Obra prima de Shakespeare é encenada pelo grupo Teatro de Apartamento

"Romeu e Julieta" será apresentado com uma nova roupagem mostrando que a obra não fala apenas do amor.

Alexandra Cavalcanti
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Escrita supostamente entre os anos de 1593 e 1594, por William Shakespeare, a obra clássica Romeu e Julieta atravessa gerações e se mantém com uma das principais obras-primas da literatura ocidental. A história tem como cenário a cidade de Verona, na Itália. É lá que o casal Romeu Montecchio e Julieta Capuleto, busca superar os conflitos entre suas famílias para ficar junto. Esse é o enredo da peça que começa ser apresentada a partir deste sábado (19) e nos dias 20, 26 e 27 de março e 02 e 03 de abril na Sala Gisele Guedes, sempre às 20h, pelo grupo paraense Teatro de Apartamento. Mas para quem pensa que já conhece a história e não pretende ver de novo, o grupo promete contar de forma mais profunda, abordando assuntos com enfoques atuais como ódio, família, dever, amor líquido, política, ingenuidade, desobediência e fé.  

Saulo Sisnando é o responsável pela adaptação e direção do espetáculo. É ele quem explica porque a obra de Shakespeare precisa ser vista sob outros ângulos. “Romeu e Julieta'' é uma obra que foi muito simplificada ao longo dos anos. Para a maioria das pessoas, a peça se resume a dois amantes que, proibidos de viverem sua paixão, acabam se matando. Mas esta é uma visão muito tacanha da obra. E Shakespeare não seria o maior dramaturgo de todos se a peça se resumisse a versos bonitos. A obra fala sobre ódio, família, dever, amor líquido, política, ingenuidade, desobediência e fé. Shakespeare traça um verdadeiro panorama da alma humana no seu texto”, destaca.

Ele ressalta que a ideia de montar o espetáculo surgiu justamente da necessidade de mostrar para o público essas outras faces da obra. “Queremos que as pessoas conheçam as várias camadas que Shakespeare propôs ao escrever em Romeu e Julieta que vão além do patamar do romantismo”, justifica.

Para isso, ele garante que a essência do texto original foi preservada. “Não há grandes diferenças entre a nossa montagem e o que Shakespeare escreveu. As palavras são as palavras de Shakespeare, porém, na nossa montagem, diferente de tantas outras versões da peça, colocamos sob os holofotes outras questões que estão tratadas no texto, mas que, em nome do romantismo, outros grupos tendem a apagar”, explica.

Em sua avaliação as questões que estão para além do romantismo são essencialmente aquelas que tornam a obra escrita há vários séculos, ainda tão atual. “A principal mensagem de Romeu e Julieta é: em uma sociedade politicamente dividida, não há outro final senão a tragédia. A peça se passa em Verona, uma sociedade dividida entre Capuletos e Montéquios. Dois grupos antagônicos que se odeiam sem nem saberem ao certo a razão do ódio. Aliás, algo muito parecido com o que vivemos na nossa atual polarização política. Nós nos sentimos modernos, seres do futuro, e Romeu e Julieta, um texto dos anos de 1590 está aí mostrando não apenas que a polarização política não é novidade do nosso tempo, mas também para alertar do final trágico e violento que essa polarização reserva aos povos”, analisa o diretor.

A poética do texto do autor inglês, no entanto, está mantida nos diálogos apaixonados do jovem casal, mas de forma mais simples. “A adaptação foi um momento muito trabalhoso do processo, porque eu queria que as belas palavras e versos imortais do Shakespeare continuassem, porém, ao mesmo tempo, era muito importante que o público entendesse perfeitamente a história. Então eu tive um cuidado de trazer um texto bonito, mas totalmente compreensível e simples”, detalha.

Figurino - Outra adaptação necessária se deu nos figurinos. Na adaptação paraense do grupo Teatro de Apartamento, essa tarefa ficou a cargo de Grazi Ribeiro, com assistência de Leonardo Pamplona e Saulo Sisnando e das tesouras e agulhas da costureira, Lúcia Almeida. “Nessa busca de tentar fazer a plateia entender que Romeu e Julieta não é apenas uma obra romântica, seguimos um caminho da desglamourização dos personagens. Trouxemos a peça para uma Verona industrial, seca, que encara os homens como máquinas. A ideia do figurino e do visagismo é que mesmo num ambiente inóspito é possível nascer amor. Mais ou menos como acontece no Brasil, trabalhamos muito, ganhamos pouco, temos um abismo colossal separando os ricos dos pobres e, mesmo assim, ainda nos preocupamos com o amor”, compara Saulo.

O trabalho se completa com a iluminação de Sônia Lopes e Matheus Caê (estagiário de iluminação) e com a consultoria de movimento de Ercy Souza e Luiz Thomaz Sarmento. No elenco da peça estão: Flávio Moreira (Frei Lourenço); Leonardo Moraes (Romeu); Marina Dahás (Julieta); Fernanda Coiado (Ama); Alessandra Pinheiro (Lady Capuleto); André Lima (Montéquio e Frei João); Dheyvyth Guylhermeth (Boticário); Ysamy Charchar (Páris); Patrick Avellon (Mercúcio); Marcelo Borges (Capuleto); Ricardo Cal (Voz Agourenta); Matheus Freitas (Teobaldo); Cassio Vitorio (Benvólio); Nívia Carvalho (Rainha) e Nathália Nancy (Rainha e Teobaldo)

 

Agende-se:

Espetáculo Romeu e Julieta.

Dias 19, 20, 26 e 27 de março e 02 e 03 de abril.

Hora: 20h.

Local: Sala Gisele Guedes na Associação Cultural Teatro de Apartamento – (Altos). Rua Curuçá, 315, esquina com a Soares Carneiro.

Ingressos no local.

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