Paraense é selecionada para o Festival de Fotografia de Tiradentes
Karina Martins vai participar da exposição coletiva que contempla apenas 41 fotógrafos de 714 inscritos do Brasil e exterior
A paraense Karina Martins está entre os fotógrafos selecionados para a exposição coletiva "Fragmentos do Onírico" do 9º Festival de Fotografia de Tiradentes - Foto em Pauta. O evento considerado um dos maiores festivais de fotografia do Brasil, que será realizado entre os dias 27 e 31 de março, naquela cidade mineira. Karina é a única do Pará entre os 41 selecionados pela curadoria, dentre o total de 714 inscritos que enviaram 3.151 fotografias para análise.
As três fotos selecionadas de autoria dela integram o ensaio "Íntima Paisagem", que foram capturadas nas orlas da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Porto do Sal, em Belém, com o uso de pinhole, câmera fotográfica artesanal normalmente feita com caixa de fósforo, que utiliza somente um furo de alfinete para capturar a luz, enquanto, do lado de dentro, um papel fotográfico embebibo em produtos químicos "revela" a imagem.
Karina é servidora pública, formada em Administração, e desde o ano de 2012 se dedica à fotografia documental, sobretudo voltada à afroreligiosidade, e também ao trabalho autoral com fotografia pinhole. Para ela, participar da exposição coletiva do Festival de Fotografia de Tiradentes é uma importante vitrine para a divulgação do trabalho e também para fazer conexão com outros fotógrafos.
A paraense se inscrevia para a exposição coletiva do festival todos os anos, desde 2015. Esta edição do festival tem a coordenação geral do fotógrafo Eugênio Sávio e a curadoria de Madu Dorella, Gabriela Sá e Anna Karina Bartolomeu.
"A fotografia não chega a ser um hobby, mas a minha segunda profissão. Faço trabalhos com fotografia de eventos, mas gosto mesmo da fotografia documental", conta. Ela iniciou com o curso de fotografia na Associação Foto Ativa, com Miguel Chikaoka, e já obteve premiação no Salão da Marinha, de 2015, e no Prêmio "Expressões Artísticas", da Fundação Cultural do Pará, em 2017.
Este ano, ela inscreveu cinco fotografias da série "Íntima Paisagem", que retrata locais do afeto da artista. Dessas, três foram aprovadas pela curadoria. A mesma série já havia sido selecionada no Salão Primeiros Passos do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (Ccbeu), em 2015. "O tema do festival (de Tiradentes), este ano, tinha tudo a ver com essas fotos eu tinha guardado em arquivo".
"Íntima Paisagem traz dois lugares da minha infância e adolescência: o Porto do Sal, que ficava perto de onde morei no final da Rua Boaventura, no bairro da Cidade Velha, entre os anos de 1990 e 1999. O outro local foi a orla da UFPA, onde cursei Administração de 1999 a 2003. Eu tinha essa lacuna no meu álbum de família desses espaços queridos pra mim. Eu tinha apenas na memória a lembrança desses espaços".
Karina voltou aos dois endereços para fotografá-los com pinhole. "Pinhole dá um ar de mistério. Não quis fazer com câmera digital ou celular, não queria nada óbvio. O pinhole te dá um resultado mais artístico. A câmera que usei era feita de caixa de pequena com filme fotográfico colorido. Usei externamente um filtro gradual vermelho para as imagens adquirirem um tom avermelhado para ficar com a aparência de foto antiga".
Uma das fotos selecionadas mostra o resto de um muro de arrimo na orla do campus profissional da UFPA. "Coloquei a câmera em cima de uma pedra, fiquei alguns minutos esperando o filme queimar". A outra foto selecionada exibe um pequeno trapiche abandondo na orla do campus básico da mesma universidade. E a terceira foto exibe um pedaço de madeira, usado para amarrar os barco no porto, que está sem amarrações, mas exibe a ponta para fora d'água.
As três imagens têm em comum o plano fechado com a paisagem de rio e ilhas de Belém ao fundo. "A presença da água é constante nesse trabalho e também a linha do horizonte com ilhas ao fundo, mas meio borrado e sem foco. São traços que levo para uma fotografia mais intuitiva e subjetiva, sempre fugindo da visão turística, do óbvio. São imagens que poderiam ter sido feitas em qualquer cidade litorânea. É difícil de identificar o local em que foram feitas porque usei planos fechados".
Workshop
O 9º Festival de Fotografia de Tiradentes também oferece workshops, palestras, debates, leituras de portfólio, projeções de fotografias e a interação com profissionais de renome nacional e internacional e com produção artística representativa no cenário da fotografia brasileira, assim como atividades educativas para a comunidade local. O paraense Guy Veloso vai ministrar o workshop "Do poético ao prático: fotografia documental" nos dias 29 e 30 de março.
Com 25 anos de carreira, ele participou da 29a Bienal de São Paulo, da 23ª Bienal Europalia, na Bélgica, e da 4th Biennial of the Americas, nos Estados Unidos, tendo obras nos acervos Essex Collection of Art from Latin America, na Inglaterra; Museo de las Americas, nos Estados Unidos; Centro Português de Fotografia, em Portugal; e nos Museus de Arte e de Arte Moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo. Hoje, ele possui um importante banco de fotografias e vídeos sobre religiosidade brasileira.
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