Cinco municípios recebem o uso exclusivo do título 'Farinha de Bragança'
O comércio do produto tem destaque em Bragança, Tracuateua, Augusto Correa, Santa Luzia do Pará e Viseu
A farinha de Bragança recebeu, ontem (18), do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o registro de Indicação Geográfica, por meio da Revista da Propriedade Industrial, RPI 2628, de 18 de maio de 2021. Na prática, o registro concede a cinco municípios da Região do Caeté o uso exclusivo do título “Farinha de Bragança”, o que irá fomentar a economia e o turismo local, possibilitando o aumento de investimentos, incentivando a participação do produtor no ciclo de comercialização dos produtos e contribuindo para a preservação das características e tipicidade da cultura paraense. O prazo de protocolamento é de 60 dias para a emissão oficial da IG.
O alimento fabricado nos municípios de Bragança, Tracuateua, Augusto Correa, Santa Luzia do Pará e Viseu terá, a partir de agora, reconhecimento no mercado pela sua procedência e pela tradição regional, beneficiando não só os produtores de mandioca, como toda a população envolvida desde o cultivo da planta até a comercialização do produto final.
Para Giovani Medeiros, produtor de farinha da comunidade Santo Antônio dos Soares, zona rural do município de Bragança, essa é uma excelente forma de combater a pirataria e garantir aos consumidores uma mercadoria autêntica e com certificação de qualidade. “O cliente vai passar a receber um produto fora da pirataria, já que não vai mais existir uma farinha de perto de Bragança, da zona de Bragança, e sim, de agora em diante, nós teremos uma farinha, legítima de Bragança", comenta o produtor.
O registro de IG é uma ferramenta que vai gerar aumento do valor agregado ao produto, incentivar a preservação da tradição, assim como valorizar ainda mais a agricultura familiar de subsistência, muito presente na Região do Caeté.
A farinha de Bragança passa a compor o grupo das três iguarias paraenses que possuem o registro de Indicação Geográfica. O cacau, de Tomé-Açu, foi o primeiro alimento a receber o selo, em 2019, e, mais recentemente, o queijo do Marajó passou a ter igual reconhecimento e também aguarda a emissão que deverá ser concedida ainda no mês de maio.
Dados do Sebrae apontam que os cinco municípios contemplados produzem, juntos, em torno de 32 mil toneladas de farinha, por ano, nas mais de 13 mil casas de farinha da região, em que trabalham cerca de dez mil produtores locais.
O IG da farinha teve início em 2017, quando foi realizado um diagnóstico de potencialidade da implementação do processo de Indicação Geográfica para a farinha de Bragança, que apontou a viabilidade para a Indicação de Procedência, segundo informações do Sebrae-PA. “Um produto tão importante para a região, há tempos carecia dessa chancela de identidade, de ancestralidade, de história. A conquista da IG oferece um ganho extraordinário para o trabalho de centenas de produtores da nossa agricultura familiar, que sustentam suas famílias com esse produto tão precioso”, comentou Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae-PA.
A famosa iguaria é consumida diariamente pelos paraenses e está aliada, principalmente, ao consumo de açaí. A produção da farinha de mandioca se dá pela manutenção da produção tradicional desenvolvida por mestres farinheiros nativos da região, o que fez com que o produto alcançasse reconhecimento nacional e internacional. Assim, a farinha de mandioca é um patrimônio imaterial, símbolo da história e parte da cultura popular Bragantina.
Origem
A relação entre Bragança e a produção de farinha de mandioca vem desde a colonização, onde os índios desenvolveram uma técnica muito específica para o preparo da farinha d’água. O nome se justifica porque a mandioca precisa passar por um período de fermentação de quatro a cinco dias de molho em reservatórios, antes de ser descascada e colocada novamente de molho por mais 24h, desta vez em água limpa. Em seguida, o produto é triturado e colocado no tipiti - utensílio indígena que funciona como uma prensa - quando são separados o líquido, chamado de tucupi, e a massa da mandioca, esta passa pelo processo de escaldamento e, logo em seguida, é torrada em forno pré-aquecido.
"Nós acreditamos muito que a chegada do certificado de reconhecimento de Indicação Geográfica, trará o desenvolvimento local e a valorização do turismo rural, segmento que tende a crescer muito aqui na região, instigando a pessoa a querer vir comprar diretamente do produtor, conhecer o processo de produção e manuseio da mandioca. Estamos muito esperançosos de que este será um ganho muito expressivo tanto para nós, que somos produtores rurais, como para todos os paraenses que poderão sentir orgulho do trabalho desenvolvido aqui no nordeste paraense”, comemora Giovani.
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