Premiado artista Gidalti Jr transforma brega em tema de história em quadrinhos
Gidalti Jr, ganhador do Prêmio Jabuti de histórias em quadrinhos com “Castanha do Pará”, em 2017
Reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, o brega paraense está sendo homenageado também pelas histórias em quadrinhos (HQs). Dessa vez, pelas mãos do premiado quadrinhista Gidalti Jr, ganhador do Prêmio Jabuti de histórias em quadrinhos com “Castanha do Pará”, em 2017. “Brega Story'' deve chegar ao mercado nos próximos dias, pela editora Brisa. Para isso, foi iniciado um financiamento coletivo e quem desejar colaborar pode adquirir o livro de 320 páginas, parcialmente colorido em aquarela, na pré-venda pelo www.catarse.me/bregastory.
Brega Story conta a história do músico Wanderson Jr., o Breguinha, conhecido como o “Rei do Brega”, que tenta se adaptar às mudanças trazidas pelo tempo para levar adiante seu plano de ser uma grande estrela nacional e, quem sabe, internacional. “Ele é uma figura datada, que teve um certo sucesso no passado, mas se depara em um mundo em que tudo mudou e se transformou, menos ele. A narrativa traça esse movimento de tentativa desse músico em se adequar e sobreviver para se manter ‘Rei’. É a jornada de um decadente que vai fazer de tudo para se manter no topo”, detalha o autor.
O personagem, segundo o quadrinhista, é inspirado naqueles artistas com dificuldade para lidar com as transformações do mundo e, por isso, são capazes de qualquer coisa para manter o prestígio conquistado. “Ele é fruto de minha observação de figuras que não conseguem conviver em um mundo tão plural e dinâmico”, resume ele, que também atuou como músico amador na cena brega paraense, antes de enveredar pelos desenhos.
Na verdade, o autor esclarece que sempre esteve conectado com a cultura paraense de uma maneira geral, mas isso acabou ficando mais latente em seus trabalhos depois de mudar para São Paulo. “Pude perceber que muita gente não conhece ou conhece de maneira muito superficial o que é o norte do Brasil e também há um certo ‘embolamento’ de nossa cultura com o nordeste. A partir disso, passei a observar mais os elementos da nossa cultura e como eles poderiam servir de base para o meu trabalho como autor de histórias em quadrinhos”, explica.
Em particular no caso do brega, Gidalti Jr afirma ser esse um universo rico em vários aspectos: as cores, os brilhos, as combinações contrastantes, esse visual inusitado, principalmente a partir do tecnobrega”, ressalta. “Além disso, as festas de aparelhagem têm toda uma visualidade poderosa a partir do uso das formas de animais como crocodilo, a águia, as referências à cultura indígena, enfim, isso é rico esteticamente e o Brasil conhece pouco desse universo. Meu interesse é tentar levar para o Brasil e para o mundo essa riqueza imagética e cultural”, completa.
Pesquisa
Para descrever esse universo em quadrinhos a partir da figura de Wanderson Jr., o autor precisou fazer uma imersão por esse mundo, onde fez algumas descobertas. “O que mais me chamou atenção na pesquisa foi a força econômica desse segmento, como esse nicho, esse mercado se desenvolve numa região mesmo com a pouca atenção da mídia nacional. É um desenho de um mercado às avessas onde a música alcança o grande público a partir das festas, da força da escolha popular e só então é que a grande mídia volta seu olhar para o fenômeno”, avalia.
A pesquisa de campo envolveu conversas com músicos, DJs, cantores, cantoras e dançarinos, além do acesso a materiais acadêmicos, artigos, revistas e teses de mestrado e doutorado. “Dentro da academia, em especial na UFPA (Universidade Federal do Pará) há uma grande profusão de ensaios, com muito material bom. Não é muito acessível, é necessário buscar nos lugares certos”, conta. Entre os livros usados em sua pesquisa estão: “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música”, de Oona Castro e Ronaldo Lemos e “Tecnobrega: do bordel às aparelhagens”, de Expedito Leandro Silva e os filmes como “Amor, Plástico e Barulho” e os documentários “Amazônia Groove” e “Brega S/A”.
Financiamento
A campanha de financiamento coletivo para Brega Story iniciou-se na última quarta-feira (15), no mesmo dia em que o gênero musical foi reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, abrangendo não apenas o ritmo, mas valorizando a cadeia cultural que envolve compositores, músicos, cantores, e outros artistas que fazem do brega um meio de vida.
Sobre o assunto, o desenhista é categórico: “Vejo isso com alegria, porque de fato o brega tem seu caráter nacional mas dentro do Pará ele tem sua relevante particularidade. Tem presença no nosso cotidiano e atravessa todas as fronteiras como os limites dos bairros e das classes sociais. Está no dia a dia e nas festas do belenenses. A maneira como o brega se configura no Pará é muito particular tendo em vista principalmente as vertentes que circulam na região. O tecnobrega, o calypso e as aparelhagens, por exemplo, enriquecem ainda mais o caráter específico do brega no Pará”, opina.
Serviço: Para adquirir Brega Story na pré-venda basta acessar o endereço: www.catarse.me/bregastory.
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