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Publicação destaca língua Xipaya em aldeias do Médio Xingu, no Pará; conheça

Os trabalhos foram conduzidos pela linguista Carmem Lúcia Rodrigues, professora da Universidade Federal do Pará e pesquisadora da língua xipaya desde 1988.

Úna xíta atuhu anu. A frase, que significa “Fui eu que assei o peixe”, consta, entre outras, no livro Xipai kaména da usetúpa – Sedja kaména bahu de anu (fala dos nossos pais e das nossas mães, ancestrais Xipai), gramática pedagógica do povo Xipaya.

A publicação é resultado de ações da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e busca valorizar as culturas, resgatar línguas indígenas e documentar processos próprios de ensino e aprendizagem das etnias que vivem na área de influência da usina. Atualmente, a obra é utilizada por professores indígenas para ensinar a língua mãe para alunos de escolas das aldeias Tukamã, Tukaya e Kujubim, localizadas nas Terras Indígenas Xipaya e Cachoeira Seca, em Altamira. 

Para elaborar a gramática, a companhia promoveu oficinas, de 2016 a 2017, com os anciões – como se referem aos indígenas mais velhos – que ajudaram os pesquisadores a desenvolverem os fonemas e construírem uma espécie de dicionário com palavras e frases faladas pelo povo Xipaya. A indígena Yawaidu Xipaya, moradora da aldeia Kujubim e considerada a mais velha das falantes fluentes da língua foi fundamental para o resgate do idioma. 

“Hoje, nós já estamos passando para o bisneto dela, meu filho. Nós vamos nas escolas, colocamos as músicas para serem cantadas, fazemos jogos na língua para testar os conhecimentos”, disse, orgulhoso, Antônio Xipaya, neto de Yawaidu. 

image Crédito: Divulgação

Segundo Antônio, no final do século passado, a língua xipaya ficou adormecida, sendo considerada extinta por muitos. “Existia muita discriminação, preconceito. Então tinha gente que se negava a dizer que pertencia ao grupo. Hoje nós temos nossa gramática, temos muitas histórias contadas por ela (avó), e sempre falo que, como neto, preciso trabalhar muito no fortalecimento da nossa cultura”, avalia. 

A gramática xipaia reúne a maneira como o idioma se organiza, em sua forma falada e escrita e contém ilustrações feitas pelos próprios indígenas. Os trabalhos foram conduzidos pela linguista Carmem Lúcia Rodrigues, professora da Universidade Federal do Pará e pesquisadora da língua xipaya desde 1988.

“Na primeira oficina, nós discutimos a ortografia e os Xipayas deram importantes sugestões. Na ortografia, em uma língua que é ágrafa (sem grafia), usamos o alfabeto como base, mas há fonemas que não tem no português. Em termos da gramática, partimos do mais simples para o mais complexo, até chegarmos em alguns textos”, explicou a linguista.

Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, que representam 6% da população mundial, segundo a Organização das Nações Unidas, trabalhos como esses ficam como legado, para salvaguardar tradições e contar a história do Brasil. A influência indígena está presente em muitos aspectos da cultura brasileira, desde a culinária até a medicina tradicional, passando por nomes de lugares e expressões linguísticas.

Programa de Educação Escolar Indígena

O Programa de Educação Escolar Indígena (PEEI) faz parte do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI) da Usina Hidrelétrica Belo Monte e apoia os órgãos educacionais na implantação de um sistema que atenda às especificidades das comunidades indígenas, promovendo a readequação dos serviços de educação para a construção de um modelo de ensino voltado aos interesses das nove etnias da área de abrangência da Usina – Arara, Parakanã, Xikrin, Araweté, Assurini, Juruna, Kuruaya, Kayapó e Xipaya.

A gramática xipaya faz parte de uma série de 36 publicações viabilizadas pelo programa, entre livros de alfabetização, sobre animais e plantas, além de dicionários, cartilhas e jogos didáticos. Financiado pela Norte Energia, o programa já disponibilizou mais de 26 mil exemplares de material didático às secretarias municipais de educação dos municípios da região para utilização nas 68 unidades educacionais indígenas presentes no território indígena.

“As ações do Programa de Educação Escolar Indígena potencializam o fortalecimento da identidade e cultura indígena, somando, para além das melhorias de infraestrutura implementadas no território, produção de materiais didáticos diversos, inclusive na língua indígena, contribuindo, entre outras coisas, para o resgate das línguas xipaya, juruna e kuruaya”, explica Sabrina Miranda Brito, gerente socioambiental do componente indígena.

Contexto histórico

Segundo a linguista Carmen Rodrigues, no final do século passado, a língua Xipaya foi considerada extinta. Isso se deu ao fato de que não se tinha conhecimento de falantes da língua e, também, de indígenas desta etnia. Porém, em 1994, foi criada a primeira aldeia Xipaya, a Tukamã, reconhecida apenas 4 anos depois. Em 2006, a aldeia Tukaya também foi reconhecida e, a partir daí, segue-se a vinda de grupos familiares xipaya para os antigos territórios tradicionais, caso do grupo da aldeia Kujubim.

No início deste século, começou uma mobilização desse povo no sentido de valorizar e fortalecer seu idioma e sua cultura. Assim surgiu a necessidade de se ter um material comum que possibilitasse alavancar o ensino e a aprendizagem do xipaya.

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