Conheça os 'vilões da inflação': preços da carne, café e azeite vão continuar subindo; entenda
Especialistas apontam que um dos fatores para o aumento dos preços seja a desvalorização da moeda brasileira
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira (11/02) que a inflação fechou com alta de 0,16% em janeiro para a preocupação do Governo Federal e dos consumidores, que vão ter que desembolsar mais para comprar alimentos como carne, café e azeite.
Especialistas apontam que um dos fatores para o aumento dos preços seja a desvalorização da moeda brasileira, que acabou fazendo com que o país batesse o recorde de exportação de carne no ano passado.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o índice oficial para medir a inflação no Brasil, acumulou alta de 4,56% nos últimos 12 meses. O valor representa uma diminuição em relação ao mês de dezembro, que registrou 4,83%.
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O que fez o IPCA aumentar?
Apesar da ajuda do preço da energia elétrica, o IPCA aumentou por conta do setor de transporte, que contribuiu com 1,3% de aumento. Os reajustes das passagens aéreas e do transporte urbano em diversas capitais foram os grandes vilões.
Além disso, os preços dos alimentos e das bebidas subiram 0,96% em janeiro, representando um aumento de 1,07% na alimentação em domicílio. Cenoura (36,14%), tomate (20,27%) e café moído (8,56%) ficaram mais caros (8,56%).
Mesmo assim, carne, café, laranja, óleo de soja e azeite são considerados os "vilões da inflação" recentemente.
Conheça os "vilões da inflação"
Preço da carne
O preço da carne subiu 0,36% em janeiro, enquanto acumula alta de 21,17% em 12 meses, valor acima da inflação geral de 4,56%.
O coordenador de Índices de Preços na Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, afirma que a alta da carne é por conta do ano passado e a combinação de dois fatores.
- Desvalorização da Moeda: com isso, o Brasil bateu o recorde de exportação, fazendo com o produto tivesse uma redução na disponibilidade no mercado interno;
- Ciclo Pecuário: os produtores aumentaram o abate de fêmeas em 2023 por conta da queda do preço do boi, enquanto isso aumenta temporariamente a oferta de carne, mas reduz o rebanho no médio prazo. Com a baixa oferta, os preços aumentam.
A previsão dos especialistas é que os preços se mantenham em alta em 2025, já que os rebanhos precisam se recompor.
Preço do café
O preço do café aumentou no ano passado por diversos fatores, em que um deles é em relação às discussões climáticas. O café moído acumula alta de 50,35% em 12 meses até janeiro passado. "O café tem um ciclo bianual, então tem ano que [a oferta] é um pouco mais estável, e 2025 é o ano de oferta mais fraca para ele", afirma André Braz.
No ano passado, o preço do café esteve atrelado a uma seca histórica que afetou os cafezais entre agosto e setembro, além das fortes chuvas em outubro.
"O efeito climático do ano passado pegou o café quando a gente esperava que a safra fosse boa, e aí a florada foi comprometida pela seca, então isso diminuiu a oferta. E esse ano é um ano fraco, então o café deve continuar como um dos itens que seguirão acumulando um maior aumento de preço", aponta Braz.
Preço da laranja
Nos últimos 12 meses até janeiro, a laranja-lima acumulou alta de 59,56, batendo recorde de preço em 2024. No caso da laranja-pera, ela subiu 34,52% no mesmo período.
O alimento também foi afetado pelo clima que não favoreceu, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O clima seco e temperaturas elevadas nas regiões produtoras afetaram a produtividade das lavouras.
A estimativa para a safra 2024/2025 é de que os produtores de São Paulo e do Triângulo Mineiro devem colher 223,14 milhões de caixas de 40,8 kg de laranja, conforme o relatório de dezembro do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), 27,4% menos do que na safra anterior (2023/24).
"A laranja vai depender mais da safra de outros países, [para definir] como é que o preço internacional dela vai se comportar, e o Brasil pode ter um grande protagonismo na exportação de laranja, porque também é um grande produtor mundial e pode se valer disso", afirma o economista André Braz. "Mas o preço vai continuar pressionado, e se a gente exportar muito, isso vai virar um problema para a oferta doméstica", completa o especialista em inflação.
Preço do óleo de soja
As perspectivas para o preço do óleo de soja são mais positivas, já que a projeção da safra é de recorde para o grão este ano. Mesmo assim, o óleo de soja acumula alta de 24,55% em 12 meses. Em janeiro de 2025, o preço do óleo registrou queda de 0,87%, segundo o IPCA.
"O óleo é o item que tem mais chances de desacelerar, porque o preço da soja vem recuando. Então talvez o óleo acumule alguma queda de preço ao longo desse ano — ele não vai recompor o preço de dois anos atrás, mas pode ser que deixe de subir ao longo de 2025", afirma Braz.
Preço do azeite
Recentemente, os brasileiros das famílias de renda mais alta viveram uma alta no preço do azeite, já que o item acumulou um aumento de 17,24% em 12 meses, segundo o IBGE. Um dos motivos são os preços internacionais impactados nos últimos anos por secas históricas nos principais países produtores.
Já em 2025, os preços já estão diminuindo no mercado externo por conta de uma safra melhor na Espanha, responsável por 40% da produção global de azeite.
Apesar do cenário de melhora no estrangeiro, os preços não devem voltar ao que eram antes, já que o Brasil importa 99% do azeite que é consumido internamente e tem a questão da desvalorização do câmbio interno, com explica o economista da FGV. "O azeite sofreu com um problema de clima, e vai depender das safras na Espanha, Portugal e Grécia, que são os grandes produtores mundiais de azeite", diz Braz. "Com o agravante da nossa desvalorização cambial, acredito que tem pouco espaço para vermos o azeite ficar muito mais barato", finaliza André Braz.
Bônus de Itaipu
Essa variação do IPCA foi a menor, levando em consideração apenas o mês de janeiro, desde a implementação do Plano Real, em 1994. O preço da energia elétrica é um dos principais motivos, já que houve uma redução de 14,21% na conta de energia elétrica residencial por conta do repasse do "bônus de Itaipu".
Os brasileiros tiveram um bônus na conta de energia elétrica por conta do saldo positivo de R$ 1,3 bilhão na conta de comercialização de energia da usina hidrelétrica de Itaipu.
O repasse faz parte da regulamentação do setor.
(Escrito por Rafael Lédo, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de Oliberal.com)