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Com inflação em alta, empreendedores adotam estratégias para não perder clientes na Páscoa

Associação Paraense de Supermercados afirma que aumentos dos ovos de Páscoa chega a 15%

Natália Mello

Impressionada com o aumento do preço das barras de chocolate desde o início do ano, a empreendedora Giovanna Caetano, de 23 anos, optou por vender, na Páscoa de 2022, ovos com uma banda só, recheada e com uma casca especial de brownie como atrativo. Ano passado, a jovem trabalhava com o produto que chamava de ovo duo, com duas bandas, mas, assim como outros que trabalham com a venda de chocolate nesse período em Belém, precisou adotar estratégias novas para não perder os clientes.

Com a inflação mantendo o percentual de 0,95% no último mês de março, a maior para uma prévia do mês desde 2015 (1,24%) segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os empreendedores se dividem entre reduzir discretamente o tamanho dos ovos e aumentar minimamente o valor dos produtos, ou até mesmo deixar de oferecer uma grande variedade de opções. Tudo para conseguir manter o faturamento e o número de vendas do período, considerado o Natal par quem trabalha com a venda de chocolates.

“Teve uma semana que paguei R$ 50 em uma barra, no dia seguinte, a mesma barra estava custando R$ 70. Então, como tivemos problemas com o aumento dos insumos, inclusive do trigo, procurei visar a melhor forma de manter os clientes e meu faturamento. A gente cobrava R$ 55, em média, pelo ovo duo ano passado, esse ano estamos cobrando R$ 60 na banda recheada e com a casca de brownie, que é novidade. Pensamos na melhor forma de passar esses custos para o produto sem prejudicar o cliente no preço e na qualidade”, declarou Giovanna.

A empreendedora também apostou em pequenas lembranças e boas embalagens. Giovanna conta que pesquisou preços em Belém e pela internet, e comprar na capital não pareceu vantajoso. “Pedi pela internet porque em Belém tudo subiu muito de preço em termos de embalagem também. Aí fizemos lembrancinhas de Páscoa, porque para nós é como se fosse o Natal. Sempre fiz doces, mas os ovos para a Páscoa comecei com a pandemia, porque meus pais trabalhavam com turismo e ficou muito difícil. Aí esse ano estou trabalhando em possibilidades menores e com preços atrativos para manter a clientela. Ano passado o faturamento foi de R$ 7 mil, vamos ver se mantemos”, destaca.

Também recente no mundo dos chocolates, Thelma Pena, de 52 anos, começou a vender ovos de Páscoa no ano passado, e vem sentindo a alta do trigo e do chocolate, além de outros insumos, como creme de leite e leite condensado. A tabela de preços mudou bem pouco: um ovo de 250 gramas que custava R$ 55 hoje custa até R$ 65, um aumento de cerca de 18%. Ela fala sobre o receio de não conseguir lucrar, mesmo com a alta procura pelos produtos e os clientes fidelizados.

“Diminuímos a variedade do cardápio, de sabores mesmo, para economizar um pouco. Estamos mantendo para não perder os clientes e não repassar um valor tão alto. Fizemos um teste para chegar a esse valor esse ano, começamos a divulgar e estamos analisando todo o processo. Fizemos uma pré-venda de mini ovos que estariam no cardápio para ter uma noção, com valor mais acessível, uma espécie de kit degustação. Não vai ser fácil, porque não consegue ganhar tanto em cima, o lucro não é tão alto, porque tentamos manter o padrão para atender bem a nossa clientela fixa”, concluiu Thelma que, no ano passado faturou R$ 3.500 com a venda de 50 ovos somente no final de semana da Páscoa.

A Associação Paraense de Supermercados (Aspas) lembra que o preço dos ovos de Páscoa vem demonstrando a alta contínua desde o final do ano passado, quando iniciou a produção. A média de reajuste do produto apontada pela entidade foi de 15%, se comparado ao valor praticado nos estabelecimentos comerciais em 2021.

“Esse aumento agora do trigo, que disparou, óleo, que disparou, o próprio leite, que subiu agora, o aumento do frete, com o preço do combustível mais caro. Só que isso não impactou direto nesse preço do ovo, porque eles já vinham sendo produzidos, se fosse produzido agora teria ainda mais esse reflexo. Hoje a alta dos ovos é superior à inflação calculada para o último ano”, afirmou o presidente da organização, Jorge Portugal.

Uma opção que tem sido bastante procurada para presentear familiares e entes queridos, segundo Jorge, é a caixa de bombom. “A gente sabe que não substitui, mas em grande parte está crescendo esse consumo, mesmo com o reajuste de 10 a 12%. A gente sempre tem negociação com cada fornecedor, sobre os preços, agora o que é tradicional de todos os anos é baixar o preço depois do domingo de Páscoa, quando os fornecedores passam a nos dar descontos porque já perdeu a finalidade do feriado em si”, finaliza Jorge.

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