Passistas garantem a festa popular do Carnaval em Belém
Eles e elas têm a missão de contagiar os demais brincantes e o público em geral nos desfiles carnavalescos e para isso se apresentam sambando muito ao longo da avenida
Todo desfile de uma escola de samba na avenida do Carnaval, seja em Belém ou em outra cidade do Brasil, não teria o mesmo sentido sem a presença, a ginga e a vibração contagiante dos passistas. São essas pessoas, verdadeiros embaixadores e embaixatrizes do Carnaval, que fazem dessa manifestação cultural um momento singular na vida dos brasileiros. Desfilam em ala ou individualmente com o famoso samba no pé. Por isso, em 19 de janeiro comemora-se o Dia do Passista (Lei n.º 4462, de 10 de janeiro de 2007).
Essa atividade é encarada como uma missão por quem sabe o que significa ser passista, como Mara Leal, designer de unhas, 34 anos, em Belém. Mara, casada e mãe de três filhos, vai desfilar, como passista, pela escola de samba Bole-Bole, do bairro do Guamá, onde mora. “A minha preparação é durante o ano todo. Eu gosto de correr, faço cardio na rua mesmo, e também faço a preparação de musculação em academia. Ser uma passista, para mim é a realização de um sonho que trago desde criança, sempre quis estar participando de uma escola de samba, e quando apareceu a oportunidade na Bole-Bole eu logo agarrei e estou lá até hoje”, declara.
Ter um bom samba é imprescindível para ser uma passista de escola de samba. Atrelado a isso, precisa ter carisma com aval da comunidade, como diz Mara. A partir de sua atuação como passista da Bole-Bole, Mara recebeu convite para ser rainha de Bateria de outra agremiação carnavalesca em Belém, a Alegria Alegria, do bairro da Condor e do 3º Grupo do Carnaval. Este será o terceiro ano dela como rainha da agremiação. Desde os 17 anos, Mara desfila no Bole-Bole e este será o terceiro ano na Ala dos Passistas da escola. “Quando estou na avenida, aquele momento é só meu”, arremata.
Eu no samba
Já Bruno Veloso, 29 anos, é trabalhador autônomo e atua como passista, coreógrafo e bailarino profissional. Ele passou a se destacar nessa atividade do Carnaval em 2018, como diretor da Ala de Passistas da escola de Samba Rancho Não Posso Me Amofiná, do bairro do Jurunas. “Hoje, eu desfilo como passista no Bole-Bole, também sou destaque de chão no Quem São Eles, da Deixa Falar e do Boêmios da Vila Famosa, aqui, em Belém. Lá no Rio de Janeiro, vou desfilar, também, na Sapucaí, sou passista da União de Maricá, da Série Ouro, e vou desfilar na Grande Rio, que é a escola que vem falando do Pará e eu tive esse privilégio de me tornar passista da Grande Rio em 2025”, declara Bruno, a todo vapor para entrar na avenida.
“Quando estou na Avenida, eu sinto que eu consigo ser eu, porque mostro quem é o Bruno Veloso de verdade por meio da arte que é o samba”, afirma Bruno. Ele mora no bairro da Maracangalha e atua como passista há 8 anos. “Ser passista significa amor, energia positiva e força”, completa.
Inspiração
O papel dos passistas no desfile de uma agremiação carnavalesca é decisivo, como destaca o presidente da Liga Escolas de Samba Associadas, a ESA, Fernando Guga. Ele explica que os passistas não contam como nota ou são submetidos a julgamento, mas, “são pessoas importantíssimas e emblemáticas pro Carnaval, eles inspiram com todo o samba no pé a juventude que assiste ao desfile”. “E também saúdam e guardam a memória de toda uma trajetória de um Carnaval de Rua, que tinha a figura do passista marginalizado e da passista, uma cabrocha hipersexualizada, imagens essas que não cabem mais no Carnaval. Hoje, nosso compromisso é fazer um Carnaval diverso e democrático, dentro do respeito e do limite de cada participante”, ressalta Guga.
Em Belém e nas localidades que fazem o Carnaval tradicional de escola de samba, os passistas desfilam em alas, alas essas unissex, homens e mulheres e na Avenida evoluem dentro do samba, do ritmo da bateria e da harmonia. Algumas alas vêm com samba coreografado, outras com samba livre, isso vai muito da individualidade de cada agremiação ou da concepção dos carnavalescos para a ala, como explica Fernando Guga.
Para ele, sem os passistas não se teria um Carnaval expressivo, pelo fato de que os passistas combateram um tom pejorativo e preconceituoso contra quem se vinculava a essa manifestação cultural. Guga adianta que a arte dos passistas em Belém poderá ser conferida nos desfiles das escolas de samba da ESA na Aldeia Cabana, no bairro da Pedreira, em 14 e 15 de março próximo.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA