Portas fechadas pela pandemia ameaçam Associação Fotoativa

Instituição cultural sem fins lucrativos recorre a uma rede de padrinhos e madrinhas para manter contas, e equipe gestora segue em trabalho voluntário

Lucas Costa
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A crise instaurada pela pandemia de coronavírus tem impactado cada vez mais o setor cultural. A Associação Fotoativa, instituição cultural sem fins lucrativos criada em 1984, está com atividades presenciais suspensas desde a metade de março. No entanto, fechar as portas sem previsão de retorno, alterou não apenas as rotinas e a dinâmica e formato das atividades, mas aumentou a dificuldade da instituição em se manter financeiramente.

José Viana, um dos artistas gestores da Associação Fotoativa, conta que a dificuldade financeira é uma realidade enfrentada pela instituição antes mesmo da pandemia.

“Isso ocorre devido às condições políticas de investimento do setor cultural no país todo. Não é apenas a pandemia, mas um contexto maior; e a pandemia vem para aprofundar essa dificuldade, e esse desafio que é atravessar esse momento político de falta de investimento”, explica.

Para José, uma das principais dificuldades que reforçam o cenário dificultoso para as artes, é a falta de compreensão da atividade como algo tão importante quanto outros setores dentro do país. “A arte atravessa a educação e até mesmo a saúde das pessoas, assim como impacta na economia, porque gera vários empregos. Quando conseguimos aprovar projetos, entram recursos que geram uma série de empregos momentaneamente”, destaca.

Com a pandemia, a capacidade de captação financeira da associação diminuiu drasticamente, pois foram suspensas diversas atividades presenciais que mantinham um movimento de caixa considerável, como a venda de bebidas, alimentos e outro itens da loja do local.

A sede da Fotoativa, localizada em um casarão histórico em frente à Praça das Mercês, no bairro da Campina; concentrava uma rotina diária de reuniões, cuidados com o acervo de obras e livros, eventos, oficinas e cursos, laboratório de revelação e projetos, como a residência artística e o Fotoativa no Tempo das Águas.

Camila Fialho, atual presidente da Associação, diz que fechar as portas foi um baque. “A situação financeira já não era simples, pois não temos aporte fixo, fomos obrigados a romper o contrato com a nossa funcionária [em regime CLT] para que ela pudesse receber os benefícios”, avalia.

Em meio a este cenário, José Viana conta que o desafio foi encontrar outras possibilidades de manter a instituição ativa. Um dos destaques é a rede virtual formada pela Fotoativa, que agora tem sido o centro das atividades desenvolvidas pela associação.

“Descobrimos esse espaço gigante que ocupamos enquanto espaço cultural, que não é somente a cidade, mas também uma rede. Temos parceiros em outros estados e países, e a gente vem tentando construir programações nessa rede”, conta ele.

A retomada das atividades teve início com a mobilização para o 18º Pinhole Day Belém, adaptado para uma jornada virtual. O evento mundial ocorre todo último domingo de abril e celebra a fotografia pinhole.

image Laboratório de Projetos passou a ter encontros on-line (Reprodução)

O Laboratório de Projetos da Fotoativa é outra atividade que encontrou nos meios digitais uma forma de manter ativa. “As reuniões do laboratório passaram a acolher pessoas de diferentes lugares, como Cametá, Lima e Rio de Janeiro, com trocas que fortalecem a ideia de construção em rede, algo que só aconteceu se adaptando a esse contexto e tem sido uma experiência rica que pretende se desdobrar numa exposição física e virtual”, comenta José, um dos articuladores do Laboratório.

Outras atividades que ocorrem atualmente são as oficinas, que ganharam o ambiente virtual, com propostas que permitem realização à distância, e exploram recursos tecnológicos.

As oficinas virtuais são novidade, e nesta semana foi iniciado o laboratório virtual “Fotografia Encenada”, com o fotógrafo Martín Pérez, do Uruguai; com turma já esgotada. O público ainda pode se inscrever para outro laboratório, de “Criação de Portfólio para artistas visuais”, com Camila Fialho, artista de Porto Alegre que preside a instituição. Para se inscrever é necessário entrar em contato por: 99125-6027 / a.fotoativa@gmail.com.

“São laboratórios virtuais, onde o artista facilitador traz uma série de referências e questões, e convida os participantes a construir proposições artísticas. A oficina ‘Fotografia Encenada’, por exemplo, fala da relação entre fotografia e performance; de fotos do corpo, e o espaço sendo em geral o espaço interno da casa dos participantes, porque a ideia é explorar a fotografia em casa. Já o laboratório de criação de portfólio vai falar de um processo de formação do artista emergente, que percebe na arte um lugar de trabalho. É para o artista que precisa se entender como produtor de conhecimento, assim como sua estética e fórmula; como ele entende seu trabalho a partir de algo que vai ser compartilhado”, explica José.

Como ajudar

Atualmente, as contas fixas da Fotoativa, como manutenção do prédio, luz, etc; foram assumidas por uma série de padrinhos e madrinhas, que vão manter estas despesas em dia até o final do ano. Já a equipe do núcleo gestor, que envolve 13 pessoas diretamente, segue em trabalho voluntário

O valor das oficinas virtuais é compartilhado entre os artistas e a instituição. Mas José destaca que o objetivo é aumentar a rede de padrinhos e madrinhas, para que a associação se torne mais perene, podendo gerar empregos fixos. 

“A gente vem desenhando um projeto de financiamento recorrente. Nosso sonho era conseguir manter até 10 pessoas trabalhando mensalmente com remuneração fixa, de forma que o processo pudesse ser profissionalizado. Editais são muito inconstantes”, conta.

O público interessado em contribuir com a manutenção da associação pode entrar em contato por meio das redes sociais da Fotoativa, assim como pelo e-mail a.fotoativa@gmail.com.  
 

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Cultura
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