Ney Latorraca: talento levou personagens inesquecíveis ao teatro e TV
Ator e diretor morreu no Rio de Janeiro, aos 80 anos de idade, em função de agravamento de câncer de próstata. Faleceu em decorrência de uma sepse pulmonar.
O ator e diretor paulista Ney Latorraca, que morreu no Rio de Janeiro na manhã desta quinta-feira, dia 26, em função de agravamento de um câncer de próstata (em decorrência de uma sepse pulmonar), notabilizou-se ao longo de sua carreira interpretando personagens inesquecíveis e que traduzem muito do talento e personalidade desse artista. É o caso do vampiro Vlad, da novela "Vamp" (1991), e de "Barbosa", do programa "TV Pirata", ambos exibidos na TV Globo.
Ney estreou na Globo em 1975 na novela “Escalada”. Ele se destacou em novelas e programas humorísticos, como Quequé, em "Rabo de saia" (1984). Ao Memória Globo, Ney Latorraca deu um depoimento marcante: "Ator já nasce ator. Aprendi desde pequeno que precisava representar para sobreviver. Sempre fui uma criança diferente das outras: às vezes, eu tinha que dormir cedo porque não havia o que comer em casa. Então, até hoje, para mim, estou no lucro".
O artista estava internado desde o último dia 20 na Clínioca São Vicente, na Gávea. O câncer foi diagnosticado em 2019, e, Ney foi operado e retirou a próstata. No entanto, a doença voltou em agosto deste ano, já com metástase. Ney Latorraca deixa o marido, o ator Edi Botelho, com quem era casado há 30 anos. O local e horário do velório ainda não foram definidos.
Uma carreira e tanto
Ney Latorraca nasceu em 25 de julho de 1944, em Santos (SP). Ele era filho de artistas: o pai, Alfredo, era cantor e crooner de boates, e a mãe, Tomaza, corista. Quando criança, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas, depois, retornou a Santos e prestou exame no Instituto de Educação Canadá, escola onde formou, com um grupo de amigos que lá estudavam, a banda Eldorado.
Em seguida, já em São Paulo, Ney participou da peça "Reportagem de um tempo mau", com direção de Plínio Marcos, no Teatro Arena. O trabalho não chegou a entrar em cartaz por ter sido censurado pelo governo militar. Alguns atores da peça foram, inclusive, presos.
Assumiu a função de líder e cantor do grupo. A estreia de Ney Latorraca no teatro se deu em 1964, em uma peça de escola chamada "Pluft, o fantasminha". Ele tinha, naquela época, 19 anos. O sucesso fez com que a peça ganhasse fama fora dos muros do Instituto de Educação Canadá. Sobre a ocasião, Ney chegou a dizer: "Fiquei completamente arrasado, queria me matar. Voltei para Santos". Em sua cidade natal, Ney ele estudou na Escola de Arte Dramática, atuou em algumas peças locais e, no ano de 1969, finalmente estreou na televisão em "Super plá", na TV Tupi, e no cinema em "Audácia, a fúria dos trópicos".
Na sequência, trabalhou na TV Cultura e na TV Record, antes de estrear de vez na Rede Globo em 1975, na novela "Escalada", de Lauro César Muniz. No elenco estavam Tarcísio Meira e Susana Vieira. Com a atriz Vera Fischer, Ney Latorraca interpretou uma cena de estupro em "Coração alado" (1980), a primeira em uma novela das oito. No folhetim, dividiu as atenções com atores como Tarcísio Meira, Débora Duarte e Walmor Chagas.
Versátil
Em 1990, Ney trabalhou no SBT na novela "Brasileiras e brasileiros". No ano seguinte, voltou para a TV Globo e viveu um de seus personagens mais famosos: Vlad, na novela "Vamp" (1991).
Outras atuações marcantes de Latorraca foram a de Barbosa, em "TV Pirata" (1988); do italiano Ernesto Gattai na minissérie "Anarquistas, graças a Deus" (1984) e do travesti Anabela em "Um sonho a mais" (1985). Na trama, aliás, fez seis papéis.
"Pensei que fosse enlouquecer. Virei o versátil da Globo. Com essa história de versátil é que dancei mesmo. Comecei a fazer de tudo: sapatear, plantar bananeira, subir, descer, fazer árvore, jacaré, vampiro. Mas é bom ser versátil. Você não fica carimbado”, afirmou.
O ator também é lembrado por seu papel na novela "Estúpido cupido", exibida entre 1976 e 1977. Ele viveu Mederiquis, fã de Elvis Presley e líder da banda de rock Personélitis Bóis. A princípio, ele não queria o papel. "Eu estava com 33 anos e interpretava um cara de 17. Queria abandonar, não ia mais fazer. Me botaram de peruca, todo maquiado. Quando me vi caracterizado como o personagem, falei: ‘Estou parecendo um macaco’. Falei que ficava com uma condição: ‘Quero escolher meu figurino’. Me vesti todo de preto, sem maquiagem alguma, e pedi uma lambreta preta. Batizei-a de Brigite", contou. "Virou um grande sucesso, estourou mesmo. Fizeram história em quadrinhos, chiclete, figurinha – e eu era uma das figurinhas mais difíceis".
Atuações
Entre seus vários trabalhos para a Rede Globo, Ney Latorraca atuou em 18 novelas, seis minisséries e oito seriados. Tem ainda em seu currículo 23 longa-metragens e 13 peças. Sua última participação na Rede Globo foi no seriado "A Grande Família", em 2011.
Ao lado de Marco Nanini, ficou 11 anos em cartaz com a peça "O Mistério da Irma Vap", dirigida por Marília Pêra. (Com informações do G1)
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA