Construção civil caminha para recuperar volume de vendas habitacionais
Setor tem expectativa de que o mercado volte aos patamares de antes da pandemia, já neste segundo semestre
As empresas da construção civil e incorporação imobiliária estão conseguindo recuperar o volume de vendas das unidades habitacionais. Isso tem deixado o setor otimista e com expectativa de que o mercado volte aos patamares de antes da pandemia, já neste segundo semestre. O estudo "Covid-19: impactos e desafios para o mercado imobiliário Norte e Nordeste”, feito pela Bureau de Inteligência Corporativa (Brain), com empresários do ramo, revela um impacto menor do que o esperado neste segmento. De acordo com o levantamento, feito em junho, 72% das empresas dessas duas regiões fecharam vendas durante a pandemia e em 78% dos casos as negociações começaram depois de 20 de março, início da crise.
Na pesquisa anterior, feita em abril, o percentual de negócios fechados nessas regiões era menor, de 48%, o que mostra um crescimento considerável em junho. "Isso significa que, à despeito da crise pandêmica, há de fato certa resiliência na compra imobiliária. Pode-se entender que o comprador que efetiva sua aquisição no momento atual está bastante consciente das expectativas da economia brasileira para o futuro próximo. Pode-se dizer que este comprador, apesar das circunstâncias, manteve sua intenção original", avaliou Claubert Barreto, consultor Comercial da Brain.
Das unidades vendidas em junho, 42% eram de padrão econômico e standart e 40% padrão médio e alto. Para chegar aos números, nessa fase do estudo, foram ouvidas 142 empresas das regiões Norte e Nordeste, entre 10 de junho e 25 de junho. Metade dos empresários que responderam a pesquisa disseram que o cenário se manteve o mesmo, na comparação com o mês anterior. Outro 20% acreditam que melhorou um pouco e para 2% melhorou muito. Outros 20% acreditam que piorou um pouco e para 8% piorou muito.
Alex Dias Carvalho, Presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará (Sinduscon/PA), diz que os resultados demonstram a importância das medidas apresentadas pelo Governo Federal, assim como as medidas locais de proteção à saúde. "É de se comemorar sim uma retomada do setor, que vinha há tempos combalido, perdendo postos de trabalho sucessivamente, nos anos de 2015 a 2018, em 2019 oscilou, e 2020 estava numa crescente. A pandemia veio para colocar um freio nessa retomada, mas o mercado imobiliário da Região Metropolitana de Belém já demonstra sinais da sua força e assim vai poder contribuir para o crescimento do emprego, geração de renda e novo negócios", ressaltou.
Ele acredita que o mercado pode chegar aos patamares "pré-pandemia" e até em níveis superiores do que foi demonstrado no último trimestre de 2019, quando houve resultado positivo. "O consumo de imóveis é diferente do consumo de um bem não durável. Além de ser uma segurança patrimonial, é uma necessidade básica da família. Quando se tem isso, aliada a melhores condições de acesso a crédito, a tendência é que o resultado seja mais rápido. A combinação desses fatores, da necessidade com a oportunidade, da segurança que o imóvel sempre foi, como patrimônio familiar, faz com que a retomada seja mais impactante e com isso traz geração de empregos forte. O setor da construção civil, movimenta 97 outros segmentos da economia. Por isso, investir na construção civil é sempre importante do ponto de vista de economia", enfatizou, observando que o segmento movimenta desde a grande indústria, como a siderúrgica que fornece o aço, ao pequeno empreendedor, que fornece alimentação aos funcionários das empresas do ramo.
Presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-PA), Bruno Miléo explica que, historicamente, os lançamento começam no segundo trimestre, período em que as empresas precisaram adiar as vendas, por causa da pandemia. Mas as incorporadoras continuaram com o seu planejamento, postergando os lançamentos para o segundo semestre. "O cliente segurou, mas a procura continuou, não no mesmo mesmo ritmo de antes. Os lançamentos que deixaram de ocorrer agora, no segundo trimestre, vão ocorrer no terceiro e quarto. Claro que a pandemia é uma situação inusitada que a gente viveu, mas a gente espera um bom segundo semestre tanto na continuidade de vendas, como lançamentos que ficaram represados".
Além disso, segundo Miléo, o mercado está se recuperando mesmo com os preços sendo mantidos. "Alguns fornecedores de insumos começaram a subir os seus preço, provavelmente os lançamentos do segundo semestre vão estar com preço maior", declarou. Os números envolvendo a faixa de renda também têm surpreendido. "Foram todos os segmentos, isso muito pelos incentivos que foram lançados, principalmente pela Caixa Econômica".
Diante deste cenário, o presidente da Ademi afirma que o impacto econômico provocado pela pandemia no setor foi menor do que eles esperavam. "O nosso setor já vinha de recuperação, depois de cinco anos de crise. A gente virou o ano com esse viés de alta. Com a melhora da situação na nossa cidade, voltou a procura. Claro que a gente não pode subestimar a situação, mas a gente espera um segundo semestre bem melhor. Isso vai ser bom para o consumidor, porque você vai ter um segundo semestre com uma oferta alta de imóveis".
Efeitos
Mesmo com essa tendência de retomada das vendas, a pandemia chegou a afetar o setor, com as paralisações impostas, necessárias para prevenção à covid-19. Em relação às soluções estratégicas adotadas pelas empresas do ramo, durante esse período, 41% disseram que precisaram atrasar os lançamentos previstos por 120 dias – em abril esse percentual era de 31%. Por outro lado, caiu de 39% para 29% o percentual de empresas que disseram ter adiado o lançamento sem prazo para começar. Entre abril e junho, também aumentou de 12% para 15% o número de empresas que vão manter a data de lançamento, de acordo com a pesquisa feita nas regiões Norte e Nordeste.
A pesquisa revela ainda que 75% das empresas do setor dessas regiões recorreram às medidas provisórias do Governo Federal, para suspensão de contrato de trabalho e redução de jornada, percentual bem acima da média nacional, que foi de 54%. Uma das possibilidades apontadas para isso, durante a apresentação dos dados, na última quarta-feira (15), foi o maior número de cidades do Norte e Nordeste que adotaram lockdown (bloqueio total) e maior tempo de paralisação envolvendo a construção civil.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que, de janeiro a maio, a indústria da construção, em Belém, teve 4.662 trabalhadores admitidos contra 3.899 desligados, resultando no saldo positivo de 763 postos de trabalho. Somente em maio, houve saldo negativo de 45 postos, com 635 admitidos e 680 desligados.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Imobiliária de Belém, Ailson Cunha, diz que o desemprego no setor é grande. Ele também critica as medidas provisórias do Governo Federal, que possibilitaram férias coletivas, suspensão de contrato e redução de jornada, afirmando que elas retiraram direitos dos trabalhadores. "Teve empresa que aproveitou e deu férias coletivas, ele (trabalhador) não recebeu e quando ele voltasse é que ele ia receber e o terço das férias só vai receber agora, final do ano. Sem contar a redução da jornada", declarou. Ailson defende que os trabalhadores possam permanecer em isolamento em casa, mas com seus direitos garantidos. "Têm empresas que demitiram e não temos uma expectativa boa para o final do ano, achamos que o necessário seria ficar em casa. Estamos numa campanha salarial, porque nossa data base é agosto, não sabemos como vai ficar essa campanha. Hoje, há uma crise sim no País, mas ela está só arrebentando com a classe trabalhadora. O Governo fica mais do lado dos empresários", argumentou.
Ritmo das obras
Pelo estudo, 52% das empresas do Norte e Nordeste precisaram reduzir o ritmo das obras e outros 14% paralisaram. No Brasil, esses percentuais foram de 39% e 6%, respectivamente. Apenas 34% das duas regiões mantiveram as obras no ritmo anterior, contra 55% da média nacional.
Entre abril e junho, nas regiões Norte e Nordeste, caiu de 20% para 10% o número de empresas que acreditam que a pandemia teve um impacto muito alto na manutenção das atividades e subiu de 8% para 12% as que disseram que o impacto foi baixo. Outros 34% avaliam que o impacto é alto – em abril eram 31%; e 41% dizem que o impacto é médio – em abril esse percentual era de 38%.
Consumidores
Quanto aos consumidores, em junho, a intenção de compras nas regiões Norte e Nordeste era de 59%, contra 51% em abril, dentro da média nacional. A avaliação de Claubert Barreto, da Brain, é de que a epidemia “tirou” parte da intenção de compra original. Segundo ele, com variações nas três rodadas da pesquisa, pode-se dizer que entre 42% a 53% dos respondentes declararam que não mantinham mais o interesse de compra entre março e junho. Em junho, esse percentual foi, contudo, o menor, com 41% das famílias declarando não manterem mais a intenção de compra. Ou seja, o mês mais crítico para esse indicador foi o de Abril – onde de fato a pandemia e seus efeitos de expectativas negativas ocorreram pela primeira vez de forma mais dramática. Porém, se em abril a motivação da desistência era a "incerteza", agora que a razão real da desistência é a da "perda efetiva de renda".
Para Claubert Barreto, da Brain, a conclusão é que junho já apresentou em todos os itens pesquisados uma melhora importante no humor geral das famílias dirigidas ao mercado imobiliário. "Acredita-se que certa acomodação possa estar operando, mais em termos de percepção geral que de realidade econômica ou pandêmica em si, embora ainda seja muito cedo para já assentir que a situação de compra estabilizou-se".
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