Dia Nacional do Samba: gênero musical une famílias e trajetórias de artistas

Mulheres como Mariza Black, DJ Jack Sainha e Rafaela Travassos estão quebrando barreiras e ampliando a presença feminina no samba

Amanda Martins
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O Dia Nacional do Samba, comemorado nesta segunda-feira, 2, vai além de uma homenagem ao gênero que é símbolo do Brasil; é também uma oportunidade de dar visibilidade a artistas que mantêm viva essa tradição. Apesar de um caminho marcado por desafios, compositoras e compositores, intérpretes e produtores culturais conquistaram espaço e deixaram um legado significativo na história do samba.

Dona Ivone Lara é um dos maiores exemplos dessa trajetória. Reconhecida como a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba, ela precisou, em alguns momentos, ocultar seu nome para que suas criações fossem aceitas. Ainda assim, suas obras abriram portas para que outras mulheres ocupassem lugares de destaque no universo do samba.

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No Pará, terra de ritmos marcados pela diversidade cultural, compositoras têm conquistado espaço. Com 21 anos dedicados ao samba, Mariza Black é uma referência no gênero no estado. A cantora relembra suas raízes musicais, influenciadas pela família, que a cercaram desde a infância. 

“Eu sempre falo que não escolhi o samba; foi o samba que me escolheu. Venho de uma família muito musical, que ouvia samba, MPB e seresta. Cresci nesse ambiente, e isso moldou minha relação com o gênero”, contou. 

Mariza falou sobre a influência do seu tio Flávio Portela em sua trajetória musical. "Eu cresci dentro da casa dele, um grande apaixonado pela Portela, um grande conhecedor do samba”, relembrou.

image Flávio Portela, Mariza Black e DJ Jack Sainha (Wagner Santana / O Liberal)

Flávio, por sua vez, se sente orgulhoso da sobrinha, vendo-a conquistar espaço em um meio musical, que até alguns anos atrás, era predominado por artistas homens e recorda com carinho o potencial que Mariza  sempre apresentou. "Ela chegou cantando. Eu não quis antecipar, mas alguém já tinha me antecipado que ela já seria famosa”, disse aos risos.

Além de sua atuação como intérprete em blocos e escolas de samba, como o Caprichosos da Cidade Nova e o Unidos da Pedreira, do bairro da Pedreira, além do seu envolvido no Crias do Curro Velho, Mariza acumula conquistas que demonstram o impacto do seu trabalho. Em 2019, por exemplo, ela lotou o Theatro da Paz com o projeto Samba Parawara. “Foi emocionante mostrar o samba amazônico em um palco tão importante. Também levamos nossa música para outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, promovendo um intercâmbio cultural significativo”, relembrou.

Transformando espaços 

Outro nome que se destaca no cenário do samba paraense é a produtora cultural e DJ Jaqueline Ferreira, a DJ Jack Sainha, uma das idealizadoras do Samba da Feira do Açaí, que ocorre na primeira sexta-feira de cada mês, e residente do projeto. 

“Meu interesse pelo samba vem de família, mas também está ligado à memória e à ancestralidade. Sempre ouvi samba nas reuniões familiares, e isso moldou minha pesquisa musical, que hoje levo para os meus sets”, relembrou.

image DJ Jack Sainha (Divulgação)

A DJ criou apresentações como o set ‘Macumbaria’, que mistura batuques de religiões de matriz africana com o samba, e o ‘Afrobrasilidades', que une diferentes ritmos afro-brasileiros. Esses trabalhos abriram portas para que Jack tocasse em eventos importantes, como a abertura de sambas temáticos e até mesmo convites de peso, como o show de Zeca Pagodinho, que ela não pôde atender devido à agenda cheia. “Foi uma honra receber esse convite. Isso mostra que as mulheres DJs estão ganhando espaço, mesmo em um ambiente majoritariamente masculino”, afirmou.

Jack também aponta os desafios que as mulheres enfrentam no samba, assim como nas discotecagens. “Ainda há uma expectativa de que esses espaços sejam ocupados por homens. Muitas vezes, precisamos provar nossa competência em dobro. Mas cada vez que uma mulher está lá, ela serve de inspiração para outras. É assim que vamos quebrar barreiras”, declarou a DJ.

Para Jack, o reconhecimento das mulheres no samba é um passo importante para corrigir invisibilidades históricas. “O samba brasileiro foi construído por mulheres, mas elas foram apagadas da história. Nosso trabalho hoje é abrir caminhos não só para nós mesmas, mas para as próximas gerações”, acrescentou. 

Resistência

A cantora popular Rafaela Travassos comemora 12 anos de carreira dedicados ao samba, influenciada pela música presente em sua família. “Desde criança, a música em geral sempre conviveu muito forte em nosso lar, pelo fato de ter meu pai e alguns tios meus vivendo da noite como músicos”, disse.

Rafaela destaca a força do samba no Pará, especialmente devido a mulheres como Creuza Gomes, Olívia Melo e Mariza Black, que abriram caminho. “Meu papel sempre foi levantar a bandeira do samba e abrir espaço para as manas que estão começando,” afirmou.

image Em abril de 2023, Rafaela viveu um momento marcante ao cantar na quadra do Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro (Arquivo pessoal)

Ela também compartilhou os desafios enfrentados: “Fui criada rodeada de machismo e escutava várias 'piadinhas' que achava normais. Hoje, não tolero qualquer tipo de brincadeira que ofenda minha comunidade”.

Em abril de 2023, Rafaela viveu um momento marcante ao cantar na quadra do Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro. “Esse momento foi único e é o sonho de qualquer sambista”, relembrou.

Saiba onde comemorar a data

Ainda na segunda-feira, 2, o samba ganha uma celebração especial no Pará com o show solidário “Boteco Beneficente”, liderado pela cantora Mariza Black. A apresentação ocorre no Teatro Municipal de Ananindeua, às 20h, e contará com participações de nomes como Cris Matos, Olivia Melo, Rafaela Travassos, Marta Mariana, Carlinhos Macarrão, Évila Moreira, Aracely Miranda e Flávio Portela.

Em sua 14ª edição, o Boteco Beneficente arrecada fundos para o Instituto Áster, que presta assistência a crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer. O ingresso custa R$ 10, mais um quilo de alimento não perecível, e pode ser adquirido pelo Sympla ou na bilheteria do teatro. O alimento deverá ser levado no dia do espetáculo.

Além disso, as comemorações seguem no sábado, 7, com a festa de aniversário de quatro anos do Samba Batuque da Feira do Açaí, na Praça Visconde do Rio Branco, às 20h. O evento, gratuito, terá shows de Marta Mariana, DJ Izan, Odará Axé e Rally do Samba.

AGENDE-SE

Boteco Beneficente de Mariza Black e convidados

  • Data: segunda-feira, 2 de dezembro;
  • Horário: às 20h.
  • Local: Teatro Municipal de Ananindeua;
  • Ingressos: R$ 10 + 1kg de alimento não perecível. Os ingressos podem ser adquiridos no site Sympla e na bilheteria do teatro.

Quatros anos de Samba Batuque da Feira do Açaí

  • Data: sábado, 7 de dezembro;
  • Horário:  às 20h;
  • Local: Praça Visconde do Rio Branco, em frente à Igreja das Mercês, no Comércio, em Belém;
  • Entrada gratuita.

 

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