De 2020 a 2022, saldo de contratações cresce mais de 66% no trimestre
Também tiveram destaque de janeiro a março mulheres, jovens e pessoas com ensino médio completo
O cenário econômico pós-pandêmico promete ser de retomada no mercado de trabalho, e este 1º de maio, quando é celebrado o Dia do Trabalho, pode ser de comemorações: o saldo de contratações no primeiro trimestre deste ano teve uma alta de 66,17% na comparação com o mesmo intervalo de 2020, quando ainda não havia nenhuma medida de restrição contra a covid-19 no Pará. É o que mostra o último Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado, do Ministério do Trabalho e Emprego, com dados até o mês de março.
No total, foram registradas 99.231 contratações, um crescimento de 30,63% em relação ao primeiro trimestre de 2020, em que o número chegou a 75.961. As demissões, por sua vez, também tiveram alta parecida, de 29,21%, passando de 51.132 naquele ano para 65.931 no trimestre finalizado em março. O saldo é a diferença entre as admissões e os desligamentos.
O economista Valfredo de Farias explica que, de fato, está havendo uma retomada da economia. “Hoje, as empresas e a população já sabem que uma quarta onda da covid-19 é bem mais difícil do que era antes, até porque as pessoas já estão vacinadas, pelo menos a grande maioria, então isso faz com que, dificilmente, tenhamos alguma restrição mais agressiva como nos anos anteriores”, diz. Isso, segundo ele, com certeza aumenta a perspectiva de retomada, porque as empresas começam a investir mais e contratar mais, visto que o mercado está mais seguro.
O setor de serviços foi o que teve o melhor saldo de contratações no primeiro trimestre de 2022 – a soma foi de 4.923, o que representa uma alta de 33,59% em relação a 2020. Atrás dele, aparecem a agropecuária, com saldo de 1.134 e reajuste de 401,76% na mesma comparação, e o comércio, que gerou saldo de 881 e aumento de 227,5% no período. Tiveram resultado negativo a construção (-1.873) e a indústria (221) de janeiro a março deste ano.
Características do trabalhador
As informações do Caged mostram ainda quais profissionais encontram mais oportunidades no mercado de trabalho. Os que possuem nível médio completo ficaram com o maior saldo de contratações no primeiro trimestre do ano, com um total de 3.066. Em seguida, aparece o ensino superior completo (1.923), ensino médio incompleto (473) e superior incompleto (137). Já a faixa etária mais contratada no período foi a de 18 a 24 anos, que gerou um saldo de 5.986, à frente de 25 a 29 anos (1.000) e de até 17 anos (849). As faixas etárias a partir de 30 anos ficaram negativas, sendo que o pior resultado foi para as pessoas que têm entre 30 e 39 anos (-1.318).
As mulheres ficaram com uma parcela maior do mercado paraense de janeiro a março deste ano, com saldo de contratações de 3.573, contra o de 1.271 dos homens. Para Valfredo, este será um comportamento natural do mercado a partir de agora. “Como consultor empresarial, vejo que, hoje em dia, as mulheres estão muito mais presentes ativamente no mercado corporativo do que os homens, cada vez mais conquistando seu espaço. Acho que é uma tendência muito forte. Se você pegar um departamento financeiro de 20 anos atrás, era só de homens, hoje é só de mulheres. Até porque elas estão maioria nos processos seletivos, então é natural que as mulheres estejam ganhando mais vagas de emprego, elas estão muito mais qualificadas que os homens”.
A estudante de direito Arcília Oliveira, de 21 anos, se encaixa em todos esses perfis. Embora ainda esteja no sétimo semestre do curso superior em uma faculdade de Belém, já trabalha formalmente com carteira assinada há mais de dois anos, desde março de 2020. Ela atuou em um escritório de advocacia durante esse período, em um cargo de nível médio, na função de auxiliar administrativa, e acabou de conseguir seu segundo emprego na mesma área. “Meu primeiro processo de contratação foi muito rápido porque eles precisavam de mim em tempo integral. Eu já estava na empresa havia quatro meses, como estagiária, e na época ficava lá apenas cinco horas por dia”, lembra.
