Amnésia digital: você pode ter e não sabe; conheça o fenômeno que envolve tecnologia e saúde
Em pesquisa feita pela Kapersky Lab, 79,5% das pessoas usa a internet como uma extensão do cérebro e 36% recorre à busca online antes de utilizar a memória
A dependência crescente de tecnologias eletrônicas apresenta resultados negativos à saúde, como a amnésia digital. O fenômeno ocorre quando há tanta confiança em dispositivos digitais ao ponto de esquecer determinadas informações. Conforme pesquisa da Kapersky Lab, realizada com seis mil pessoas, cerca de 50% dos jovens entre 16 e 34 anos têm quase tudo que precisam lembrar armazenado no celular — a porcentagem entre pessoas de 35 a 44 anos é de 40%.
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A amnésia digital acontece, também, devido à falta de exercício da memória e ao excesso de informações. Segundo Vera Dodebei e Inês Gouveia, no estudo “Memória do futuro no ciberespaço: entre lembrar e esquecer”, publicado na Revista de Ciência da Informação em 2008, o fenômeno ataca a memória ao digitalizar lembranças e informações. “A fragilidade dos suportes da informação, a dinâmica de atualização dos sítios na internet são indicadores de que há um forte movimento no sentido do esquecimento”, dizem as pesquisadoras.
Durante o levantamento do Kapersky Lab, no Reino Unido, constatou-se que 71% das pessoas não lembra do número de telefone dos filhos, enquanto 57% não sabe o contato do trabalho decorado. Em 49% dos casos, os entrevistados não podem ligar ao companheiro sem consultar o número antes. A falta de preocupação em ter a informação na mente se dá ao fato de poder buscá-la no celular.
Entre os seis mil participantes do estudo, 79,5% considera a internet como uma extensão do seu cérebro. Quando é preciso sanar alguma dúvida, 36% das pessoas recorre à busca online antes de utilizar a memória ou algum outro método. Da mesma maneira, 12% dos entrevistados não anotam dados de buscas online, pois confiam na internet.
Apesar dos resultados, dois números positivos relacionados aos participantes do estudo ainda chamam a atenção:
- 47% disse ainda lembrar de números de telefone utilizados em casa no período da adolescência;
- 57% tenta recordar da informação necessária antes de procurá-la em ferramentas de pesquisa digital;
- 67% não confia totalmente na internet e anota dados pesquisados online.
Em conteúdo publicado pelo Jornal da Universidade de São Paulo (USP), o psicólogo Cristiano Nabuco explica que a maneira como as informações são processadas no cérebro colaboram para a amnésia digital. “É preciso dar um certo aspecto de atenção. Só que minha atenção não é profunda o suficiente para me fazer consolidar aquilo que estou lendo”, diz. O psicólogo destaca que, no meio eletrônico, o raciocínio ocorre de forma mais rápida — como consequência, a consolidação da memória de longo prazo se torna mais difícil ou chega, até mesmo, a ser impedida.
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão de Enderson Oliveira, editor de OLiberal.com)
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