Ronaldo Silva celebra vitória do campeonato do Carnaval 2023 de Belém
A história de Ronaldo com o Bole-Bole é antiga, pois foi na escola de samba que aprendeu a tocar o primeiro instrumento
Antes mesmo de ir ao Marajó, o cantor, compositor e mestre Ronaldo Silva já desenhava os cenários das paisagens do arquipélago em sua cabeça e transportava para suas músicas. A sabedoria vem da sensibilidade e poder de observação a partir dos ensinamentos dos mais velhos. Diante de toda a história na cultura, com o Instituto Arraial do Pavulagem e com a Associação Carnavalesca Bole-Bole, o artista e pensador deu a vitória para a escola de samba do Carnaval de Belém deste ano.
A história de Ronaldo com o Bole-Bole é antiga, pois foi na escola de samba que aprendeu a tocar o primeiro instrumento, o pandeiro, depois aprendeu a tocar tambor e levou a batida percussiva para o violão. "O Bole-Bole é um celeiro de cultura e aqui tinha as brincadeiras do boi, entre eles o boi malhadinho. E foi a partir disso que passei a aprender os instrumentos", diz Ronaldo Silva.
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Em paralelo a essas vivências, Ronaldo multiplicava o que já conhecia e o que aprendia por outros espaços. Foi diante dessa influência do Bole-Bole que começou com as brincadeiras do boi que resultou no Instituto Arraial do Pavulagem. "A gente começou a fazer ali pelas proximidades da Praça da República e a brincadeira foi ganhando proporção, mas os primeiros 11 anos do Arraial foram feitos de forma intuitiva. Depois dessa fase, a gente passou a estudar mais e começamos a realizar um trabalho maior", destaca um dos criadores do Instituto.
Mas receber essa homenagem e levar a vitória para a escola é significado de agradecimento e felicidade para o artista, que diz que esse convite já vinha sendo ventilado, mas que esperava a hora certa para acontecer.
"O Arraial do Pavulagem já foi tema da escola, mas nesse ano não ganhou o título. Depois de um tempo me chamaram e disseram que iriam falar sobre a minha história, mas em um primeiro momento não rolou e eu fiquei tranquilo, pois sabia que teria o momento certo. E esse momento chegou", comemora o mestre.
Para além de festa e entretenimento, Ronaldo diz que cultura é vivência, ensinamento, aprendizado e respeito pelas pessoas e pela natureza. "Se as autoridades investissem em cultura de forma séria, nós não teríamos essas catástrofes todas no mundo. Um mestre faz sua arte de acordo com suas vivências no espaço onde vive. Tem muito conhecimento em torno disso, mas as pessoas não foram educadas para dar valor a esses ensinamentos. Nas se trata apenas de diversão, é conhecimento", reflete.
Por essa falta de olhar, apoio e investimento, que Ronaldo diz que a maioria dos mestres morre de exaustão e abandono. Recentemente, morreu em Cachoeira do Arari o mestre Piticaia, com condições precárias. Piticaia foi um fazedor de cultura criador do Boi Ponta de Ouro, que por meio das brincadeiras conseguiu envolver a comunidade e proporcionar benefícios ao município.
Genialidade
Ronaldo Silva nasceu no bairro do Umarizal, mas que na época, nos anos 1950, se tratava de uma área periférica de Belém. Ali sua mãe recebia parentes da ilha do Marajó, pessoas mais velhas que promoviam diversão e ensinamentos para o artista.
"Quando os amigos e parentes da minha mãe vinham eles contavam histórias, falavam do lugar e eu prestava atenção e construía as minhas músicas. A minha mãe perguntava como eu descrevia nas músicas sobre os locais sem mesmo ter ido lá. E eu dizia que era a partir das histórias", recorda o artista.
Até que um certo momento a ida para a ilha do Marajó passou a ser frequente e o processo criativo do artista passou a expandir, pois visitava lugares, conhecia pessoas, entre elas outros mestres. Hoje, Ronaldo Silva é um mestre, um conhecedor das palavras, de conhecimento, um dos fundadores do Instituto Arraial do Pavulagem e mais um artista representante da cultura da Amazônia para o mundo.
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