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Ampliação do acesso ao crédito consignado pode aumentar endividamento das famílias do Pará

Em situações de crise econômica, a medida pode ser efetiva, mas só dá certo no início, na avaliação de Valfredo de Farias

Elisa Vaz

O anúncio do governo federal sobre a ampliação do acesso ao crédito consignado para os trabalhadores do setor privado pode alavancar a economia do país, porém, impactar de forma negativa as finanças das famílias paraenses. Isso porque, com mais uma modalidade de crédito, é possível que aumente o endividamento e a inadimplência da população, segundo o economista Valfredo de Farias, ouvido pelo Grupo Liberal.

Ele explica que o governo federal, em geral, tem uma política de aumento de consumo, que é uma forma de melhorar a economia. Em situações de crise econômica, a medida pode ser efetiva, mas só dá certo no início, na avaliação de Farias. “O governo já tentou outras coisas, agora está buscando formas de dar crédito para a população continuar consumindo. Esse crescimento que temos na economia é graças ao consumo, então ele tem que continuar fazendo isso para a economia crescer”, diz.

O crédito consignado é uma modalidade que oferece taxas de juros mais baixas e é uma das mais utilizadas no Brasil, especialmente por servidores públicos e aposentados e pensionistas do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), mas também é acessada por trabalhadores do setor privado, com o empréstimo sendo descontado do contra-cheque.

Mais endividamento

Como a população está precisando de dinheiro e a inflação está alta, refletindo em custos elevados para os consumidores, em especial na alimentação, o acesso ao crédito extra deve ocorrer, aumentando o poder de compra das pessoas, que consumirão mais. “Esse consignado vai ter esse papel”, adianta o economista. Por outro lado, embora a economia seja beneficiada com esse comportamento, será ruim para a população, a longo prazo.

Valfredo ressalta que, nos três primeiros meses, poderá ser uma medida positiva. Porém, cerca de seis meses depois, a população paraense e de todo o Brasil estará mais endividada e até mais inadimplente - a diferença entre esses dois termos é que o primeiro faz referência às pessoas que têm contas a pagar, mesmo que não estejam vencidas, e o segundo diz respeito à parcela da população que já tem contas atrasadas.

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“É mais uma conta para a população pagar. O que vai acontecer é que, como muita gente já está endividada, mas está precisando comer, as pessoas vão aderir ao consignado. A população vai se endividar mais ainda; apesar dos juros estarem baixos, deve aumentar o endividamento e a inadimplência. A partir do segundo semestre, provavelmente, teremos uma crise financeira no país, e as pessoas mais prejudicadas nessas situações são as com dívidas”, alerta.

Orientações

Antes de solicitar o crédito consignado, o trabalhador deve primeiro ter consciência de que aquele crédito será útil, sem comprometer as finanças. O ideal, segundo Valfredo de Farias, é que a pessoa não tenha muitas dívidas já parceladas, porque pode virar uma “bola de neve”.

“Um dos grandes problemas que a gente tem, principalmente com os empréstimos, é o seguinte: muita gente se empolga porque está barato os juros, a parcela é baixa e cabe no orçamento, só que as pessoas vão fazendo diversas dívidas. Tem cartão, tem dívida com o banco, tem dívida em loja. Aí vai virando uma bola de neve, até chegar um momento em que elas não conseguem mais pagar”, comenta.

O ideal, de acordo com o economista, é pegar um empréstimo para empreender e transformar aquele valor em mais dinheiro. Porém, isso requer planejamento e estudo de mercado. “Não adianta você pegar um empréstimo por pegar, porque ouviu que montar uma vendinha é bacana. Tem que fazer o máximo de estudo possível para saber se aquele dinheiro vai ser bem aplicado”. Se a pessoa tiver consciência e fizer o “dever de casa”, diz Valfredo, conseguirá montar um negócio para ter uma renda extra, sem se endividar.

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