente de 2021. Enquanto a renda média geral caiu 10,89% em um ano, a metade mais pobre teve perda de 20,81%. "Em suma, a perda de ocupação foi a principal responsável pela queda de poder de compra médio dos brasileiros", escreveu Marcelo Neri, diretor do FGV Social, em relatório.
Os trabalhadores com menor nível de instrução foram os mais prejudicados pelo choque provocado pela pandemia no mercado de trabalho, confirmou um outro estudo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No primeiro trimestre de 2021, o número de horas trabalhadas pelos profissionais com ensino fundamental incompleto despencou 12,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Por outro lado, as pessoas com ensino superior completo trabalharam 11,7% mais horas que no mesmo período do ano anterior.
O levantamento mostra perda no número de horas trabalhadas também para quem tinha o ensino fundamental completo (-6,0%) e ensino médio completo (-4,1%). As informações têm como base também os microdados da Pnad Contínua do IBGE.
O estudo faz parte do cálculo do Índice de Qualidade do Trabalho (IQT), que começa a ser divulgado pelo Ipea, combinando informações de mercado de trabalho com dados de escolaridade e experiência de trabalhadores. O objetivo é acompanhar a evolução da produtividade do trabalho no País.
"Com base nesse indicador, analisamos as mudanças de composição do trabalho no Brasil de 2012 a 2020, que apresentam um viés de melhora mais acentuada nos momentos de crise econômica - período em que os trabalhadores menos qualificados estão mais expostos ao desemprego", explicou o Ipea, na Carta de Conjuntura divulgada ontem.
Houve crescimento médio de 2,31% ao ano na qualidade da população ocupada no mercado de trabalho brasileiro entre o segundo trimestre de 2012 e o primeiro trimestre de 2021. O resultado tem influência da melhora no nível educacional da população em idade ativa, mas é também puxado pela saída acelerada de trabalhadores com grau de instrução mais baixo em períodos de crise econômica.
O Índice de Qualidade do Trabalho (IQT) cresceu 2,7% ao ano na comparação entre o primeiro trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016; já entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020, auge do impacto econômico provocado pela crise sanitária, o resultado foi de 11,9%.
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