Nas telonas e telinhas, ator Adanilo é destaque em projetos audiovisuais pelo Brasil
O artista está com quatro projetos disponíveis no cinema e streamings, e se prepara para lançamento internacional. Confira a entrevista exclusiva.
Tem Adanilo espalhado pelo Brasil! Pode parecer exagero, mas não é! O indígena, manauara, ator, dramaturgo e diretor de cinema e teatro, pode ser visto em quatro trabalhos inéditos: na segunda temporada das séries ‘Cidade Invisível’ e ‘Dom', e nos filmes, ‘Noites Alienígenas’ e ‘O Rio do Desejo’.
A mãe de Adanilo, saiu de Santarém na década de 80. Ele é nortista, nascido e criado no bairro da Compensa, na periferia de Manaus. O ator tem se destacado no cenário audiovisual brasileiro. Os seus personagens são indígenas e evidenciam a importância da representatividade artística.
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No currículo, Adanilo soma também interpretações nos longas: ‘Marighella’, ‘Eureka’, ‘Oeste Outra Vez’ e ‘Ricos de Amor 2’; e nas séries: ‘Segunda Chamada’ e ‘Um Dia Qualquer’.
Veja o bate papo exclusivo com Adanilo:
Vocês está com quatro produções inéditas (Noites Alienígenas, Cidade Invisível, Dom e O Rio do Desejo) e disponíveis, como tem sido te ver em tantos projetos simultâneos?
A: A coisa que eu mais tenho gostado desses trabalhos é poder falar sobre a Amazônia, nos quatro um dos temas centrais é esse. Retratar a nossa região de diversas maneiras e em distintas realidades, acho que isso me interessa bastante. Tanto em ‘Cidade Invisível’, com a mística, tem também a época da ditadura militar, na segunda temporada de Dom, aí a gente tem uma coisa mais contemporânea em ‘Noites Alienígenas’, que já vai falar sobre a chegada das facções nas capitais da Amazônia, e por último o ‘Rio do Desejo’, que já é uma relação muito mais interiorana do Amazonas e fala sobre relações afetivas. São quatro realidades da Amazônia e acho muito legal isso, a gente enquanto pessoas da Amazônia, quanto indígenas, poder falar dessas realidades, de estar ali se auto representando um pouco, é uma das coisas mais importantes.
Você tem feito bastante papéis como indígena, como tem sido falar com a voz do seu povo e interpretando o que você já conhece?
A: Sou um indígena em processo de retomada, a partir de 2015 passo a me reconhecer como indígena. Vou em busca das minhas origens e começo a conhecer mais da minha história, entender de onde vem minha família e a partir de então a minha lógica artística mudou, passei a me colocar como tal e a ser lido como tal. Em 2019, com o ‘Noites Alienígenas’ foi uma espécie de confirmação dessa minha busca de identidade espiritual indígena, porque foi o primeiro papel com o personagem tratando de questões indígenas com temáticas indígenas, acho que isso me estimulou bastante também a entender que era esse o caminho, que represento essas pessoas, que mesmo indígenas não se reconhecem. É preciso haver um entendimento novo sobre a complexidade, sobre a diversidade dos povos originários e eu me sinto fazendo parte desses movimentos. Isso se tornou pra mim uma das coisas mais, a busca por essa minha ancestralidade e tentar me reconhecer no povo ao qual pertenço. Artisticamente vejo que posso usar isso como ferramenta, para retratar meu povo, minha raça e as pessoas do bairro de onde eu venho.
A gente sempre questiona sobre o olhar do resto do Brasil para o Norte, sem estereotipar personagens e dando a oportunidade ao povo nortista. Como você vê esse processo nas artes?
A: Estamos vivendo um momento novo sobre entendimento do que é ser indígena, do Norte, ser da Amazônia. Já não vão resistir mais produções que falem da gente sem que a gente esteja lá, nossos corpos já estão demarcando esse território e desde antes de mim. Só que agora a pressão é um pouco maior pelo menos no que diz respeito a obras de arte, é um momento das autobiografias, a gente quer saber da identidade de cada um. Não digo que pessoas de fora não possam vir a contribuir e ajudar a sua visão sobre a Amazônia, porque acho que a Amazônia é uma coisa muito maior do que do que os povos que existem nela, entendendo que os povos que vivem nela são os que a fazem desde sempre, a gente tem de maneira geral um amor maior por tudo isso. Querendo ou não somos os mais indicados a contar essa história, mas não é nenhum problema quem queira falar, quem queira somar, eu acho que aliados, aliadas e aliades são sempre bem-vindos. ‘Pro Brasil o Norte é invisível. Passeio pra gringo. Parquinho pro crime’, essa é uma frase do cantor Victor Xamã, um rapper manauara, que define bem o que significa a nossa relação com o restante do país.
Você tem personagens simultâneos em séries e filmes, o que podemos esperar de projetos ainda para este ano?
A: Estou gravando a série ‘Um Dia Qualquer’, a segunda temporada, é uma série dirigida pelo Pedro von Krüger e produzida por Denis Feijão, passando e filmado aqui no Rio de Janeiro, sobre a criminalidade e disputa de territórios entre grupos armados. É bom estar de volta, morei aqui cinco anos, tem sido interessante. Estamos aguardando o ‘Eureka’, um filme internacional que eu fiz, com o diretor argentino Lisandro Alonso, que tem uma linguagem cinematográfica muito bem investigada, com cinema profundo. Além de mim, tem o Viggo Mortensen, um cara que fez ‘Senhor dos Anéis’, muito conhecido do público de Hollywood. Tem também ‘Ricos de Amor 2’, uma comédia romântica, meu personagem vive um casal com a personagem de Giovanna Lancellotti. Esse ano eu estreio como diretor, em um curta metragem chamado ‘Castanho’, vamos começar a inscrevê-lo em festivais. Ainda gravo um filme e uma série, que precisa ser mantida em segredo.
As quatro produções que estão disponíveis falam de um Brasil no Norte, com lendas, água doce e outras características bem marcantes da Amazônia. Como foram as gravações nessa terra?
A: As gravações na Amazônia são sempre muito incríveis, é o meu lugar favorito, só me dei conta disso depois que morei fora. Claro que estamos sempre viajando por conta dos trabalhos. Em 2020, voltei a viver em Manaus e do Amazonas não saio. É onde está minha família, meus amigos, os assuntos que eu quero tratar, as pessoas que quero conhecer, os lugares que quero visitar. A minha família é de Santarém, no Pará, estou indo para lá no final de maio, conhecer essa parte da família por parte de mãe, entender de onde vem a minha origem indígena. Estou indo nessa busca, inclusive de reencontrá-los porque não os conheço pessoalmente ainda.
Você tem desejo de fazer novela? Quais seus sonhos para a carreira artística?
A: Quando uma pessoa declaradamente indígena protagonizar uma novela das interpretando alguém que não esteja diretamente ligada a assuntos indígena, ela é simplesmente uma pessoa indígena vivendo como outra qualquer em qualquer espaço tempo, digo isso, não minimizando todas as questões indígenas, mas as pessoas estão sempre querendo nos enquadrar em alguma coisa, que a gente faça o mesmo tipo de história, com grafismo no corpo, querem sempre uma imagem do indígena que é muito forte, é real, ela existe, a coisa mais linda do mundo são os povos indígenas e suas culturas, mas a gente está inserido em vários contextos, e se entendermos isso, talvez a gente comece a valorizar o que é mais sagrado: as tradições, o contato mais genuíno e forte da gente com a natureza.
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