Aumento nos aluguéis residenciais deve ser menor que no ano passado, mas ainda pesa no bolso de consumidores
Reajustes de contratos terão como base a inflação de 5,45%, menor que os 17,78% que balizaram os aluguéis ao longo de 2022
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) terminou o ano em 0,45% em dezembro, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Com isso, a inflação do aluguel fechou 2022 em 5,45%. O índice é menor do que o registrado no ano anterior, que foi de 17,78% – valor que fez do ano passado um período de grande aumento no preço dos aluguéis. Com a inflação em 5,45% neste ano, os ajustes devem ser menores, mas, ainda assim, podem pesar no bolso de quem já vem enfrentando aumentos desde 2022.
VEJA MAIS:
É o caso da técnica de enfermagem Estefany Silva, moradora do bairro Mangueirão, em Belém. Ela conta que há três anos mora de aluguel e já se mudou três vezes neste período, mais em virtude do aumento no preço dos imóveis do que pela comodidade da moradia.
“No último aluguel em que eu estava, eu pagava R$ 600, mas não pude mais continuar lá. No lugar onde estou hoje eu pago R$ 650 e ainda pago luz e água. No outro, eu não pagava. Mas é bem difícil achar um lugar mais em conta para morar hoje em dia”, relata.
Stefany diz que precisa fazer muitas contas para manter o orçamento equilibrado e que, geralmente, não consegue negociar os preços do aluguel com os proprietários, uma vez que os valores são firmados em contrato. Para honrar com os compromissos financeiros, ela diz que é preciso fazer corte de gastos.
VEJA MAIS:
“Como técnica de enfermagem, a gente ganha pouco. Para eu conseguir pagar minhas contas e o aluguel eu corto principalmente lazer. Basicamente, minha renda é só para alimentação e as contas”, descreve.
Para 2023, a expectativa de Estefany é sair do aluguel. Ela diz que já se prepara para mudar de condição até o fim do ano, ainda que, com isso, ela acabe adquirindo uma dívida: “Fazer empréstimo. Na verdade eu já fiz. Vou tentar pelo menos construir um quarto em cima da casa da minha mãe, porque viver pagando aluguel não dá. É muito gasto”, afirma.
Reajuste de aluguéis deve ser menor em 2023
Corretor de imóveis há mais de dez anos, Paulo Abinader explica que, em 2022, de fato houve um aumento sensível no aluguel de imóveis residenciais de modo geral – um reflexo do IPG-M de 2021, que resultou em um acúmulo de 17,78% na inflação do aluguel. Ele explica que esse índice embasa os ajustes feitos por proprietários nas renovações de contratos:
“Os aluguéis têm períodos de contratos a vencer de acordo com cada mês de contratação. A cada 12 meses, o proprietário tem direito de solicitar a correção dos aluguéis pelo IGP-M. No fechamento de 2021, com um aumento aproximado de 17%, isso culminou num aumento bem expressivo para quem corrigiu o valor do aluguel. Em 2023, com a alta de 5,45%, a gente não vai sofrer tanto esse impacto. Vai haver um aumento, mas não vai ser como no ano anterior”, avalia.
O corretor enfatiza que nem todas as renovações de contrato precisam, necessariamente, passar por reajuste, uma vez que é uma decisão de depende da condição de cada proprietário e da relação com o inquilino: “Tem proprietário que pode decidir não fazer o ajuste. Às vezes, é comum que ele tenha um inquilino que é bom pagador e que ele deseja manter, então, pode avaliar não fazer o ajuste na renovação. É uma situação que depende de cada caso, mas é possível”.
Além disso, Paulo esclarece que essa taxa de inflação é válida como parâmetro apenas para imóveis que já estavam alugados e vão renovar contrato por um novo período, não sendo aplicável em casos de imóveis que estavam desocupados e vão passar a estar disponíveis para aluguel agora. Nesses casos, Paulo explica que o cálculo de precificação leva em conta outros fatores, a partir da análise de um profissional qualificado, que vai avaliar, entre outras coisas, as condições estruturais do imóvel, localização, e condições de contratação, termo que pode ser negociado para fazer um bom negócio.
Quem conseguiu fazer uma boa negociação e garantir tranquilidade no pagamento do aluguel foi o personal trainer Gabriel Rodrigues. Ele conta que por três anos juntou dinheiro para dar de entrada em uma casa própria, mas, quando não foi possível adquirir o crédito necessário para isso, ele acabou mudando de ideia e usou a renda acumulada para pagar a anuidade do apartamento alugado onde ele e a esposa moram desde agosto do ano passado.
“A gente ficou receoso para comprar porque a gente precisaria de empréstimo e não tinha conseguido o crédito no valor esperado. Então, a gente decidiu alugar um lugar simples, mas que atendesse às nossas expectativas. Conseguimos negociar com o proprietário para pagarmos o ano todo de uma vez e, com isso, a gente não tem se preocupado com as mensalidades. Continuamos juntando dinheiro e avaliando o mercado para decidir, até o fim do ano, se a gente renova ou se mudamos ou se conseguimos dar entrada na casa própria. Para a gente, foi um bom negócio”.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA