Alta da Selic impacta negativamente o Pará, com crédito mais caro e consumo menor

Segundo economista, a elevação do índice limita investimentos em setores produtivos no Estado

Elisa Vaz
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A alta de um ponto percentual na Selic nesta quarta-feira (11), decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, pode impactar negativamente a economia do Pará ao encarecer o crédito e reduzir o consumo, limitando investimentos em setores produtivos. Isso porque o indicador é a taxa básica de juro do mercado, ou seja, operações que envolvem financiamentos e empréstimos encarecem quando o percentual se eleva. Agora, a Selic está em 12,25% ao ano, sendo a maior elevação dos juros básicos no governo Lula.

Segundo o economista e consultor de empresas Nélio Bordalo Filho, que é também conselheiro do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon-PA/AP), com a Selic mais alta, os bancos e as instituições financeiras aumentam as taxas de juros cobradas em empréstimos e financiamentos. “Empresas e consumidores enfrentam maiores custos para acessar crédito, desestimulando investimentos e compras parceladas. O crédito mais caro reduz a liquidez na economia, dificultando a realização de projetos empresariais e aumentando a inadimplência no Estado”, avalia.

Setores

Especificamente no ambiente empresarial, o economista menciona que as atividades econômicas mais relevantes para a região, como o agronegócio, a mineração, o comércio e a indústria de transformação, podem ser afetadas, pois dependem de financiamentos para expansão e capital de giro. Com a redução do consumo interno, o comércio e os serviços também enfrentam queda nas vendas, enfraquecendo a economia local.

Alguns segmentos, como o imobiliário e o de revenda de carros, dependem muito de financiamentos. Portanto, são “particularmente sensíveis” à elevação da Selic, de acordo com Bordalo. “A maior parte das transações ocorre por meio de financiamentos de longo prazo. No setor imobiliário, financiamentos de imóveis tornam-se menos acessíveis devido ao aumento nas parcelas, reduzindo a demanda e desacelerando lançamentos de novos empreendimentos. Na revenda de veículos, o encarecimento dos financiamentos desestimula a compra de carros novos e usados, afetando as concessionárias e o mercado de transporte”, comenta.

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Diretor do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos e Máquinas do Estado do Pará e Amapá (Sincodiv-PA/AP), Emerson Rodrigues diz que a alta na Selic pode afetar o setor de revendas. Isso porque boa parte das vendas são financiadas pelos bancos, e no financiamento é levada em consideração essa taxa de juros para compor a parcela dos clientes. “Na hora que mexe nesses juros básicos, a tendência é que as parcelas fiquem maiores, dificultando para algumas pessoas”.

Porém, por ser final de ano, ele acredita que o impacto não será tão grande nas vendas. Afinal, muitas pessoas compram veículos em dezembro para evitar o pagamento integral do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). “Pode não impactar muito pela necessidade do cliente de pagar um IPVA muito menor”, afirma Emerson, que é também gerente geral de uma concessionária na Grande Belém. “Quem precisa comprar o carro e tem condições vai continuar comprando. Vai dificultar para aqueles que não têm certeza e vão acabar deixando para depois”.

Consumidores

Para os consumidores finais, o impacto maior é no custo de financiamentos, empréstimos pessoais, cartões de crédito e parcelamentos no comércio, destaca Nélio Bordalo. Contas básicas, como energia e serviços essenciais, também podem subir devido ao repasse de custos das empresas. Isso, para ele, compromete o poder de compra, especialmente das famílias de renda mais baixa, que têm menos acesso a alternativas de crédito mais baratas. Portanto, a inflação pode ser controlada, mas às custas de um crescimento econômico mais lento.

“A população deve adotar uma postura financeira mais conservadora, evitando dívidas de curto prazo como cartão de crédito e cheque especial, que têm juros muito altos. É recomendável renegociar dívidas existentes, consolidar débitos em empréstimos mais baratos e priorizar compras à vista para evitar parcelamentos caros. Além disso, quem tem alguma reserva financeira pode aproveitar a Selic alta investindo em títulos públicos como o Tesouro Selic, que oferece rendimentos mais atrativos”, orienta o economista.

Em relação às expectativas para o futuro da taxa básica de juros no país, Nélio ressalta que, como a redução da Selic depende de uma queda consistente na inflação, a tendência para 2025 é de elevação do índice, pois o Copom projeta alta de um ponto nas próximas duas reuniões, em janeiro e março de 2025. Caso se confirme, ao fim do primeiro trimestre de 2025 os juros estarão em 14,25% ao ano.

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