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Da mineração à pecuária, Pará pode ser afetado após tarifaço de Donald Trump

Economista afirma que é o momento de fazer uma reorganização do portfólio de exportações brasileiras, optando por outros mercados

Elisa Vaz
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Os produtos paraenses podem ser afetados pela guerra comercial de proporções globais impulsionada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que determinou novas tarifas de importação para o México, Canadá e a China. Os três países retaliaram e anunciaram, nesta terça-feira (4), taxas para produtos importados dos Estados Unidos. O embate acende um alerta sobre mudanças na dinâmica do comércio global, que podem afetar o Brasil e, consequentemente, o Pará de diferentes maneiras.

Economista e professor da Universidade da Amazônia (Unama), Mário Tito, que é especialista em relações internacionais, afirma que o mundo vive uma mudança nos paradigmas de organização do sistema internacional do ponto de vista econômico e geopolítico. “Existem estruturas que organizam o mundo desde 1945, especialmente marcado pelo multilateralismo, pelas práticas de cooperação e integração, que estão definhando, especialmente com a entrada de Donald Trump no poder”, afirma.

O que ele enxerga é um protecionismo criado pelo presidente americano, o que Tito diz ser “curioso” por se tratar de um país dito liberal, que agora busca reforçar o mercado e a indústria internos e praticar taxas que prejudiquem a entrada de produtos estrangeiros. “Isso, na verdade, qualquer país pode fazer, mas quando os Estados Unidos fazem isso, eles mexem na dinâmica de todo o sistema e isso gera uma necessidade de retaliação. Então eu chamaria isso de início de uma guerra comercial tarifária”.

Agronegócio

Segundo o economista, haverá uma reverberação dessas medidas na maioria dos países, incluindo o Brasil. Localmente, os setores que mais devem ser afetados, diz, são aqueles que fazem comércio exterior com os Estados Unidos, em especial os produtos de origem mineral, as commodities em geral e também a agropecuária.

“O Pará, de alguma forma, acaba sendo atingido de certa forma, porque os EUA também são um dos destinos possíveis da produção do Estado. Há um impacto, logicamente, mas há uma espécie de vias de saída possíveis, considerando que a economia brasileira tem uma multilateralidade muito forte na questão econômica, assim como o Pará, que já vem praticando outros direcionamentos das suas exportações”, pontua Mário Tito.

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Zootecnista e diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Guilherme Minssen afirma que, para o agronegócio brasileiro, que sustentará o saldo da balança comercial com cerca de US$ 127 bilhões, a nova posição norte-americana traz um horizonte de oportunidades, em grãos, suco de laranja e carnes onde o Brasil pode ocupar espaços deixados pelos EUA.

“Todos os produtos do agronegócio podem ser afetados com as tarifas. Quando elas chegam, todo o mercado precisa ser reexaminado. Algumas coisas começam a mudar com essa política do Trump. Um exemplo: caso o tarifaço que ele está fazendo atinja China, México e Canadá, isso pode vir a beneficiar o Brasil. Um dos fatores que pode não deixar o nosso mundo tranquilo é a aproximação da Argentina nesse vácuo. Por questões políticas, o presidente Milei está mais próximo do presidente Trump, e a Argentina pode aproveitar essa grande oportunidade e essa janela de negociação”, explica.

De acordo com o representante do setor, ainda é muito cedo para avaliar qualquer repercussão de uma forma concreta. Porém, Minssen cita que o Pará exporta muito suco de laranja, sendo um grande produtor da fruta na região de Capitão Poço, no nordeste paraense. “Falta suco de laranja nos Estados Unidos, isso não vai deixar margem para eles colocarem uma taxa maior e deixarem um produto que é muito consumido pelos americanos com problemas de abastecimento”, opina.

Outro exemplo mencionado pelo diretor é a carne. De acordo com Guilherme, nunca o rebanho americano esteve tão reduzido, e a bovinocultura de corte dos EUA está com números bem menores do que só chegaram na década de 1960. Isso, para ele, pode ser uma grande oportunidade de o Pará exportar mais carne para o país. O zootecnista lembra que o Brasil é muito importante para a segurança alimentar de outras localidades, com posição de destaque no agronegócio mundial, preço justo e boa logística.

Caso haja redução na quantidade de produtos do agronegócio enviados aos EUA após a taxação, de acordo com o economista Mário Tito, outra possibilidade é usar esse momento para alimentar mais o mercado interno. Isso resulta em um benefício para a população, porque, com uma oferta interna maior, a tendência é que o preço seja reduzido.

Novos mercados

Com a necessidade de reorganização do portfólio de exportações brasileiras, o professor considera que os Brics - grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - e o Mercosul - cujos países-membros são Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - são “players interessantes”. No primeiro caso, são as economias que mais crescem no mundo e, portanto, há um mercado consumidor grande, principalmente considerando que a China e a Índia são os países com as maiores populações mundiais, passando de um bilhão.

“Eu vejo a possibilidade de incrementar isso. Nós não estamos mais naquele mundo bipolar da Guerra Fria, unipolar recentemente. Nós temos uma grande chance de incrementar os Brics. E outra coisa também interessante é perceber o Mercosul. A ideia de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia abre um leque de possibilidades de negociação que não se via antes. Percebe-se que, enquanto uma janela está se fechando, outras duas grandes portas se abrem”, declara o economista.

Quanto aos impactos econômicos que a guerra pode trazer ao Brasil, Tito ressalta que os indicadores macroeconômicos brasileiros estão muito sustentados, melhorando há cerca de um ano, a exemplo do Produto Interno Bruto (PIB), que tem aumentado; o indicador macroeconômico do desemprego, que vem diminuindo; e a inflação, que, para ele está controlada. Caso o dólar fique muito alto, Mário lembra que o Banco Central tem um papel estratégico para manter a taxa de câmbio dentro dos patamares mais razoáveis. Portanto, ele considera que o Brasil está preparado para os sobressaltos de Donald Trump.

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