Saúde mental: a epidemia da depressão invade a arte
Como a doença, conhecida como o “Mal do Século”, vem afetando o mundo artístico nos últimos anos
Em 2021, o ano em que a pandemia de covid-19 tomou conta do mundo, a prevalência global de transtorno de ansiedade e depressão aumentou 25%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um resumo científico divulgado pela organização mostra que uma das explicações para o aumento dos casos é o estresse, que pode ter vindo do isolamento social necessário neste período. Porém, mesmo antes desses período pandêmico o número de pessoas com depressão no Brasil já era bem alto.
Por exemplo, quase 19 milhões de brasileiros conviviam com ansiedade e depressão em 2019, segundo a OMS. Conhecida como o “Mal do Século”, recentemente muitos famosos resolveram falar sobre o assunto, entre eles o youtuber mais famoso do Brasil, Whindersson Nunes, o cantor João Gomes, Felipe Neto, Paula Fernandes, Wanessa Camargo e Anitta, entre outros.
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João Gomes, uma revelação do piseiro, com apenas 19 anos, usou as redes sociais para falar um pouco sobre como estava se sentindo: “Porque só Deus sabe o quanto tava me sentindo esses dias. Meio ansioso. Com a mente cansada e quem tava próximo de mim sentia muito isso… Tava sentindo vontade de sumir e pedindo a Deus muita força”.
Whindersson Nunes, que passou pela fase mais difícil da depressão no ano passado, transformou sua história com a doença em um stand-up, que estreou nesta semana na Netflix, e “brincou” um pouco sobre a sua depressão.
Em “Whindersson Nunes: É de Mim Mesmo”, ele explica o que viveu: “não estou a fim de fazer nada, não quero ficar falando o mesmo assunto sensível toda hora, não”. No Pará, quem está lidando com a depressão é Fábio Baladero, o vocalista da banda Baladeros. Ele conta que passou por muitos momentos sem entender o que sentia até perceber que precisava de ajuda.
“Muita gente não conhece a minha história e como me vê sempre no palco, acha que o caminho percorrido foi curto. Eu trabalho há anos e passei por grandes dificuldades, principalmente financeira, para chegar onde estou”, explicou. O cantor revela que já convive com o problema há alguns anos, mas com as exigências do dia a dia, ele não tratou cedo, e pela primeira vez ele fala abertamente sobre o seu diagnóstico. O cantor apresentou os primeiros sintomas em 2014, com a morte do seu pai.
“Nunca sofri o luto, porque eu precisava trabalhar para sustentar a mi nha família. Como eu canto, a banda não consegue me substituir e essa obrigação em trabalhar fazia com que a minha dor fosse anestesiada”, explicou.
Fábio sentia os sintomas da depressão de forma gradual, mas ele percebeu que precisava se cuidar quando a doença abalou seu sistema imunológico. “Mudou de fato a minha saúde, baixava minha resistência. Sentia dores nas pernas, não conseguia me levantar, ficava o tempo todo na cama, vivia resfriado, com sinusite, me trazia mal estar e algumas doenças iam aparecendo”, lembrou. “Porém, uma certa situação que desencadeou, eu entendi que precisava e procurei ajuda”, acrescentou.
Com isso Fábio procurou fazer terapia e cuidar da sua saúde mental. Sempre muito reservado, o cantor conta que muitas vezes o fato de se blindar de algumas situações podem soar como “estrelismo”, mas só é um autocuidado. “Quando as pessoas diziam que tinha mudado porque conquistei sucesso com a minha carreira, isso bagunçava um pouco a minha cabeça, eu acabava absorvendo essas cargas e comecei a entrar em parafuso, porque eu tinha certeza que continuava sendo o mesmo Fábio. Não sabia dizer não e me comprometia demais com as pessoas. Quando comecei a me cuidar a primeira coisa que aprendi foi a dizer não”.
Mariana Pereira, especialista em psicologia clínica, acredita que uma das coisas com as quais o artista precisa lidar é com a busca da aceitação, e essa validação do público pode gerar uma enorme ansiedade. “A fama é um lugar ideal e cheio de expectativas. O reconhecimento do público é uma consequência de um trabalho bem feito. No entanto, quem busca fama sempre quer mais. Não basta o reconhecimento, precisa do holofote e da constante publicidade. E isso traz muitas expectativas e pode gerar frustrações muito grandes, o que pode levar a um adoecimento psíquico. A busca deveria ser por um trabalho bem feito e não somente a fama pela fama. A fama é passageira, depende do humor e da avaliação do público. O bom trabalho, algumas vezes, traz a fama como forma de reconhecimento, mas não só ela. Focar na execução de um bom trabalho é construir uma história. Focar apenas na fama, é somente pensar no fim, nem sempre dando a devida importância para a construção dessa história”, explicou a psicóloga.
“Viver sob holofotes esconde, muitas vezes, um choro embargado ou uma preocupação calada. Fazer arte é ter que viver um personagem nos palcos e nas telas, mas fora deles, são humanos que sentem (e sentem muito!). Tristeza, apatia, ansiedade, irritabilidade e sentimento de desesperança são alguns sintomas depressivos que não só os artistas podem ter, mas qualquer um de nós. Ao postar fotos com pompa ou ao interpretar um papel na televisão, o artista não precisa falar o que sente. A vida publicizada é um recorte muito pequeno da vida dos famosos, que sentem sentimentos negativos e só não divulgam”, finaliza
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