Questões Afro-Amazônicas no centro do debate

Série “Selecionados Arte Pará- 40 anos” apresenta o coletivo Lab Tukún, do Maranhão, e o paraense Maurício Igor

Bruna LIma
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“A partir da experiência com as mostras, percebemos uma produção de artistas emergentes muito potente, mas que geralmente ficam fora dos circuitos de seleção nacional, pois geralmente o júri olha muito para o processo do artista, para o currículo, o portfólio”, diz Vânia Leal, uma das curadoras adjuntas do Arte Pará sobre a importância da criação da categoria Fomento à Produção de Artistas Emergentes da Amazônia Legal, que estreou este ano.

Oito artistas foram contemplados na categoria, e para conhecer um pouco mais dos trabalhos e dos artistas, nesta edição a série “Selecionados Arte Pará- 40 anos” apresenta o coletivo Lab Tukún, do Maranhão, e o paraense Maurício Igor. Ambos tratam de questões diversas envolvendo o afro-amazônico.

O Projeto Arte Pará 2022 é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio do Centro Universitário Fibra e do grupo Equatorial Energia e com apoio institucional do grupo O Liberal e dos Institutos Inclusartiz e Pivô Arte e Pesquisa. O Arte Pará é uma realização da Fundação Romulo Maiorana.

Lab Tukún, Maranhão, 2021

O Laboratório de Criação Artística - Lab Tukún emerge do cruzamento das trajetórias de Lucca Muypurá, Maria Dalva, Naná Belfort e Yuri Azevedo. Trata-se de um coletivo de quilombolas, indígenas, artistas, educadores, mestres do saber popular, pertencentes às religiões de matrizes africanas e indígenas, defensores dos direitos humanos, ambientais e de territórios com atuação no estado do Maranhão. O Lab Tukún acontece no Território Quilombola Santa Rosa dos Pretos, na região do Vale do Itapecuru. A pesquisa atual do coletivo tece temporalidades partindo de referências e práticas de resistência dos artistas em consonância com os saberes presentes nas relações de coexistência entre humanos, encantados e territórios.

Obra em destaque

“A obra Tukún é uma expressão da retomada do corpo-crôa ao Sagrado Originário, às encantarias presentes nas palmeiras que brotam da terra preta de Pindorama. Para a 40ª edição do Projeto Arte Pará apresentamos uma vídeo performance e fotografias produzidas durante o processo de criação. Dançamos a partir da relação/investigação com a máscara de espinhos produzida da capemba retirada do tucueiro, a palmeira do tucum. Dessa forma, buscamos acionar outras temporalidades inscritas nos corpos-espinhos e experimentar conexões e movimentos que manifestam a luta ancestral pela vida e o bem-viver”, diz Yuri Azevedo.

Arte Pará

“O tucum é resistência e força para nós quilombolas e indígenas que vivemos na luta. Na matriz africana, os mineiros dançam com palhas de tucum cobertas por espinhos em noites com toques de Tambor de Mina. Os tucueiros são moradas dos caboclos Surrupiras, eles representam resistência para nós! A obra Tukún é uma expressão de nossa história de luta. Cantar e ver os artistas dançando com as máscaras feitas das capembas de tucum é um ato de resistência, respeito e paz. Para mim a arte e a dança são uma forma de comunicar para o mundo nossa história de luta, baseadas no amor e respeito à Mãe Natureza. Parabéns ao Projeto Arte Pará pela iniciativa! Agradeço e me sinto feliz em fazer parte desse momento que temos a oportunidade de apresentar para vocês a arte e a cultura dos povos indígenas e quilombolas em nossos territórios”, comemora Maria Dalva.

Arte contemporânea

Para Lucca Muypurá, “A arte contemporânea é um espaço/encruzilhada político do sentir-pensar que nós, artistas marginalizados, podemos projetar nossas subjetividades coletivas, nossos mundos e processos de resistência”.

Mauricio Igor, Pará, 1995

Apesar de fazer criações desde criança, Maurício se entende artista durante a faculdade. Ele tem graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará, na qual também foi contemplado com bolsa de intercâmbio para período de estudos na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em Portugal. Atualmente, é mestrando em Processos Artísticos Contemporâneos na Universidade do Estado de Santa Catarina, na qual desenvolve a atual pesquisa sobre o corpo afro-amazônico em deslocamento.

Obra em destaque

O artista foi selecionado no Arte Pará com dois trabalhos: “Ventos do Norte” e “Vir a ser”. O primeiro é uma pesquisa sobre ventiladores com gambiarras, prática comum na região, na qual ele enxerga como metáforas para questões sociais, históricas, políticas e coloniais que envolvem a região amazônica. O trabalho "Vir a ser" se inicia com reflexões de desde a chegada dos portugueses.

“Foi um doloroso processo de nova formação da sociedade que se estabeleceu no Brasil. Dessa forma, o atual multiculturalismo presente no país tem raízes no sofrimento de nossos antepassados. É nesse cenário que o processo de miscigenação é mostrado como mais uma das desumanas situações impostas aos africanos e indígenas escravizados”.

Arte Pará

“Fico muito lisonjeado em estar participando deste salão tão importante para a arte na Amazônia e, principalmente, por ter entrado na categoria de artistas emergentes, uma iniciativa inédita e extremamente importante. Fico muito feliz também de pela primeira vez expor um trabalho na Casa das Onze janelas”.

 Arte contemporânea

“Vejo como um campo aberto para possibilidades. É assim que objetos do cotidiano, como são os ventiladores-gambiarras, aqui são deslocados do seu uso inicial e vistos como obras de arte”.

 

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