O que motivou a estudante a trocar o estágio pelo emprego, mesmo com a jornada de estudos à noite na faculdade, foi o salário mais alto, a experiência adquirida, a responsabilidade que seria confiada a ela e a oportunidade de começar a crescer dentro da empresa mesmo sem estar formada. Ela conta que adquiriu mais conhecimento porque tinha tempo e autonomia em período integral.
Durante a pandemia, seu primeiro contrato de trabalho foi interrompido pelo período de 30 dias a pedido dela, que estava com medo da contaminação pela covid-19. No restante, sempre esteve presente no escritório e não chegou a trabalhar na modalidade home office – nem teve cortes de salário.
Agora, com a flexibilização maior da pandemia, Arcília sente que o mercado está, de fato, tendo uma retomada. “Tem muitas oportunidades de emprego sendo divulgadas, inclusive aceitei uma agora e começo nesta segunda-feira. Estava procurando emprego e achei várias vagas, e percebi que os salários, assim como as bolsas de estágio, aumentaram um pouco desde a minha primeira contratação”, diz.
Após a conclusão do curso de direito, a estudante pretende advogar por pelo menos dois anos na área do direito familiar, cível e imobiliário, conciliando o trabalho com o estudo para prestar concurso público. Também pretende fazer uma pós-graduação para se especializar e se tornar uma profissional mais capacitada. “Com certeza, a experiência em um cargo de nível médio nos traz para mais perto da realidade da vida profissional pretendida após a conclusão do curso. Passamos a saber a realidade do cotidiano, assim como o quer e o que não quer seguir na carreira”, indica Arcília.
Trabalho intermitente cresce no Pará
A relação entre empregado e empregador sofreu alterações com a reforma trabalhista, prevista na lei 13.467, de 2017. Uma das modalidades criadas foi o trabalho intermitente, regime no qual a prestação de serviços por parte do trabalhador não é contínua, ou seja, há uma alternância de períodos de trabalho e inatividade. Então o colaborador fica à espera de uma convocação para prestar os seus serviços novamente e pode trabalhar para outros contratantes enquanto estiver inativo.
Esta modalidade teve crescimento expressivo no Pará no primeiro trimestre deste ano, segundo os dados do Caged. Na comparação com o mesmo intervalo de 2020, a alta foi de 141,42%, passando de 140 para 338 o saldo de contratações. Já em relação ao ano passado, alcançou 1.200%.
“O trabalho intermitente, assim como o serviço terceirizado, veio muito forte durante a pandemia e veio para ficar. Muitos setores viram que não precisa estar com aquele funcionário ali oito horas por dia, durante sete ou seis dias por semana. Eles viram que dá para se fazer um bom trabalho com pessoas terceirizadas, por isso cresceu tanto. E digo mais: não só de pessoas, mas de empresas também, por exemplo, terceirização de marketing, de departamento financeiro, de tecnologia da informação e mais, porque, muitas vezes, diminui custos para a empresa e aumenta a produtividade.
Panorama da geração de emprego no Pará no primeiro trimestre
2022:
Saldo: 4.844
Admissões: 99.231
Demissões: 94.387
2021:
Saldo: 17.439
Admissões: 98.967
Demissões: 81.528
2020:
Saldo: 2.915
Admissões: 75.961
Demissões: 73.046
Variação do saldo de 2020 para 2022: 66,17%
Variação do saldo de 2021 para 2022: -72,22%
Saldo de contratações por sexo no primeiro trimestre de 2022
Homens: 1.271
Variação de 2020 para 2022: -87,86%
Mulheres: 3.573
Variação de 2020 para 2022: 46,37%
Saldo de contratações por faixa etária no primeiro trimestre de 2022
Até 17 anos: 849
De 18 a 24 anos: 5.986
De 25 a 29 anos: 1.000
De 30 a 39 anos: -1.318
De 40 a 49 anos: -779
De 50 a 64 anos: -698
65 anos ou mais: -196
Saldo de contratações por grau de instrução no primeiro trimestre de 2022
Analfabeto: -26
Fundamental incompleto: -516
Fundamental completo: -213
Médio incompleto: 473
Médio completo: 3.066
Superior incompleto: 473
Superior completo: 1.923
Fonte: Caged
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA